Já uma vez vos falei do fenómeno linguístico que consiste na lei do menor esforço. Aqui está mais uma prova. Correctamente, a palavra deveria ser descoroçoado - que significa, nem mais nem menos com o coração despedaçado/desfeito /desalentado /sem forças - mas isto daria muito trabalho de dobragem de língua ao zé povinho que prefere, naturalmente, o desacorçoado. Para o povo, em regra, o que serve já é bom, e desde que se faça entender, não precisa mais. Ao contrário de muita gente da nossa praça que se farta de falar e não diz nada de jeito. Só desejo, que no caso vertente, a nódoa não caia no melhor pano... Adiante que se faz tarde.
Tudo começa manhã cedinho: aí obra de umas cinco da manhã. PASSA CULPAS, vai aos gravatos à meda da lenha, apicha um palito a uma pinha, faz uma escaramuça por cima da ala com os gravatos, põe mais alguns, ajeita o pau grosso que tinha ficado da noite anterior, acrescenta uns tocos e umas cepas, desce as cadeias da chaminé, pendura a panela de ferro, já com água de nascente que apanhara na mina, bota para dentro uma gamela de feijão frade que a LIBRA previamente lavara e deixara de molho, verifica a ala, arreda uns paus mai grossinhos, diz à mulher que já volta e sai a caminho do PUTA MALUCA que morava pra lá do ABADE, que lhe dava passagem"por aquilo que é meu", salta o muro do caminho das portelas que vem das oliveiras de melão, arrima à eira, engata na vereda que dá à casa do Puta Maluca e endireita para o palheiro, onde vira uma réstea de luz que rebrilhava da torcida da candeia de azeite que a PATA GALHANA regulava com um alfinete, com que segurava a saia de fora, "por mor de poupér, que o azeite custa a ganhar". Isto porque o velho registo de aumento ou redução da torcida já tinha os dentes do carreto remoídos e não puxavam o trapo. Chaminé já tinha desaparecido e sempre recomendava ao PUTA MALUCA: «põe a candeia em sítio firme e longe da palha e dos cornos da bezerra, tu vê lá !nom nos desgraces» . O PUTA MALUCA fazia que não ouvia.
Bom... O PASSA CULPAS chega-se à porta do palheiro, e, para não assustar, nem o PUTA MALUCA nem a bezerra, que por ser nova, ainda não se acomodara à nova pensão, espreita pela fisga entreaberta e - que vê ele? - o PUTA MALUCA em cima do balde do desaguo, a pôr-se na bezerra. Assim mesmo! A bezerra estava saída e o PUTA MALUCA que já não se lembrava de ir à PATA GALHANA, desacorçoadinho de todo, vem-lhe assim uma vontade e ....bumba! toca de saltar à bezerra...
PASSA CULPAS, fica apardalado, esfrega os olhos, confirma o facto, finge que tosse, mas o PUTA MALUCA, no frenesim do acto não o ouve... PASSA CULPAS entra e vê a cara de prazer do PUTA MALUCA: "Karraio estás a fazer"?...e o PUTA MALUCA: "Dá-lhe lá um beijo na boca que eu num chego lá".
Acto cumprido, Puta MALUCA sentiu o pecado e sai-se: « a puta estava mesmo desacorçoadinha de todo; assim já sei que a posso levar ao Alberto daqui nada» e o Passa Culpas: «Tu é que é que estavas desacorçoado». " E tu num te estavas a pôr na chibeta amarela, ali ao pé do barroco do Rainho, quando a tua se foi à missa? Pensas que num vi? Atirou o PUTA.
Houve silêncio, que o caso não era para menos , mas logo se sai o PUTA: "num me vieste a ver a saltar à bezerra! Vamos ali a malhar um tinto e já me contas... chega-me aí essa paveia, tira-lhe o nagalho e bota aqui na manjedoura!
Lá foram os dois, a torneira da pipa chiou, o copo deborcou-se PASSA CULPAS pede a grade emprestada ao PUTA MALUCA e dirige-se à mulher: "EH cachopa! arranja-me aí cem mil réis que tenho que ir a chegar a bezerra ao boi do Alberto antes que lhe passe o cio". Lá se foi ela à bureca onde guardava o dinheiro dentro duma lata por causa dos ratos, tira os cem mil réis e recomenda:"tu vê lá se o boi enterra bem a bezerra, pega-lhe na sovela com a mão e encatrafia-a assim comédado e diz ao Alberto que, se não pegar, o boi, à próxima, lhe dá o salto sem pagarmos, vê lá!" PUTA MALUCA rosnou e partiu caminho de aldeia.
