terça-feira, maio 31, 2005

A NOSSA FALA VI - CADAMONTRE

CADAMONTRE é uma variante de CADAMONHO ou CADAMONHE.
Em português nacional: “Que Demónio”.
Nós por cá, também usamos “CADIABO”.
Mas, já não usamos “camafarrico”, “cabelzebu” ou “casatanás”.
Exprime espanto, surpresa.
Sinónimo de Karraio.

Há 40 anos que Ti João da Junta não ia a Lisboa. Em 1955, andava ele na tropa, fora destacado para ir buscar um condenado a cumprir pena disciplinar em Penamacor.
“Um cabrão de um comunista”, ouvira ele dizer ao capitão Martins.
Nos 3 dias que passou na capital da Nação embasbacou-se com o Mosteiro dos Jerónimos: “os pedreiros que fizeram isto eram artistas dos bons, eram sim senhor”;
admirou longamente a estátua de D. José: “é um belo animal, é poi!, é um belo animal”;
espantou-se com a noite alfacinha: “Lisboa é muit’alumiada, catano”;
estranhou, enfim, que quase ninguém respondesse à salvação: “malcriadagem dum corno”.
Os camaradas de armas entenderam testar a sua apregoada fidelidade à futura patroa, Maria dos Anjos. Na noite anterior ao regresso, levaram-no a um sítio chamado Intendente, fizeram-no entrar numa casa, depois num quarto pouco iluminado.Eis que lhe surge uma senhora de peito farto e cheiro a rosas que em vez de responder à salvação, começou a despir-se.
- CADAMONTRE?!
Sem querer, João da Junta lembrou-se da “primavera”, a vaca que fazia parelha com o “roliço” na junta que tinha lá na terra. Sem outra reacção do que a natural num macho como ele, deixou-se afundar no desejo.

Levavam-no agora de volta a Lisboa, ao casamento da neta.
- Moça muito bela, e já está formada em dótora de Letras - exibia ele sempre que o assunto era netos.
Dois dias antes da boda, e tendo finalmente aderido à ideia que a patroa lhe andava a impingir há 1 mês, disse à neta noiva:
- Ó rapariga, anda lá quê quero-te mercar umaiarca figorífa.
Escolhido o electrodoméstico no grande hipermercado, a menina da caixa, que tinha um brocho de cabeça arredondada espetado no nariz respondeu com um sorriso à salvação:
- Bom dia, são 399 euros e 99 cêntimos, por favor.
- O quêi! Inda mai os 99? ó cachopa tem de fazer um correntezinho. Atão no podia trér os 99?
Conformado que a técnica do regateio não funciona em Lisboa como no mercado da aldeia, João da Junta lá sacou, cerimonioso, do molho de notas de 5 euros que tinha cuidadosamente atado com um elástico ainda na aldeia, cuspiu duas vezes no indicador e no polegar da mão direita, esfregou a primeira nota três vezes e colocou-a à frente da menina:
- Primêra.
Repete a cuspidela dupla nos dedos e a esfregadela tripla na nota e,
- Sgunda.
A contagem prosseguiu com uma cadência de 10 segundos entre cada nota, cumprido o procedimento:
- E vão três. E quatro. E cinco…
À décima terceira nota, a neta noiva passou discretamente para o lado de fora, enquanto a fila começava a protestar. Foita, a cliente seguinte, ensaia o gesto de agarrar no dinheiro:
- Ó senhor, deixe lá ver que eu conto-lhe isso num instante.
O Ti João da Junta agarrou vigorosamente no molho das notas e com voz agressiva pôs a atrevida na linha:
- CADAMONTRE! Esteja lá quedinha ó…Atão mas KARRAIO?!

