sábado, dezembro 27, 2008
A NOSSA FALA - CXXII - ALDRA
segunda-feira, dezembro 22, 2008
VOTOS
O Changoto e o Karraio votaram. Por unanimidade e aclamação é-vos desejado um Feliz Natal e um Bom Ano de 2009.
Se acaso alguém estava com ideias de me oferecer uma prendinha de Natal e não sabe bem como me agradar, eu facilito: pode ser o dvd deste concerto de Natal.
quarta-feira, dezembro 17, 2008
A NOSSA FALA - CXXI - ESCARRAFO(U)CEDO
sexta-feira, dezembro 12, 2008
A NOSSA FALA - CXX - (T)CHINCAR
sexta-feira, dezembro 05, 2008
A NOSSA FALA - CXIX - (t)CHANCA
Sendo assim, a nossa cultura não é unívoca mas plurívoca. Invoca e evoca muitas matrizes.
Vem tudo isto a propósito de que andei a procurar, cá bem no fundo, donde derivaria etimologicamente este fonema TCHANCA, que hoje aqui vos trago. A verdade é que não encontro raíz que me pareça fidedigna e, olha, se errar também não vem daqui grande mal ao mundo. Tenho para mim que isto há-de ser celta.
O velho Corlha, soldado veterano, combateu em la Liz na primeira guerra mundial e foi dos poucos portugueses que escapou à chacina. Tinha mesmo uma pensão, dessa sua jornada por terras de França. Era crónico vê-lo sentado com outra figura castiça que ainda não constou neste memorando: o velho Domingos Argentino, emigrante lá pelas sulaméricas e agora vivendo dos rendimentos, especialista a amortalhar tabaco de onça, em mortalha da marca Cegonha (não há outro que se lhe oponha). Tinha uma bela casa com um dossel de vinha ferral por um corredor exterior até à porta onde é hoje a casa do Branquinho. Era das casas mais originais, com frescos pintados nas paredes de tom predominantemente azul.
Quem lhe fez a casa foram dois irmãos que vieram dos Escalos e casaram na Aldeia: Moisés e Tonho Pitincouro - os Pitincouros. Deles se dizia que sabiam tralha como um corno. Se alguém quisesse saber quantos litros levava uma pipa ou um poço ou o que quer que fosse e tivesse forma cilindrica, tinha que se socorrer deles. Eram artistas: faziam render o segredo. Eles sabiam o valor do PI. Nunca o revelaram. Os 3,14 eram exclusivos dos Pitincouros.
O Zé Chornico tinha aberto um poço, ali perto donde eram as poldras, num chão colado ao Zé Toco ( o Zé Mangueira, de quem se dizia que o tinha tão grande que dava duas voltas à perna e sobravam 15cm para mijar) e deu com um nascente dos lados do sol nascente -os melhores- e quis saber quantos litros levaria o poço para calcular se havia de afundar mais ou não.
Não tinha fita métrica, calculou a altura pelos degraus da escada e o diâmetro:«ponho aqui um barrote de travesso e espeto-lhe uma tábua por cima e meço isto à Tchanca» Depressa fez o que pensou, mas a Tchanca não dava certo com as bordas do poço e então chega-se aos Pitincouros e: « o mê poço tem de altura dezoito degraus de escada e de largura três tchancas dois palmos, uma mão de travessa e o mê tchapéu. Quantos litros poderá levar quando estiver rasinho?» Os Pitincouros calculam a altura com base nos 35 cm por degrau e cada Chanca a 1 metro,o palmo a 20 cm, a mão travessa a 10 e o chapéu a 15, e concluem: "Ó ti Zéi isso é bicho pra conter aí por volta de 22.500 litros". Vamos a beber um copinho que a água já me dá. Quando é que me podeis ir a forrar o poço"?
BANDA DE ALDEIA DE JOÃO PIRES

Naquele ano de
Há dias, festejou-se com pompa e circunstância, o centenário da sua fundação e o Baságueda aqui presta a sua homenagem a tão insigne Instituição: A União de Aldeia de João Pires, Sociedade Recreativa e Musical, de seu nome completo e oficial. A pompa e a circunstância incluíu a publicação do Livro “Banda Filarmónica de Aldeia de João Pires – Centenário”, da autoria de Lopes Marcelo, que reúne muitas das muitas histórias que cabem num século de história.
Contam-se duas, a primeira, protagonizada pelo primitivo impulsionador da Banda, o Pe José Maria, e recordada no dito Livro, remete para o episódio da efémera restauração da Monarquia em Aldeia de João Pires, em 1912; a segunda, referencia um outro grande homem da Banda: o Sargento “Jaimeca”.
