A faladura do povo sempre me surpreendeu. É essa a razão de ser do próprio basa.Foram muitas as circunstâncias que me despertaram para esta temática. Sirva de exemplo o significante ' dembanão'. Foi por acaso que, um dia, a ti Tecla, carregada com o cesto que trazia da sorte da ribeira à cabeça, em conversa com a ti Conceição Pires, mulher das portelas sempre cheia de que fazer ... com a ti Tecla, porém, todas as pressas davam em vagares porque ela nunca tinha pressa, mesmo carregada com o cesto, tarefa, a bem dizer diária. Entre a sorte da ribeira e a casa, no cimo de aldeia, perto das escolas novas, o intervalo de tempo rondaria as duas horas, tudo para cima. Dizia eu, então, que foi com ela que naquele dia me deixou clara a evolução até ao dembanão e até ao dabanão. Ora vejamos: Tecla dizia que 'indembanão' uma pessoa estava viva e, logo, estava morta. Apurei o som e li: afinal, aquilo que me parece ser dabanão, mais não é que a aglutinação de AINDA BEM NÃO.Daqui derivou para indembanão, depressa para dembanão e de caminho para dabanão. O que se passa é que eu pensava que o povo dizia dabanão com o sentido de repentinamente, quando, afinal, a raíz dessa semântica era anterior: vinha mesmo de Ainda bem não. Tudo claro, tudo justificado
Foi também por acaso que fui despertado para este artimpencha. Rosa Espeta Figos, de telemóvel na mão, a querer ligar para a filha, cujo nome não encontrava na listagem nominal constante no aparelho, sai-se com esta: "rais parta esta artimpencha que num intendo nada disto. Num incontro aqui o nome da mnha Celestre. Intigamente a gente ia ali à rosa, levava o númaro num papel e a chamada lá ia a ter. Agora com esta artimpencha, fica uma pessoa baralhada". Fui ter com ela e lá lhe liguei para a Celestre.
Pus-me, depois, a analisar donde raio teria vindo este ARTIMPENCHA.E concluí: artimpencha só pode ser resultado de ARTE(facto) + EMPECILHO. Isto é: temos na mão um aparelho (artefacto) que em vez de facilitar o que nos propomos, só atrasa o nosso desiderato...logo, é um e(i)mpecilho. A nasalação é facílima de explicar e não é o basa que se vai entreter com aulas de fonética científica.
Serve este prefácio para vos deixar um texto que me vi na contingência de escrever porque também este tema me preocupava. Porque é que as igrejas clássicas, desde as prémedievais tinham aquela configuração e aquela simbologia. Claro que falo da simbologia cristã, já que as outras não são do meu conhecimento suficiente e não quero cometer abusos interpretativos sem fundamento. Então aqui fica esse texto e espero que não mais, ao entrardes numa igreja tradicional fiqueis estupefactos e não entendais o que tudo o que vos envolve significa. A intenção é ajudar... Se algum termo vos ultrapassa, só há que ir ao dicionário que estava na prateleira com bastante pó, devido a tanto tempo de descanso.
Aqui vai então:
Há quem diga que a história do cristianismo é a história
mais bem contada de todos os tempos.
A figura de Cristo é um marco indelével na civilização,
tanto mais que a própria história e o calendário se refere ao seu nascimento e
se fala em dois grandes períodos : a. C. e d.C.
As Igrejas, locais sagrados por excelência, nem sempre
existiram. A princípio os cristãos reuniam-se em catacumbas e em casas de
grandes senhores onde se reuniam e debatiam a palavra divina.
As Igrejas não são exclusivamente lugares de culto; foram durante
muito tempo casas de abrigo. Até mesmo foragidos, enquanto estivessem sob o
tecto das igrejas, estavam protegidos e não podiam ser presos.
Repare-se ainda que a Igreja é um referencial de importância
incalculável, durante muitos séculos: ficava situada no centro das povoações, o
casario começava a construir-se à sua volta, e a torre sineira, indicava as
horas, tocava as Ave-Marias e marcava a
todos os ritmos de vida.
Habilmente o cristianismo aproveitou-se das festividades
pagãs em honra da natureza e transformou-as em datas sagradas. O calendário
litúrgico é determinante sob muitos pontos de vista.
A ornamentação e a própria arquitectura das igrejas não são
obras do acaso ou fruto da criatividade dos artistas. Obedecem a determinadas
regras e acarretam consigo uma simbologia que convém deslindar para que quando
entremos num templo saibamos ler o que está por detrás do que se vê.