segunda-feira, maio 30, 2005

A volta que os da Volta levaram

Segundo o reconquista, a volta iniciará uma etapa em Penamacor, em 8 de Agosto.
Boa!
Em vez dos 60 mil euros pedidos pela organização, a Câmara vai pagar apenas 12.500 euros.
Fantástico!
47.500 euros a menos.
Bons negociadores que nós temos na Câmara.
Maus negociadores que eles têm na organização.
47.500 euros..., sim senhor....quem sabe, sabe...47.500...Mais de 9.500 contos...a volta que os gajos da Volta levaram...assim está bem...

quarta-feira, maio 25, 2005

A NOSSA FALA V - CHANGOTO

Há coisas que sempre me incomodaram, mas este incómodo leva-me sempre a um desafio. Se o outro consegue ter piada quando diz, porque é que eu não poderei dizer as coisas com piada. Até me lembro dos tempos em que estudava latim e mais grego e outras cangalhadas que tais, em que se contava que o professor Abílio Bonito Alves Perfeito (vejam só a beleza deste nome!) invocava que era imperioso que os acentos do português fossem o mais possível recessivos e que a acentuação haveria de recair, sempre que possível na sílaba proparoxítona (esdrúxula, para quem não domina estas coisas). Vai daí exemplifica: não é democracia mas democrácia, não é garrafa mas gárrafa, não é livraria mas livrária, não é exponencial, mas exponêncial, etc. .Quem não gostou do assunto foi o Carrilho, (não o Manuel Maria, pai do Dinis e marido em segunda mão duma tal Bárbara) mas um artista que só tinha positiva a desenho e negativa a tudo o mais. Solta esta :"Ó senhor Prófessor essa aí tem cárradas de píada."
Vem isto a propósito ainda de um professor lá da minha aldeola que era conhecido por varadas, já que usava como argumento pedagógico uma vara que mais parecia um varal de "burra"(picota) de tirar água com a qual chegava a roupa ao pêlo a todos os alunos que do seu ponto de vista não soubessem o que era de saber ou cujo comportamento não encaixasse na bitola que ele entendia e que variava dia a dia conforme se zangasse ou não com a mestra sua mulher que em tempos com a régua partira os dentes a uma aluna que se riu quando não era para rir... Outros tempos em que educação era sinónimo de instrução...
Mas afinal o que eu queria aqui trazer era razão do CHANGOTO, que é assim uma espécie de pau mal azado que normalmente "cai nos cornos" de quem não nos é benquisto.
Aconteceu-me a mim: fui cagar à ribeira que naquele tempo já corria pouco e pus os pés em dois calhaus por forma a que o cagalhoto caísse directamente na água e fosse alimentar os bordalos por aí além. Era um prazer indescritível a gente ver a nossa produção interna passar primeiro por debaixo de nós e logo depois vê-la flutuando a boiar no cimo da água semeando fertilizantes pelo caminho. Aquilo sim era o aproveitamento integral da matéria prima!
Estava eu todo entretido neste prazer incontido de arrear o calhau quando, à minha frente, da curva da ribeira, surge a velha Borla que grita: AH, cabrão, vieste-me a espreitar? Espera aí que levas com este CHANGOTO nos cornos!
É claro que ficou o cu por limpar à cunca da telha e "Ó abre!" dei à sola pela ribeira acima até às poldras do Chocalheiro, ali pertinho do lagar. Dei comigo a barafustar: Ora a puta da velha ! inda se ao menos lhe tivesse visto a peida!, mas nem isso. O pior é que ela tem uma língua como um braço e se me conhecesse daí a pouco passava a notícia à Fécula e à Faca não tardava nada estava na boca da tia Manhosa do rabanadas e bumba era o alvoroço total na aldeia com a Bandeira de Guerra a contar à filha Rita do Azedo e à figueira brava do Parrachinho e todo o cavacal sabia e não tardava passava ao Oiteiro e até à Lagariça que a do papa arroz quando é de espalhar semente até parece que anda como vela em dia de vento.
Como diria o meu amigo Toscano:"pata que o pôs"!
Porra! que me safei do CHANGOTO.

