quinta-feira, maio 26, 2011

A NOSSA FALADURA - CLXVI - TOUCEIRA

Que a raça humana no seu todo, com honrosas excepções, se tornou na mais velhaquinha espécie viva à superfície terrestre, não é difícil de provar. Basta ver que, sendo a paz muito mais barata do que a guerra, este descendente do pitecantropo prefere esta àquela.
Não deixa de ser curioso, e dispenso-me de ir buscar estatísticas, constatar que cada vez há mais divórcios. O caso é tão mais grave, quanto também é facto indesmentível que se casa cada vez mais tarde, o que, só por si, devia justificar exactamente o contrário, já que casando mais maduros, tiveram tempo de pensar bem antes de decidir. Mas: nunca há só um teimoso, tem sempre que haver dois. E como nenhum deles cede ao outro, engalfinham-se a tal ponto que cada um vai para seu lado.
A agravar isto tudo, o mais natural é que a disputa final resulte de uma ninharia insignificante, quando não ridícula. O mal está em que vem sempre a touceira cheia de raízes e inventariam-se casos já mortos e enterrados, ressuscitando-os com uma força tal, que até parece que se estão a reviver naquele instante.
Permiti que vos traga à boca de cena um caso famoso, que, ao que consta aconteceu com um xendro lá para os lados do Norte.
Estava o xendro cheio de fome e chega a uma pensão (as antigas casas de Pasto) e pergunta o que há para comer. Neste momento só ovos cozidos - diz o patrão. Venha de lá o prato dos ovos e vá abrindo cervejas. Comeu duas dúzias de ovos cozidos e emborcou uma grade de cervejas. Aliviado da fome ainda questiona: E fruta, que tem por aí? Só bananas! é a resposta. Venha uma, pede. Pouco tardou, corre para a casa de banho e vomita cerveja, ovos e banana. Sai-se com esta: para que raio comi eu a banana?!
Assim somos nós: por coisa pouca deitamos uma vida a perder. Agarrado à pequenez vem um corgo de raízes, como nas touceiras, às quais estão coladas, como argamassa, recordações de situações antigas que agora, regadas pelo ódio e descontroladas pela ira, rejuvenescem e arrasam toda uma relação.
Somos mesmo muito bonitos!
Partimos do princípio crónico de que, quando os outros não estão, podemos dizer mal deles, porque eles, quando nós não estamos, também dizem mal de nós e evangelicamente vemos algueiros nos olhos deles esquecendo as trancas que nos tapam a visão e que trazemos nos nossos olhos. O prazer, mais que mórbido, que sentimos quando temos a oportunidade de arranjar um defeitosinho no outro, empolando-o, aumentando-o e até espalhando-o aos sete ventos! Não vemos, porque não queremos ver, os Hitleres, os Átilas, que há dentro de nós e nos fazem ver tudo pelo lado mau...
Não somos parcos em críticas e apresentamos logo uma touceira de argumentos a favor da nossa tese.
XXXXXXXIIIIIIIIIIGGGGGGGRRRRRRRRRRRRRAAAAAAAAAANNNDE