domingo, agosto 28, 2016

A NOSSA FALADURA - CCXLV - CARDOMO

Não há nada como realmente, antes assim do que infelizmente. Uma mão lava a outra e as duas lavam a cara. Quando assim não seja quatro na mesa e uma cerveja e se assim não for quatro ginjas e um licor....
As ondas do mar trazem peixe, as primeiras principalmente e assim sucessivamente...
Hoje deu-me para aqui... e ainda vai haver mais .
Este verão tem escaldado bem o povo e o campo. É sabido que a fruta de caroço se foi, e a de grainha também está pelas ruas da amargura, não falando da de pevide, que para além de ser pouca está toda "desmazelada", picada ou enodoada... Os bissextos têm lá porras, como dizia o meu amigo
Lameiras...
Já agora, lembro-me de uma história que esse bom amigo várias vezes me narrou. Não sei se serei, em absoluto, fiel ao contado, mas, com toda a certeza fica aproximado.
Contava o Lameiras que uma cachopa xêndrica, meia taralhoca, que trocava os R pelos L quando falava se queixou um dia para a ti Ana Arplano da desventura de um dia, no rebusco da espiga e recolha de lenticão se encontrou, sem fazer por isso, com  um tal de Passaloulas... ( O texto que se se segue é transcrição minimamente fidedigna da narrativa mas, não vos esqueçais que a cachopa trocava os R e pronunciava L.
Contava o Lameiras : "Eh tiAna, atão vomecêi já viu que aquele ladlão (ladrão) do Passaloulas (Passaroulas), um dia que eu andava ao lebusco da espiga e ele andava a lavlal (lavrar)com uns bulitos (burritos) me apalece de lepente com um olho de esteva pla eu cheilel (cheirar) e diz-me  assim: cheila aqui, anda cheila aqui. como se já algum dia se viu um home del (dar) a cheilel (cheirar) um olho de esteva  a uma mulhel... E mal me plecatei, aventou comigo pra os lêgos (rego) dos bulitos e apresenta-me assim a modos que um pé de cabla,(cabra) meio esfoledo (esfolado), meio por esfolel (esfolar) e enfia-mo mesmo no meio do buleco (buraco) das olinas (urinas) Eu inda lhe disse:"deixa-me tilel (tirar) os golões (torrões) das costas... mas ele dixe-me que estava bem assim e começa a dal ao cu pla baixo e pla cima, assim com quem amassa o taleigo do centeio e eu comecei  a sentil uns aldoles (ardores) pla espinha abaixo quinté palecia o fim do mundo... e ele começa a pulguel, a pulguel, a pulguel (purgar) quaté parecia que havia mai dum ano que num era esplemido ..." «Rais ta palissem cachopa. Tu num contes a mai ninguém, disse a ti Ana do Arplano. 
Era com estas  e muitas como esta estórias  que o povo se entretinha nos poucos e raros momentos   de lazer. Anda que não havia stresse não... Vai lá vai... é assim como a modos que os garotos hoje são hiperactivos e têm que ir ao psicólogo e às consultas de desenvolvimento... No meu tempo de garoto esses hiperactivos eram malcriados e o problema resolvia-se com duas chapadas na cara ou umas cinturadas pelo lado da fivela nas bochechudas nalgas e a coisa ia logo ao carril. Ai não que não ia. Vai lá vai!
Volvamos ao princípio: Não há nada como realmente...
E agora para vos desafiar a mona, deixo-vos mais um texto sobre stresse que produzi faz já uns anos. Sempre vos entretenho e escusais de fazer asneiras armados em hiperactivos, digo, malcriados. Então aí vai. Dai notícias, se vos aprouver...


STRESSE



De notar:
          Emoções, ansiedade, tristeza.... Têm também efeitos tóxicos sobre o indivíduo.
     O indivíduo, hoje, tem que se preparar para as novas vicissitudes dos tempos que correm: instabilidade/mobilidade de trabalho, novos relacionamentos sociais e profissionais.

Stresse significa:
          Tensão
          Pressão
          Coacção

Selye definiu-o como sendo: uma resposta do organismo frente a qualquer exigência que lhe é feita.
    A O.M.S., por sua vez: “é o conjunto de reacções fisiológicas que prepara o organismo para a acção”.

Assim stresse é:

1 – É a força ou o estímulo que actua sobre o indivíduo e que dá lugar a uma resposta de tensão.

2 – É a resposta fisiológica ou psicológica que o indivíduo manifesta perante um agente stressante ambiental.

3 – Stresse é uma consequência da interacção entre os estímulos ambientais e a resposta idiossincrática do indivíduo.