É por demais consabido que as religiões vivem de mistérios,
de dogmas, de preceitos, têm por base um livro sacro, são representadas por pontífices, sacerdotes,
monges, adivinhos, videntes, magos, até bruxos,…
Sendo o cristianismo uma religião da Revelação, é muito
pouco o que está revelado. Por isso há os teólogos que esclarecem o que deve
ser entendido, por detrás do que está escrito, ou vem da tradição oral.
Interpretações outras que divirjam da oficial caem, inevitavelmente, no
anátema, no apóstata, no iconoclasta, no herege, no protestante, no
excomungado, no condenado…
A Igreja, no seu todo e cada uma em particular, representa o
corpo místico de Deus, as pedras da construção são os fiéis que a suportam,
alimentam e garantem a sua robustez e segurança.
As janelas significam a abertura ao exterior, nos vitrais
representam-se figuras eméritas ou cenas bíblicas, o pavimento é o fundamento
da fé e as colunas e vigas são representações dos grandes alicerces da doutrina
da Fé.
Impõem-se algumas questões, que visam esclarecer o fiel que
entra num templo e ignora o significado de cada um dos elementos que fazem
parte da estrutura de uma eclésia.
Qual a orientação geral que deve ter uma igreja? Porquê?
Que representam a pedra do altar e a toalha branca que a
cobre?
Qual a forma da pia baptismal?
A que se referem o fogo e o incenso?
Que motivos se encontram nas portas de entrada, nas jambas,
nas arquivoltas, nos tímpanos?
Quais as três funções principais do sino?
Qual a colocação correcta do vitral?
Convém desde já estabelecer uma diferença entre o que é arte
religiosa e arte sacra ou sagrada, já
que são dois campos distintos.
Arte religiosa tem a ver com o artista e a sua liberdade
criativa. Tanto pode fazer uma obra de arte religiosa como profana. Depende da
sua inspiração executa-a em plena liberdade.
A arte sacra por sua vez não é de natureza sentimental, mas
antes de ordem metafísica e cosmológica. Aqui o artista tem pouca margem para a
sua liberdade criativa.
A arte sacra propõe-se tornar visível o invisível de forma
tal que a divindade se torne acessível a qualquer crente.
Um templo não serve apenas para reunir os crentes mas também
criar um ambiente de recolhimento e de comunhão de ideais que permitam uma
relação mais próxima com o divino.
Deve notar-se que cada vez mais se verifica uma cada vez
menor criatividade sacra. O mundo contemporâneo é cada vez mais materialista.
Só nos finais do sec.
III e princípios do sec. IV durante o império de Valério Diocleciano (284-305)
os cristãos adoptaram a prática de adorarem deus em templos. Foi assim que
surgiu o rito da missa (de Messiah, o Messias, o ungido).
O ritual da missa era, ao princípio, muito simples:
consistia numa refeição – a ágape - e de leitura de escritos sagrados. Durante
a ÁGAPE repartia-se o pão, rezava-se a oração de graças, repartia-se o pão e
partilhava-se o vinho. Aos poucos a ágape desapareceu devido aos excessos.
De notar ainda que os primeiros cristãos não tinham
manifestações públicas, tais como procissões, peregrinações ou cerimónias
equivalentes.
Significativo é o facto de tanto a hierarquia como os fiéis não
utilizarem vestes distintivas.
A doutrina de Cristo impunha serviço e não patronato. Assim,
os discípulos das comunidades cristãs deviam estar disponíveis para servir e
não para impor.
Ninitius Félix (convertido do sec. II d.C. ) afirmava. « Imaginais que nós, cristãos, escondemos
aquele que adoramos porque não possuímos templos ou altares?
Que templo poderia ser
erigido a deus se o universo é a sua maior obra. Como fechar o omnipotente dentro
de um edifício? Não é melhor consagrarmos um templo à divindade em nosso
coração e nosso espírito?»
Após a morte de Cristo começaram a formar-se pequenas
comunidades que iam, elas próprias interpretando as escrituras. Aos poucos começou
a ver-se que havia diferenças significativas. Por isso, uma vez que “todos os
caminhos vão dar a Roma” estabeleceu-se que a doutrina oficial o cristianismo
seria a ditada pela congregação de Roma.
Como já acima se referiu só a partir do sec. III se começaram
a construir templos e não deixa de ser curiosa a determinação do papa Gregório
Magno, já nos fins do sec VI:«podeis
destruir os ídolos mas nunca os templos. Borrifai-os com água benta colocai as nossas relíquias e deixai que o
povo continue a prestar culto nos locais
onde sempre o prestou».
