terça-feira, agosto 19, 2014

A NOSSA FALADURA - CCXXVII - ESPAPADA

Já muita vez aqui no basa fizemos referência à chamada "lei do menor esforço" no que concerne à linguagem popular e à sua, em tempos!, decisiva contribuição para o aumento do vocabulário português. A palavra que hoje vos trago beneficia exactamente dessa lei: espapada é uma deturpação fonética de sopapada. Experimentai vós mesmos a dizer cada uma das palavras e depressa notareis que espapada é muito mais fácil e até bonito de dizer do que sopapada.
Joaquim Rebelo era mecânico na firma Petronilho. Era homem para perto de 2 metros de altura, espadaúdo quanto baste, pachorrento, calmo, muito ponderado. Era senhor de uma força hercúlea: chegou a levantar uma carrinha de caixa aberta enquanto Zé Jaque lhe montava o pneu de trás que tinha tido um furo. Creio que foram poucos os que o viram irritado. Apanhava todos os dias a carreira das 9 para a vila. Eu era miúdo e como morava mesmo em frente da paragem da camioneta, muitas vezes, nos tempos de férias, andava por ali a jogar ao pião. Joaquim Rebelo pedia-me o pião e do alto da sua estatura atirava com ele com tal força que marcava o alcatrão e zunia de forma que mais ninguém conseguia fazer. Muitas vezes o pião não resistia ao impacto no alcatrão e o ferrão entrava por ele dentro, escaqueirando-o. Acto contínuo , metia a mão ao bolso e do porta moedas saíam cinco mil réis que vinham parar à minha mão. Lá ia eu, todo contente, ao Ti Chico Miguel a comprar outro novinho em folha. Era preciso tentear bem o pião para que estivesse sempre bem equilibrado, sem defeitos de torno, cossenão ficava esgravuna e ao deitá-lo na roda , tanto podia vir para fora como ficar lá dentro e depois ficava na poça sujeito às nicas até que amigo o tirasse do sal. Muito piãozinho novo estreei eu às abas do senhor Joaquim Rebelo. Morreu novo ao cair de uma escada cujo degrau não aguentou os seus 130Kg.
Num Domingo à tarde, depois de missa, no adro, o Melro pegou-se com Cagarela. Os copos ajudavam à luta e ora caía um ora o outro, não se definindo o vencedor da contenda. Melro, porém, acabou por dar uma espapada em Cagarela que o ardulhou no pó do terreiro. Começou ao pontapé e o caso estava a ficar feio porque Melro já não se continha e Cagarela estava desmaiado, sem reacção. Joaquim Rebelo apressou-se agarrou Melro pelo bibe, levantou no ar e disse-lhe que já chegava. Melro quando se sentiu no chão ia voltar à carga com ideia de continuar a malhar no Cagarela. Rebelo aí não foi de modas: assentou-lhe uma espapada que o pobre do Melro ficou a ver estrelas por uns minutos. Acabaram por acordar os dois a poder de uns caldeiros de água pela cabeça abaixo e a ouvir as ordens de Joaquim Rebelo: "Cuca daqui para fora. Não vos quero voltar a ver aqui hoje. Rodo!". Cagarela meteu caminho das Águas abaixo direito à casa queimada e à quinta do ramalhão e Melro abre caminho às endireituras do Cavacal até à cruz e espojou-se o resto do dia a apalpar a cara onde lhe tinha assente a espapada de Rebelo.
Também eu às vezes levo com cada espapada que até fico atordoado. Mas não são espapadas físicas, são outras.
Dei por mim a confirmar o que já por mais de uma vez tinha constatado, mas que agora com a guerra no Iraque volta a actualizar-se. Até mais, porque se desconfia que o responsável por um ataque suicida à bomba teria sido perpetrado por um português, entretanto convertido ao Islão mais radical.
Foi mesmo como se tivesse levado uma espapada.
Lembrei-me de um debate entre quatro representantes das três religiões monoteístas mais tradicionais: Judaísmo, cristianismo, (catolicismo e protestantismo) e islamismo.
O que agora vos vou apresentar é a transcrição "ipsis verbis"  de um artigo publicado por um famoso advogado francês de nome Gilbert Collard. O conhecimento do artigo em português deve-se a Fernando Tavares e data de 30/3/2014.
«O que é um "infiel" para um muçulmano.
Como demonstram as linhas que se seguem, fui obrigado a tomar consciência da extrema dificuldade em escolher entre Alah ou o Cristo, até porque o islamismo é a religião que mais progride no nosso país (França).
O mês passado participava num estágio necessário  para a actualização da minha habilitação de segurança nas prisões. Havia nesse curso uma apresentação por quatro intervenientes, representando respectivamente as religiões católica, judaica, protestante e muçulmana explicando os fundamentos das suas doutrinas. Foi com grande interesse que esperei a intervenção do Imam.
Terminadas as intervenções chegou-e ao tempo de perguntas e respostas e, quando chegou a minha vez, perguntei: «Agradeço que me corrija se estou enganado, mas creio ter compreendido que a maioria dos Imams e autoridades religiosas, decretaram a Jihad (guerra santa), contra os infiéis do mundo inteiro, e que matando um infiel (o que é uma obrigação feita a todos os muçulmanos) estes teriam assegurado o seu lugar no Paraíso. Neste caso poderá dar-me uma definição do que é um' infiel'.? Sem nada objectar à minha interpretação e sem a menor hesitação, o Imam respondeu : um não muçulmano. Eu retorqui: permita de me assegurar que compreendi bem: o conjunto dos adoradores de Alah devem obedecer à ordem de matar qualquer pessoa, não pertencente à vossa religião, a fim de ganhar o paraíso, não é verdade?
A sua cara, que até aqui tinha revelado uma coerência cheia de segurança e autoridade transformou-se de repente na de um puto apanhado em flagrante com a mão dentro do açucareiro. É exacto, respondeu ele num murmúrio. Eu retorqui: Então eu tenho bastante dificuldade em entender que o Papa diga a todos os católicos para massacrarem todos os vossos correligionários, ou o pastor Stanley dizer o mesmo para assim garantirem um lugar no Paraíso. O Imam ficou sem voz. Continuei: Tenho ainda sérias dificuldades em ser seu amigo pois que o senhor e seus confrades incitam os vossos correligioários para me cortarem a garganta. Permaneceu silencioso. Só mais uma questão: o senhor escolheria Alah que vos ordena matar-me para alcançarem o Paraíso, ou o Cristo que me incita a amar-vos para obter o mesmo paraíso? Podia ouvir-se uma mosca na sala. O Imam permanecia silencioso»..
Para a semana trago-vos outras curiosidades, mas agora do cristianismo. 
Já agora e para despedida : qual é a palavra no plural , com 7 letras e que tanto se lê de diante para trás. como para a frente (capicua)? Ela já consta do texto acima só que está no singular .
XXIIIIIIIIIIIIIIIIIGGGGGGGGRAAAAAAANNNNNNNNNNNDDDDDDDDDDDEEEEEEEE