Passamos a levar com o Changoto

O Baságueda passa a levar com o Changoto, companheiro de história, e de histórias. Há-de aparecer ali ao lado. Para já, segue post primeiro.

sábado, maio 21, 2005

Ensaio sobre a lucidez

1. Parece que Domingos Torrão, ex presidente da concelhia do PS/Penamacor, Vice-Presidente da CMP durante quase dois mandatos, eleito pelo PS, Presidente da Câmara, independente, eleito com o apoio do PSD, vai voltar a candidatar-se pelo PS, nas próximas Autárquicas.

2. No Correio da Manha (sem til) vem hoje uma sondagem que conclui que mais de 60% dos portugueses não confiam nos políticos.

Não consigo deixar de estabalecer uma relação entre as sinuosidades políticas como a de Domingos Torrão e a descrença na classe política que o estudo do CM reflecte.

Sabem o que é que me apetecia? Ser lúcido. À Saramago. E convencer a maioria dos eleitores de Penamacor a votar também em branco. Não tenho a certeza se se ganharia alguma coisa, mas dava-se uma exemplar imagem de lucidez aos políticos de Portugal e do mundo que contribuem para aquela desconfiança.

Já estava a ver as parangonas nos jornais e revistas e aberturas de telejornal.

quarta-feira, maio 18, 2005

A NOSSA FALA IV - Q'ASSNÃO

Q’ASSNÃO pressupõe sempre uma proposta ou resposta afirmativa.
Q’ASSNÃO não admite alternativa.
Q’ASSNÃO pede o SIM, senão…

Isabel Maria, 6 anos, é filha de Belmiro e de Maria Isabel. O progenitor é muito amigo do banco do adro mas pouco amigo do banco da igreja. A progenitora decidira, há 2 anos atrás, ir à Matriz apenas em ocasiões especiais, vingando-se assim do povo que fez circular a falsidade de que ela, de longe a melhor fadista do povoado, entrava sempre fora de tempo nas cantigas eucarísticas.
De maneiras que a pequena Isabel Maria estava condenada a morrer à fome na fé da Igreja Católica Apostólica Romana. Salvava-a a tia paterna Maria Anunciação. Seca no trato e de carnes, Maria Anunciação ainda não tinha conhecido varão em nenhum dos seus 43 anos. Fervorosa devota de Nossa Senhora da Póvoa, da velha e da nova, ela insistia em fazer-se acompanhar da pequena Isabel Maria, na Eucaristia dominical, apesar das vergonhas por que já tivera de passar.
Isabel Maria achava divertido esconder-se na cabine confessional e cuspir através dos buraquinhos da lata por onde os pecadores relatavam as maldades que tinham feito. Também não desdenhava ir molhar as mãos na água benta e sacudi-las de seguida para cima das vizinhas de banco. Houve até uma vez que, tendo insistido por 3 vezes e por 3 vezes lhe ter sido negada autorização para verter aguinhas, ali mesmo baixou a cuequinha rosa com motivos Pokemon e fez um pequeno lapatchêro no mosaico bordeaux.
- Está quedinha Q’ASSNÃO apanhas – ameaçava-a a tia, com uma certa regularidade.
Naquele domingo, chamou a atenção de Isabel Maria a fila de gente a quem o celebrante entregava, na mão ou na boca, uma espécie de moeda alva. Aproximou-se curiosa, ficou atentamente a observar a cena até que decidiu puxar vigorosamente o paramento rendilhado do celebrante e exigiu:
- Eu também quero. Dá-me uma.
A tia Anunciação petrificou, a Ti Lurdes, que já tinha a boca aberta e a língua esticada para nela ser depositado o pão ázimo, esqueceu-se de a recolher, o povo católico presente ficou suspenso. O Senhor Prior, virou-se para a pequena e falou-lhe, bonacheirão:
- Não te posso dar minha filha. Tu ainda és muito pequenina para receberes o Senhor.
- No sei cá delas, eu também quero. Dá-me uma.
- Já disse que não posso dar-te a hóstia sagrada minha filhinha. Olha, depois de fazeres a escola de Jesus, e se te portares bem, já te posso dar…
- Dá-me uma Q’ASSNÃO nunca mai cá venho.

terça-feira, maio 17, 2005

Brasão dos Xendros

Por cortesia de 2 comentadores, a quem agradeço a gentileza, fui encaminhado para alguns links interessantes.