O Cristianismo, de início, não tinha símbolos e vai
enraizá-los em duas proveniências: as religiões cósmicas e na cultura hebraica.
O templo primitivo
era um templo natural que aproveitava colinas, grutas, árvores, pedras, nascentes,…
Pode até fazer-se uma comparação entre esses templos e os actuais:
Templo primitivo (paisagem natural)
|
Templo cristão (paisagem petrificada)
|
Colina ou montanha sagrada
Gruta
Árvores ou pedras verticais
Pedra sagrada
Nascente
Fogos e fumos
Cerca
Céu
Colunas solares
Percussão em metal
|
Degraus do altar
Nichos ou ábsides
Colunas interiores
Altar
Pia baptismal
Candelabros e incenso
Edifício
Abóbada
Torres
Toque de sino
|
A orientação geral dos templos foi, inicialmente, com a
porta de entrada virada a oeste e o altar mor para leste ( o nascer do sol),
arquitectura que se perdeu quase por completo, devido a uma multiplicidade de
factores.
Em sentido lato a igreja é o povo de deus. Em Niceia o credo
definiu que a igreja seria una, santa, católica, apostólica, romana.
Depois da divisão do império romano por Diocleciano em 285,
designa-se por igreja do Ocidente, ou Latina (porque a língua adoptada foi
essa) os que dependiam de Roma e do papa e por Igreja Bizantina os que
obedeciam à igreja de Constantinopla e seu patriarca.
A ruptura entre as duas igrejas deu-se oficialmente em 1054.
Existem outras nomenclaturas : igreja celeste ou triunfante
e a terrestre, igreja visível e invisível. A mesma palavra serve para
designar a assembleia de cristãos e o
edifício onde se reúnem os fiéis.
Principais partes de uma igreja:
Porta de entrada – uma das partes mais importantes do
edifício pela simbologia que lhe é atribuída: passagem de um espaço profano
para um espaço sagrado.
Ábside – Parte semicircular oposta à porta de entrada.
Absidíola- capela lateral que abre para o deambulatório.
Cabeceira – parte exterior da abside, em regra virada para
leste.
Coro - parte mais
próxima do altar mor, acessível apenas a clérigos e raramente a crianças separado
por um gradeamento -a coxia- limite a que os fiéis podiam chegar.
Cripta - Parte baixa destinada a receber a relíquia de um
santo ou um corpo.
Nártex - preâmbulo da entrada antes do cata-vento e destinada
aos catecúmenos.
Nave – parte reservada aos fiéis entre a entrada e a capela
mor.
Transepto – Extensão ou corpo transversal que separa o corpo
da igreja da capela mor e que torna a planta da igreja cruciforme.
Zimbório - parte alta na vertical do centro do transepto e
que significava o alto onde morava o Senhor. É para o alto que viramos o olhar
quando oramos.
Há que notar que as igrejas eram espaços respeitados:”Não
invadirei uma igreja de nenhuma maneira em virtude da salvaguarda que a
protege. Também não invadirei os celeiros que estão no recinto da igreja. Não
atacarei o clérigo ou o monge; não levarei boi ou burro, vaca, porco, ovelha ou
carneiro, nem o molho de lenha, nem a égua e seu potro. Não apreenderei
camponês, camponesa ou mercador. Não lhes tomarei o dinheiro nem os forçarei a
resgate….”
A construção de um templo começa pela definição exacta do
local onde ficará o altar encarado como o centro do mundo. Depois vem a orientação.
Em todas as igrejas as formas geométricas são a bem dizer o
quadrado e o círculo. O círculo ou as suas divisões representam o céu e por
isso se sobrepõe o quadrado/cubo.
A porta é por excelência, juntamente com o altar um dos
locais onde a simbologia mais se representa. Normalmente as grandes igrejas
oferecem-nos na porta os seguintes elementos:
TÍMPANO – a parte mais importante, grande parte das vezes
preenchido com o Cristo em glória, sentado no trono com uma mão levantada e a
outra segurando o Livro da vida e
ladeado pelos tetramorfo: homem,touro,águia e leão.
Pode ter também representado o Juízo Final, a Virgem
Maria,ou a transfiguração de Cristo.
ARQUIVOLTAS – Por cima do tímpano, em regra representando a
hierarquia celeste.
JAMBAS – colunas verticais ao lado da entrada representando
profetas, reis bíblicos, santos,..