1. Com a devida vénia, transcreve-se um pequeno extracto do texto de Lopes Marcelo:
“Na sequência da implantação da República em 1910, seguiu-se um período de agitação em que a perseguição às Ordens Religiosas e à Igreja Católica foi muito forte, com a alteração das funções dos Párocos resultante da Lei do Registo de Afonso Costa em 1911. Acresce que o Padre José Maria era um fervoroso adepto da monarquia e, em 1912, perante a notícia de que o movimento chefiado por Paiva Couceiro tinha restaurado a Monarquia no Norte, não se conteve e proclamou restaurada a Monarquia em Aldeia de João Pires em clima de festa e com foguetes. Quando a notícia chegou à guarnição militar aquartelada em Penamacor, logo a tropa saiu para repôr a ordem republicana…”
A história continua com a fuga do Pe José Maria, primeiro para Monsanto, com contornos rocambulescos, depois para a Espanha e daí para o Brasil. Anos mais tarde, em 1926, haveria de retomar as suas funções de Pároco de Aldeia de João Pires (e Aldeia do Bispo).
Fugas à parte, realça-se o episódio interessante da restauração da Monarquia pelo Pe José Maria, donde, comparativamente à grande maioria do resto do vastíssimo território português - nesta época incluíam-se as províncias ultramarinas -, Aldeia de João Pires tem mais tempo de Monarquia, ou, se se preferir, tem menos tempo de República.
2. Jaime Antunes Rei, mundialmente conhecido por Jaimeca, atingiu o posto de 1º Sargento do Exército Português, tendo dedicado parte da sua vida à Banda de Aldeia de João Pires, sobretudo a partir da aposentação em 1963, quando se fixou na sua aldeia natal. Localmente, também se referiam a ele como "sargento porqueiro" por via da criação de suínos que mantinha ali nas imediações da aldeia. O Changoto já nos fez antever, no post anterior, quão especialista ele era na arte de criar recos, a pontos de até ter pretendido registar a patente de uma nova raça: a ALJARPI. Os animais andavam soltos na sua propriedade, alimentando-se de tudo o que podiam encontrar, fossem bolotas ou criadilhas, preocupando-se Jaimeca, todavia, em lhes fornecer o complemento nas medidas que só ele sabia determinar, com as farinhas que ia comprar a Aldeia do Bispo, ao estabelecimento comercial dos progenitores destes dois que vos entretêm no Baságueda. Igualmente não prescindia da clássica vianda, composta de restos de comida e legumes vários, muita botelha, batata miúda, couves, tomate, enfim, todo o excedente da horta.
Antes de ter investido numa mobilette, seguramente por influência de algum emigrante em França, daquelas que possuíam pedais só para a pôr a trabalhar e depois andava sem mudanças, o seu meio de transporte por excelência era a bicicleta, quer para se deslocar a Aldeia do Bispo à farinha, quer para abastecer a pia dos seus tós. Cena característica era a do Jaimeca a transportar vários caldeiros de vianda enfiados pela asa numa vara assente no guiador da bicicleta, mais uma saca de ração no suporte traseiro. Um equilibrista, o Jaimeca. E sempre, mas sempre, com uma mola de roupa a apertar a parte exterior das calças, junto ao tornozelo, por via de não as sujar com a massa da corrente da bicicleta.
Numa das centenas de vezes que lhe vendi uma saca de 50 Kg de ração para porcos em crescimento, que ele acondicionou cuidadosamente no suporte traseiro, já ele tinha percorrido 100 metros estrada acima a caminho da sua Aldeia de João Pires, quando, ali junto à casa do Ti Julho Aspirante, lhe aconteceu um raro percalço que até o fez tombar. A cena resume-se em dois parágrafos:
Vinha a descer o T'Zé Branco, de aguilhão empinado assente no ombro, à frente da sua Junta mista composta pela vaca andorinha e da burranca freira maria, assim chamada por causa da lista branca na testa a contrastar com o escuro do resto do pêlo. A sair do quintal, vinha o jerico pardal do Aspirante que de imediato cheirou o cio da freira maria. O instinto animal do pardal não quis saber dos berros do Aspirante nem do aguilhão do Branco e vai de atirar as patas dianteiras para cima da asinina fêmea, firmemente determinado a doar-lhe a sua contribuição para a reprodução da espécie.
O rebuliço apanhou o nosso Jaimeca em cima da bicicleta, em equilibrio periclitante, não tendo conseguido evitar o estatelanço no alcatrão. Não ficou muito magoado o maestro músico, mas a saca da ração rachou ao meio espalhando a farinha para porcos em crescimento a toda a largura da via, mesmo à frente da vaca andorinha. Esta não se fez rogada a aproveitar a oferta, manjar raro para as sua beiças. Foram precisos algumas aguilhadas no costolado dos quadrúpedes, evidentemente acompanhados por vocabulário impróprio, mesmo para eles, por parte do T'Zé Branco, para repôr a ordem e a lei. Ajudei o Jaimeca a apanhar a farinha para uma nova saca e ele lá seguiu em direcção à aldeia dos cucos.
Aqui ficam expressos e registados os votos de longa vida à Banda Filarmónica de Aldeia de João Pires.