Significa isto que o indivíduo tende naturalmente a responder da mesma maneira a situações idênticas desde que delas tire resultados positivos. O homem retém das suas experiências o que lhe é vantajoso e despreza o que não o favorece. Em regra, este tipo de reacção é passageiro, mas a sua continuidade e/ou prolongamento pode acarretar uma grande variedade

De sintomas e até mesmo toxinas, agressões físicas, fadiga e outras situações emocionais.
No limite advém o Síndroma geral de adaptação que não raro leva ao esgotamento.


Vejamos como Selye lê este síndroma:

1 – Reacção de alarme – o indivíduo ameaçado pelas circunstâncias altera-se fisiologicamente pela activação de uma série de hormonas, que obrigam o cérebro a intervir fazendo agir o centro regulador do hipotálamo produzindo factores libertadores, como por exemplo a adrenalina das supra-renais.

2 – Estado de resistência – Uma submissão contínua a factores agressivos de agentes físicos, químicos, biológicos ou sociais, apesar do organismo procurar a adaptação progressiva conduz a um cansaço das glândulas hormonais libertadoras. E ou o indivíduo consegue resistir ou entramos na fase seguinte.

3 – Fase do esgotamento – diminuição progressiva da resistência do organismo face a uma situação de stresse prolongada levando a uma incapacidade de adaptação e interrelação com o meio.

Há dois tipos de stresse


O Eustresse é agradável e construtivo levando a emoções positivas devido a bons feitos.

O distresse acontece quando nos referimos a consequências prejudiciais de uma excessiva activação psicofisiológica e é portanto, desagradável, prejudicial e causador de doenças relacionadas com stresse.
Preocupações com:
  • o horário de trabalho
  • a saúde dos filhos
  • ataraxia
  • competências profissionais
  • metodologia de gestão de tempo
  • ….
O mau stresse pode originar erupções cutâneas, hipertensão, doenças cardiovasculares, úlceras gastroduodenais, distúrbios vários do aparelho digestivo e disfunções de ordem sexual. As pessoas dominadas pelo mau stresse são mais débeis nas suas resistências e nas reacções imunológicas.
- A surpresa de um acontecimento não abate um indivíduo saudável fisio-psico-socialmente
O STRESSE AGUDO PODE ORIGINAR ÚLCERA, ESTADOS DE CHOQUE, NEUROSES... mas o crónico pode mesmo levar à redução de glóbulos brancos vitais
. São estas as patologias mais comuns: gastrite, ansiedade, frustração, depressão, agressividade, disfunção familiar, enfarte, trombose, psicose...

Genericamente podemos dizer que podemos encarar o stresse de três pontos de vista diferentes:

1 – O Clássico ou de Selye que consiste numa leitura simples do fenómeno, a saber: agente stressor – stresse – stresse psicológico ou stresse fisiológico.

2 – Outra leitura preocupa-se com o que o homem faz reagindo a um estímulo stressante, logo preocupa-se com o que acontece ao homem e não com o que acontece no homem. O homem tem aqui um papel activo na dialéctica com o meio ambiente em que se insere.

3 – Finalmente uma leitura mais exigente em que se dá simultaneamente atenção ao que é pedido ao homem e a sua capacidade de resposta.

Foi feita uma escala de 1 a 100 em que se fez o levantamento das causas de stresse mais significantes. Concluiu-se ainda, durante esse estudo em que um indivíduo pode viver mais do que uma situação stressante ao mesmo tempo.
      Alguns exemplos e por ordem decrescente: Holmes and Era

              Morte do cônjuge (100)
              Divórcio (73)
              Separação matrimonial (65)
              Prisão (63)
              Casamento (50)
              Despedimento do emprego (47)
              Reforma (45)
              Férias (13)

Outros factores de stresse são ainda pressões no local de trabalho e até a nossa auto exigência, para além de situações que derivam de uma comunicação mal entendida, situações de doença e relações interpessoais: sensações de ameaça, isolamento, repressão, pressão de um grupo, falta de controlo sobre os acontecimentos, frustrações nas expectativas pessoais e/ou profissionais...
Podemos ainda ter outros agentes stressantes na psicossociologia quando interpretamos mal uma situação atribuindo-lhe significado errado e gravoso, mudanças de estado ou emprego, insegurança....

Resumindo, stressam-nos:

1 – Acontecimentos vitais intensos e extraordinários (mudanças decisivas no decurso da nossa vida).

2 – Acontecimentos stressores do dia a dia: um engarrafamento ou uma discussão.

3 – Situações de tensão crónica prolongada: doença prolongada, desemprego tardio e duradouro...