O primeiro fornece informações sobre a freguesia do Vale e da Sinhora da Póva, aqui .

O segundo encaminha para este site.

Presumindo autorização tácita, reproduzo o comentário deste último:
"existe algum estandarte igual ao mencionado no link acima? e de onde raio aparece a felosa? e ja agora sabe V Exª quem teve intervenção na elaboraçao deste brasão?Obrigado"

O Brasão e Bandeira de Aldeia do Bispo são efectivamente os que são mostrados no site e que, conforme indicado, foi objecto de publicação no Diário da República, III série, de 30/07/2002. O processo que conduziu à sua aprovação foi iniciado, creio, em 1998/99, pela Junta de Freguesia da altura. Tratando-se de um processo moroso que passa, entre outras, pelas fases de apreciação e parecer da Comissão de Heráldica e depois pela sua "ratificação" em Assembleia de Freguesia, compreende-se que só em Julho de 2002 é que venha a ser publicado. Considerando a necessidade do parecer prévio da Comissão de Heráldica, que procede a um aturado estudo da adequação, significado e exclusividade das cores e simbolos propostos, deduz-se que todos os brasões ou estandartes são exclusivos, isto é, não existe nenhum igual. A felosa aparece por referência à designação por que são conhecidos os naturais de Aldeia do Bispo: Xendros, presumivelmente um passarinho, presumivelmente uma felosa.

segunda-feira, maio 16, 2005

Sinhora da Póva

Massagens nos pés, meias ajustadinhas e de boa qualidade, ténis confortáveis, fato de treino, boné, guarda chuva, capa de chuva, mochila com água, lencinhos de papel, bolachinhas...está tudo? Ah! falta o pau, onde é que eu pus o pau?

A caminho da serra d'Opa, cantando:

Nossa Sinhora da Póva
Viv'á velha, viv'á nova
...

quarta-feira, maio 11, 2005

A NOSSA FALA III - MAINADA!

MAINADA, ou seja mais nada, isto é, não há mais nada a acrescentar, que é como quem diz, está tudo dito, porque se algo for adicionado, será necessariamente supérfluo.

