quarta-feira, maio 25, 2005

A NOSSA FALA V - CHANGOTO

Há coisas que sempre me incomodaram, mas este incómodo leva-me sempre a um desafio. Se o outro consegue ter piada quando diz, porque é que eu não poderei dizer as coisas com piada. Até me lembro dos tempos em que estudava latim e mais grego e outras cangalhadas que tais, em que se contava que o professor Abílio Bonito Alves Perfeito (vejam só a beleza deste nome!) invocava que era imperioso que os acentos do português fossem o mais possível recessivos e que a acentuação haveria de recair, sempre que possível na sílaba proparoxítona (esdrúxula, para quem não domina estas coisas). Vai daí exemplifica: não é democracia mas democrácia, não é garrafa mas gárrafa, não é livraria mas livrária, não é exponencial, mas exponêncial, etc. .Quem não gostou do assunto foi o Carrilho, (não o Manuel Maria, pai do Dinis e marido em segunda mão duma tal Bárbara) mas um artista que só tinha positiva a desenho e negativa a tudo o mais. Solta esta :"Ó senhor Prófessor essa aí tem cárradas de píada."
Vem isto a propósito ainda de um professor lá da minha aldeola que era conhecido por varadas, já que usava como argumento pedagógico uma vara que mais parecia um varal de "burra"(picota) de tirar água com a qual chegava a roupa ao pêlo a todos os alunos que do seu ponto de vista não soubessem o que era de saber ou cujo comportamento não encaixasse na bitola que ele entendia e que variava dia a dia conforme se zangasse ou não com a mestra sua mulher que em tempos com a régua partira os dentes a uma aluna que se riu quando não era para rir... Outros tempos em que educação era sinónimo de instrução...
Mas afinal o que eu queria aqui trazer era razão do CHANGOTO, que é assim uma espécie de pau mal azado que normalmente "cai nos cornos" de quem não nos é benquisto.
Aconteceu-me a mim: fui cagar à ribeira que naquele tempo já corria pouco e pus os pés em dois calhaus por forma a que o cagalhoto caísse directamente na água e fosse alimentar os bordalos por aí além. Era um prazer indescritível a gente ver a nossa produção interna passar primeiro por debaixo de nós e logo depois vê-la flutuando a boiar no cimo da água semeando fertilizantes pelo caminho. Aquilo sim era o aproveitamento integral da matéria prima!
Estava eu todo entretido neste prazer incontido de arrear o calhau quando, à minha frente, da curva da ribeira, surge a velha Borla que grita: AH, cabrão, vieste-me a espreitar? Espera aí que levas com este CHANGOTO nos cornos!
É claro que ficou o cu por limpar à cunca da telha e "Ó abre!" dei à sola pela ribeira acima até às poldras do Chocalheiro, ali pertinho do lagar. Dei comigo a barafustar: Ora a puta da velha ! inda se ao menos lhe tivesse visto a peida!, mas nem isso. O pior é que ela tem uma língua como um braço e se me conhecesse daí a pouco passava a notícia à Fécula e à Faca não tardava nada estava na boca da tia Manhosa do rabanadas e bumba era o alvoroço total na aldeia com a Bandeira de Guerra a contar à filha Rita do Azedo e à figueira brava do Parrachinho e todo o cavacal sabia e não tardava passava ao Oiteiro e até à Lagariça que a do papa arroz quando é de espalhar semente até parece que anda como vela em dia de vento.
Como diria o meu amigo Toscano:"pata que o pôs"!
Porra! que me safei do CHANGOTO.

4 comentários:

Anónimo disse...

Ó amigo o Sr. Lapaxeiro, também deve fazer dos Senhores ouvintes.
Não me lembro é se era da Igreja dos últimos dias de INTERROKIBATASUMA, ou da Igreja do último dia da Amoreira no Lapaxeiro.Ouviu!

Anónimo disse...

Coronel contra Torrão nas autárquicas! De que lado vão ficar o Zé Luis e "sus muchachos iluminados"?

Anónimo disse...

Ó amigo Lapaxeiro, não podes ser quem eu pensava! Fiquei muito mais descansado. Um OK pra ti.

Anónimo disse...

há um changoto dentro de cada um de nós !

Um anónimo que assina em cruz