Factores outros ainda podemos invocar como os resultantes de cataclismos (terramotos/maremotos, tornados, desastres...) os quais deixam de ser pessoais para serem colectivos quando não nacionais e até mundiais.
É aqui que surge por vezes o stresse pós-traumático em que os acontecimentos são revividos em sonho ou mneses recordantes, que levam a uma apatia, incompatibilidade relacional com os outros, abuso de fármacos...
Os agentes stressores pessoais (morte de familiar chegado, p. ex.) são intensos mas vão-se esbatendo com o tempo, salvo situações decisivamente marcantes como a violação, por exemplo.
Num outro grupo incluímos os aborrecimentos do dia a dia e que podemos denominar de ambientais: pneu em baixo, avaria de electrodoméstico, filas em instituições públicas ou não,...
Aqui se podem ainda incluir as dores de cabeça ou de costas, garganta... Bem como a insatisfação com e no trabalho, falta de privacidade, etc.
Notemos todavia que no nosso dia a dia também podem ocorrer situações de eustresse sejam com o aplauso ao nosso trabalho, sejam a conclusão de um empreendimento, uma boa classificação, etc...

Como moderamos o stresse?

          Desde logo através da nossa relação com os outros: o apoio social e emocional que umas pessoas dão às outras alivia a situação stressante. Até mesmo animais de estimação possibilitam o efeito de relaxo, ah! Pois...o dinheiro...

      Sem dúvida que uma boa leitura por parte de um indivíduo de uma situação potencialmente geradora de stresse é meia vitória sobre essa mesma situação.

          Auxílios externos (médicos,familiares, medicamentos...)

Padrões de conduta:

     Ritmo de vida apressado, achando que os outros trabalham sempre devagar, vivendo num constante aperto o que pode conduzir a problemas de ordem coronário-cardíacos. As pessoas com este tipo e comportamento são geralmente muito impulsivas e impacientes.


       Ao contrário, pessoas mais calmas com leitura razoável das situações são mais inibidas e acomodam-se com mais facilidade e acabam por resolver as situações de forma positiva sem se deixarem abater.

É este posicionamento positivo que não é de modo algum impossível para os mais coléricos e emotivos que fortalece psicologicamente o indivíduo e o torna equilibrado e descontraído, com interesses variados, fomentando amizades, integrado no grupo de que faz parte.
O cérebro humano e isto porque o homem pensa com o corpo todo e põe quanto é no mínimo que faz acaba por com maior ou menor incidência tentar
resolver as situações stressantes e restabelecer um qualquer equilíbrio perdido, nu, desejo intenso de homeostasia e/ou ataraxia.
      Assim é legítimo que falemos de MECANISMOS DE DEFESA que são estratégias inconscientes que um indivíduo utiliza para reduzir a ansiedade. A arma mais comum é a ocultação da causa.
Outra forma é a apatia emocional mantendo-se um indivíduo indiferente e insensível face a uma situação negativa, (e se um médico desmaiasse ao ver um acidentado?).
Forma salutar de resolver a situação stressante é olhar para o lado positivo das questões, educando-se assim as emoções em vez de se descontrolar.

Outra forma salutar é a chamada robustez nas três componentes:

          Compromisso – dedicarmo-nos intensamente ao que estamos a fazer.
          Desafio – entendendo que a mudança é mais natural que a estagnação e que se agora está em baixo, logo estará em cima.
          Controlo – a convicção de somos capazes de dominar as situações.
Um indivíduo ROBUSTO encara o stresse com optimismo e é capaz de procurar as suas causas dando a volta por cima.

Uma coisa é certa: «apenas a morte nos separa do stresse.»

          Outras alternativas:
          Transformar uma ameaça num desafio.
          Alterar os próprios objectivos.
          Fazer exercício físico.
          Alterar alguns hábitos alimentares.
          Preparação prévia para a situação stressante.

Lembro-me bem de uma grande mão cheia de palavras, perfeitamente vulgares, mas que para mim eram tão estranhas como a estória da Judite: Não contvava com elas nem lhe conhecia o significado... É o caso desta : Cardomo...
Mas nunca entrei em stresse.... Com a minha proverbial calma esperei até descobrir o que eram.

Com a brasa que tem estado em termos de temperatura até apetece ter saudades dum inverno, daqueles bem rigorosos em que se ouviam estas e outras estórias ao serão junto do borralho depois de comidas as belas couves cozidas na panela de ferro com algum naco de toucinho e algum tanoco de pão, bem longe do cardomo que se apresentava na rua em cada poça ou lapacheiro com a água bem caramelizada, vidrada, cardomada, como depois aprendi.
É a vida... 


XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXIIIIIIIIGGGGGGRRRRRRRRRAAAAAAANNNDDDDEEEEEEEE