1. Numa tertúlia de adro, quase a bater as 3 da manhã, discute-se a problemática do próximo Benfica/Sporting. Um, que os lampiões não andam a jogar um caralho, são uns toscos a jogar à bola, o Trapatoni é um tosco, não merecem ganhar o campeonato e que os de Alvalade é que sim porque sim, o Sporting tem um plantel de luxo, o Liedson é uma máquina, outro, mas o que é que tu tens, alguma vez o Liedson se compara ao Simão, o Benfica é que sim porque sim, o primeiro, estás aí com merdas mas nós é que estamos na UEFA e vamos ganhar aquela merda, o segundo, tu vais ganhar é piças, tu és é parvo, não percebes nada de futebol, o Benfica tem tido azar é com as lesões, e já para já, se o Benfica não joga nada como é que ia em primeiro? Hã! Vá, diz lá. E o outro, porque vós tendeis comprado os árbitros todos olha o caralho! Eh! Pá! Foda-se, não me venhas com essa ó caralho, tu pensas que nós somos o Porto ou quê? Pois foi, olha, ganhaste ao Belenenses como? Hã? com um penalti inventado, caralho, foi ou não foi? Mas qual inventado ó caralho. Se calhar vocês nunca beneficiaram de um penalti? Foda-se! Tu és fodido! És mesmo lagarto ó caralho. Canta agora, quando fores à Luz já as papas. Quê? Queres apostar em como vamos ganhar à Luz? Vai já uma apostinha ó caralho. A quê? Pá! A um jantar. Vai! Tá apostado caralho. Ó Artur, parte aqui.
O Artur costuma ficar calado nestes debates sobre a arte de jogar à bola. Não aprecia futebol por aí além. É daqueles mocinhos bem parecidos, com algum sucesso junto das meninas, de óculos arredondados, que habitualmente se destaca pela sua postura educada e discreta. Mas não perde uma noitada de copos e acompanha bem nas cervejas dos companheiros de tertúlia. Todavia, ao assunto bola, e não estando as gajas na ordem do dia, prefere meditar sobre os problemas do mundo, gosta de ler livros difíceis, de física e de filosofia, e até já tem feito umas pesquisas na net sobre DaVinci, Einstein, Marx, Niztche.
Em vez de partir a aposta, olhou para as mãos entrelaçadas dos seus amigos, esticou as pernas, recostou-se lentamente para trás e proferiu com voz bem colocada: " a exterioridade da interioridade é indissociável da interioridade da exterioridade".
No outro banco, o Luís, que se também se mantivera mudo, não conseguiu evitar um… "MAINADA!"

2. Zé “Repolho”, rapaz folião, amante de moto4 (e de gajas, apesar de elas, ao que parece, não deixarem que ele seja muito amante), já ia na nona mine preta. Rudolfo “Nalgudo”, jovem orgulhoso da mosca que exibe há 3 meses, já vai na nona mine branca. À semelhança do que acontecera por alturas da quinta mine, ambos se vão esconder na penumbra da ruela para a mijinha da ordem. A meio da dita, o primeiro solta ruidosamente um flátulo, algo musicado. O segundo só conseguiu articular:
"MAINADA!".

sábado, maio 07, 2005

A DUVIDA DA CERTEZA OU VICE VERSA

A crónica semanal " Os Peixes Voadores" que Artur Portela publica no Jornal do Fundão, sempre na página 4, é imperdível.
Um cheirinho da última:

“A Dúvida virou-se para a Certeza e perguntou-lhe se podia falar. Respondeu-lhe imediatamente a Certeza que, ora essa!, claro que a Dúvida podia falar. (…)
Ia a Dúvida a falar, disse-lhe a Certeza: um momento! Um momento… Poderia a Dúvida falar(…) preenchidas que estivessem 3 condições.
Primeira condição: a de que a Dúvida estivesse certa de que tinha algo a dizer. Segunda condição: a de que a Dúvida tivesse a certeza de que não tinha dúvidas sobre o que tinha a dizer. E terceira condição: a de que a Dúvida tivesse a certeza de que não tinha dúvidas sobre se podia ou não podia falar. (…)”

Do ponto de vista meramente literário, opinião minha, é uma delícia. Esta e outras podem ser lidas aqui .

sexta-feira, maio 06, 2005

Puto xarila

Não é defeito, é feitio, aquilo que o Luís Canêz fez na Assembleia Municipal. É uma postura já conhecida. O rapaz adoptou, há muito, uma forma de fazer política que assenta essencialmente numa espécie de fundamentalismo bacoco em que vale tudo para chatear quem não está, circunstancialmente, do lado dele. Digo bem: circunstancialmente, porque o rapaz mostrou a mesma “garra” quando era do PS. Já nesse tempo defendia que em política não há amigos.

A democracia tem de ser defendida destes atentados. A actividade política em democracia tem de ser exercida por referência à deontologia, ao bom senso, à boa educação, ao respeito pela opinião diferente, à integração da crítica, à coerência…

Muito bem esteve o Sr Manel “Flor”, respeitável Presidente da Junta de Aranhas que, naquela serenidade que o caracteriza, lembrou ao mujahedin Canêz: “ o senhor é muito novo para se meter comigo”. Brilhante! Superior!

