domingo, outubro 05, 2014

A NOSSA FALADURA - CCXXVIII - ESPAPASSADO

Estamos no tempo dos dióspiros. É mesmo a última fruta sazonal. As árvores vão ficar sem folhas e eles lá vão ficar dependurados nos ramos a reluzir naquela sua cor típica. Não sei se sabeis - passe de lado a minha presunção - o que significa dióspiro. Então é assim : DIÓS é o genitivo de ZEUS e PÚROS é também o genitivo de PUR. Ora bem se o significado de ZEUS nada tem a assinalar, é mesmo Zeus, o mais poderoso de todos os deuses do Olimpo, já PÚROS pode oferecer mais dificuldades. Mas não é difícil se olharmos para os étimos que o apresentam como raíz: sirva de exemplo pirotecnia. Fica então claro que dióspiro mais não é do que FOGO DE ZEUS. Isso mesmo: aquela cor de fogo acarretou-lhe o nome. 
O primeiro dióspiro que comi comprou-me meu pai na praça de Castelo Branco. Só que quando o estava a comer ele chamou-me para o ajudar no transporte de uma caixa e eu, inadvertidamente, meti-o no bolso do casaco. Ora é por demais consabido que esta fruta quando cai se espatifa toda esborrachando-se ou melhor ainda espapassando-se. Quando mal me precatei lá estava o dióspiro todo espapassado no bolso e uma nódoa no casaco. Foi uma arrelia, foi o que foi.
Espapassado, mas da cabeça  também fiquei quando comecei a ler o último livro que comprei, por tal sinal na pulquérrima Livraria Lello no Porto e que dá pelo título HISTÓRIA OCULTA DA IGREJA, da Editorial Estampa e cujos autores são Jorge Blaschke, José M.Ibañez e Pedro Palao.
Vou deixar-vos de seguida algumas afirmações constantes desse livro a ver se não ficais também de cara à banda com todos os fusíveis a entrarem curto circuito e a derreterem todos espapassados.
Comecemos então: "Os começos (do cristianismo) implicaram martírio e sacrifício; então os objectivos mudaram  e aquela religião da fé, do amor, da adoração, não tardou a transformar-se numa religião de perseguição, opressão e extermínio dos hereges ou dos pagãos. E também numa religião que não teve qualquer respeito  pelas outras crenças, relativamente às quais se tornou sanguinária, tendo acabado por lhes declarar uma crua e selvagem guerra religiosa." (pág.16) . Logo depois, os autores referem uma  afirmação de José Montserrat  : " A verdade é que o Vaticano não passa de um banco e de um museu e o papa  de um peão na actualidade política internacional, um peão importante que tem de jogar uma carta necessária. O Vaticano, para falar com clareza, é a negação pura do evangelho, tal como o catecismo é a degeneração da religião" (pág. 17)
Logo após cita a catedrática de Teologia Uta Rank- Heineman: « Com a sua mania da virgindade de Maria, o papa levou a cabo um programa de infantilização à escala mundial. É como se nos exigisse  que continuássemos a acreditar na cegonha. » ( pág 18)
Na página 41 : « De todos os Messias que existiram, Jesus Cristo foi o único que conseguiu introduzir com êxito a sua doutrina no Ocidente. Antes dele podíamos falar dos messias Essénios que também morreram crucificados. Depois de Jesus Cristo surgiram outros que tiveram menos sorte, como Teudas, que à frente de um exército numeroso se dirigiu ao Jordão , prometendo que o rio se abriria à sua passagem. Cúspio Fado cortou-lhe a cabeça  e levou-a para Jerusalém, evitando a expansão deste novo messias.  Outro messias veio do Egipto instalou-se no deserto com 30.000 homens instigando-os depois a entrar em Jerusalém, mas o procurador Félix (52-60) matou 400 desses homens... e o novo messias acabou por desaparecer. Surgiu mais outro sob o governo de Pôncio Festo ( 60-62), prometendo saúde e cura para todos os males  aos que o seguissem para o deserto. Também morreu. Ainda durante a guerra da independência que acabou com Jerusalém em ruínas (ano 70), vários chefes autoproclamaram-se messias. Poderíamos citar muitos outros: Eleazar, Simão Manahem, Simão Barcoquebas e outros. »
Mas não ficam por aqui os meus espantos que às vezes me põem a pensar... Não é por acaso que se diz que a Filosofia nasceu do espanto.
Bem... para não ficardes espapassados com muitas outras afirmações constantes no livro, hoje fico por aqui. 
Como se vê as religiões não têm apenas a leitura oficial, dogmática. Há muitas outras leituras possíveis. Nada como ler livros, mesmo que nos espapassem.
Até breve.
XXXXIIIIIIGGGGRRRRAAAAAAAANNNNNNDDDDDDDDDDDDDDDDDDDEEEEEEEE