MAINEL – parte do fechamento das duas folhas da porta onde é
vulgar encontrar-se o monograma de Cristo: o X e o P. ( De notar que estas letras são do alfabeto grego e a primeira é o QUI e a segunda é o RÓ , ou seja XP é equivalente a CR, que mais não são no léxico latino as primeiras letras do nome CRisto).
O cimo das portas era normalmente semicircular aparentando
ser o Arco do Triunfo, símbolo da vitória do Bem sobre o Mal.
Outros símbolos:
A TORRE e o CAMPANÁRIO – indicando o céu e convidando à
oração, marcando o ritmo de vida dos fiéis ao som do sino, que simbolizava
também o afastamento do mal. Por vezes as torres são encimadas por um GALO que
faz lembrar a traição de Pedro. Além disso, o Galo é o despertador da manhã
rompendo portanto com as trevas e anunciando a luz do novo dia. Santo Ambrósio
apelida mesmo Cristo de GALLUS MYSTICUS.
PIA DA ÁGUA BENTA – ao entrar convém a purificação pela água.
BATISTÉRIO / PIA BATISMAL - símbolo da ruptura com Satanás e
admissão no corpo da eclésia, recordando as nascentes de água pura. Muitas
vezes de forma octogonal simbolizando a passagem do mundo terreno ao celeste.
ALTAR- mesa de pedra ou madeira, normalmente esculpida, onde
antigamente os sacerdotes imolavam as vítimas e ofereciam incenso e agora se
celebra a missa.
A toalha branca que o cobre mais não é que a mortalha de
Cristo.
O altar é o coração da igreja por isso local central por
eminência.
É também o local onde se reparte o pão e recorda o sonho de
Jacob.
FOGO E INCENSO- como elementos regeneradores e
purificadores.
A LUZ E OS VITRAIS – Os vitrais eram uma forma de explicar
cenas bíblicas a quem não sabia ler.
Labirintos e cruz -
os espíritos malignos entrariam no labirinto e de lá não saíam.
Simboliza também o nascimento – a entrada - e a morte – a
saída-.
A cruz é o distintivo
dos cristãos e só no sec XV aparece Cristo na cruz.
Já estou como a Rosa Espeta Figos.Só espero que isto vos tenha servido para lerdes melhor o que vos surge na frente quando entrardes numa igreja.
XXXXXXXXXXXIIIIIIIIIIGGGGGGGRRRRAAAAAAAAAAAAANNNNNDDDDDDDEEEEEEEE
Desenhos: Carlos Matos
4 comentários:
Que grande e eloquente lição de religiosidade, particularmente, da religião Cristã, Católica. E começou com duas palavras "gentílicas". Fantástico texto. Os meus cumprimentos de admiração por tanto saber.
eU tambe´m andei por ai até saber que era 30/% de mouro por via do gene que me leva a ser o nome é em francês!? o gene é meu! A descoberta diz.. sindroma... quelque chose! Diz que por aí é só um gene defeituoso, durava até aos 100. Mas depois, olho-me ao espelho e vejo algo, puramente "austrolopitéco"! sento-me, encolho os ombros e "suségo", aqui nesta gruta, esperando não ser "estinto"! Na verdade não estou a mentir... tudo aquilo que escrevi é verdade. Não me sinto assim tão confortável, pelo facto de pertencer ao grupo da vanguarda, do conhecimento absoluto aquele que define em tese. Tudo aquilo que em vida acontece, não me chega, era só o que faltava, era essa certeza, que me leva-se ao supremo do querer saber aquilo que não posso saber! tenho tanto pra aprender, sou um sorvedouro de coisas, estou a ficar, apanhado por coisas, faço um esforço por aprender e hoje, vim aqui por isso por escrito! Estou outra vez a ir pra escola, noite após noite, doi mas é bom, Ando outra vez viciado em saber MAis! E aqui posso dizer isto sem me sentir foleiro e sentir-me bem! peço desculpa, mas tu fazes-me sentir bem... tipo à vinte anos...
!!!
Pois é! Diz ele que é ..." tipo à vinte anos"... não tantos, mas mais que os dedos das minhas duas mãos! Mas este post tem outro propósito, bem mais honesto que estes sufismos, tão platonicamente disfarçados! Serve apenas para lembrar o meu amigo Chagoto que já estamos a chegar à primavera e Post nada! Abraço grande!
Chagoto?! Changoto eu queria dizer, meu amigo Vitor! não estava nada armado em Jesus! Conheces bem as minhas convicções!... Abraçoooooo...
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