Pena é que o pedido de desculpas públicas que teve de fazer não signifique necessariamente uma mudança de feitio.

À primeira vista, estes episódios "animam" a assembleia. Mas não animam o concelho, não traduzem nenhuma ideia ou proposta para Penamacor.

Este tipo de atitudes têm algum objectivo? Excluindo a hipótese (absurda) de representar algum contributo para o concelho, parece mais plausível a de que o Canez só quer mostrar ao poder instalado que ele é um bom elemento para integrar a próxima lista. Método e objectivo muito primários, diga-se.

domingo, maio 01, 2005

A NOSSA FALA II - LAPATCHÊRO

KARRAIO foi “A Nossa Fala I”
LAPATCHÊRO leva o nº II. A prosseguir.

Nome dado a um pequeno charco de água que se encontra no caminho, deixado pela chuva recente.

Lapatchêro distingue-se de lapaxeiro ou de lapacheiro, desde logo porque o termo original é utilizado pelos verdadeiros baságuedos. Os outros, são (mal) usados pelos outros (baságuedos falsos ou não baságuedos).

Para além disso, lapaxeiro e lapacheiro têm um som amaricado. Lapatchêro, ao invés, soa bem, viril, autêntico.

Não consta no dicionário, em nenhum dos grafismos. Trata-se de uma falha gravíssima, a reportar urgentemente à Faculdade de Letras. É que estamos a falar do termo mais adequado para a designação do tal pequeno charco de água. Podemos chamar-lhe charco, poça ou outra coisa mas, não conheço nenhuma palavra tão potente como esta.

Vai o Ti Xico Malhado pelo caminho fora, a pensar na vida:
"raisparta que não há maneira de chover comédado, as pinguitas que caíram ontem deram um jeitito mas não basta, os borregos levam tudo rapadinho. Hum! O raio do rouxinol não se cala ali no freixo da ribeira, que bem que canta o cabrão do rouxinol, como o rouxinol ninguém canta, não senhor. E de noite? Toda a santa noite a cantar, o filha da puta do rouxinol, olha! anda ali um espadatchinho, passarinho pequeno mas rabina, ai o filha da puta do espadatchinho não pára quieto. Ah! Olha o cuco, dá cá o cu, dá cá o cu, queres cu cabrão? Filha da puta do cuco, nem artes tem para fazer o ninho, tem que pôr os ovos nos ninhos dos outros, o cabrão, e ainda por cima quer cu. Vai lá meter-te com o picanço que ele logo te canta o fado, levas umas bicadas que te tchapas. Eh lá! 3 aviões ali no céu, que fumeirada que eles deitam…porra! Já caguei as botas todas no cabrão do lapatchêro. Filha da puta do lapatchêro, uma pessoa não pode distrair-se a ver os aviões, agora vou ouvir a patroa…olha para esta merda…

Não consigo imaginar o Ti Xico a pensar “filha da puta do lapaxeiro”… Não soa bem, não lhe ficava bem, ao Ti Xico Malhado.

Nem em Lisboa soaria bem:
O Tó e a Ana são estudantes, ele de direito ela de geografia, ele natural do Alentejo, ela baságueda da Bemposta. Caminham, com fome de almoço, em direcção à cantina nova porque ela deu em macrobiótica. O atalho, em terra batida, é mais rápido e sempre se vêem umas flores primaveris. Ele, apaixonado e ternurento, insiste na brincadeira de fazer cócegas com beijos no pescoço da Ana. De repente, ela grita: “cuidado! Olha o lapaxeiro!”
Que mau aspecto! Ó Ana, és da Bemposta, não és de Lisboa, catano!
Não tenhas medo de dizer LAPATCHÊRO, é isso que te distingue.