Tudo começa manhã cedinho: aí obra de umas cinco da manhã. PASSA CULPAS, vai aos gravatos à meda da lenha, apicha um palito a uma pinha, faz uma escaramuça por cima da ala com os gravatos, põe mais alguns, ajeita o pau grosso que tinha ficado da noite anterior, acrescenta uns tocos e umas cepas, desce as cadeias da chaminé, pendura a panela de ferro, já com água de nascente que apanhara na mina, bota para dentro uma gamela de feijão frade que a LIBRA previamente lavara e deixara de molho, verifica a ala, arreda uns paus mai grossinhos, diz à mulher que já volta e sai a caminho do PUTA MALUCA que morava pra lá do ABADE, que lhe dava passagem"por aquilo que é meu", salta o muro do caminho das portelas que vem das oliveiras de melão, arrima à eira, engata na vereda que dá à casa do Puta Maluca e endireita para o palheiro, onde vira uma réstea de luz que rebrilhava da torcida da candeia de azeite que a PATA GALHANA regulava com um alfinete, com que segurava a saia de fora, "por mor de poupér, que o azeite custa a ganhar". Isto porque o velho registo de aumento ou redução da torcida já tinha os dentes do carreto remoídos e não puxavam o trapo. Chaminé já tinha desaparecido e sempre recomendava ao PUTA MALUCA: «põe a candeia em sítio firme e longe da palha e dos cornos da bezerra, tu vê lá !nom nos desgraces» . O PUTA MALUCA fazia que não ouvia.
Bom... O PASSA CULPAS chega-se à porta do palheiro, e, para não assustar, nem o PUTA MALUCA nem a bezerra, que por ser nova, ainda não se acomodara à nova pensão, espreita pela fisga entreaberta e - que vê ele? - o PUTA MALUCA em cima do balde do desaguo, a pôr-se na bezerra. Assim mesmo! A bezerra estava saída e o PUTA MALUCA que já não se lembrava de ir à PATA GALHANA, desacorçoadinho de todo, vem-lhe assim uma vontade e ....bumba! toca de saltar à bezerra...
PASSA CULPAS, fica apardalado, esfrega os olhos, confirma o facto, finge que tosse, mas o PUTA MALUCA, no frenesim do acto não o ouve... PASSA CULPAS entra e vê a cara de prazer do PUTA MALUCA: "Karraio estás a fazer"?...e o PUTA MALUCA: "Dá-lhe lá um beijo na boca que eu num chego lá".
Acto cumprido, Puta MALUCA sentiu o pecado e sai-se: « a puta estava mesmo desacorçoadinha de todo; assim já sei que a posso levar ao Alberto daqui nada» e o Passa Culpas: «Tu é que é que estavas desacorçoado». " E tu num te estavas a pôr na chibeta amarela, ali ao pé do barroco do Rainho, quando a tua se foi à missa? Pensas que num vi? Atirou o PUTA.
Houve silêncio, que o caso não era para menos , mas logo se sai o PUTA: "num me vieste a ver a saltar à bezerra! Vamos ali a malhar um tinto e já me contas... chega-me aí essa paveia, tira-lhe o nagalho e bota aqui na manjedoura!
Lá foram os dois, a torneira da pipa chiou, o copo deborcou-se PASSA CULPAS pede a grade emprestada ao PUTA MALUCA e dirige-se à mulher: "EH cachopa! arranja-me aí cem mil réis que tenho que ir a chegar a bezerra ao boi do Alberto antes que lhe passe o cio". Lá se foi ela à bureca onde guardava o dinheiro dentro duma lata por causa dos ratos, tira os cem mil réis e recomenda:"tu vê lá se o boi enterra bem a bezerra, pega-lhe na sovela com a mão e encatrafia-a assim comédado e diz ao Alberto que, se não pegar, o boi, à próxima, lhe dá o salto sem pagarmos, vê lá!" PUTA MALUCA rosnou e partiu caminho de aldeia.
Alberto, ao tempo, moía a azeitona no lagar da Lameira e quando o Sol começou a clarear lá aparece o PUTA MALUCA, chega-se à orelha do Alberto: " Traz lá o boi que a minha bezerra está desacorçoada de todo. Já a experimentei lá em casa, no palheiro, e nem se mexeu". Alberto, invariavelmente bêbedo:" agora o boi está no acarro, tens que esperar" e vira-se para o TONHO MOTA: «Ó Tonho aqui o Puta Maluca ensaia as bezerras antes de as trazer ao boi. Se a mulher o vê a cavalo na bezerra é capaz de lhe perguntar: "Ah! queres uns cornos, queres,? trocas-me por uma vaca? vê lá se te troco por um burro!" E riram-se. PUTA MALUCA vai pela vara com aguilhão e queria ferroar o Alberto : «Está quieto senão não te cubro a bezerra! «É a tua sorte» diz o Puta.
Acabado o acarro, bezerra presa na parede ali ao pé do Posto de transformação, Alberto traz o Galante, e quando lhe cheira a bezerra saída tira a língua para fora, quase aventa com Alberto e nem houve preliminares. Foi tiro e queda.
PUTA MALUCA assomou-se, viu que estava bem encavado e foi um ar que lhe deu.
«Eu num te disse que ela estava desacorçoadinha de todo? Eu bem sabia.»
Os cem escudos mudaram de mão e Alberto, para fazer as pazes, lá vai com o PUTA MALUCA a beber o alboroque àquilo do Cavalheiro. Só podia ser assim.
15 comentários:
Nasci na Beira, na Alta, mas foi onde assim se fala que cresci. Aldeia do Bispo, pois bem. Dez longos anos - porque a saudade os torna maiores.
É saudável verificar a imutável sensação das palavras. Daquelas que ouvia diariamente e que, após longos anos, se mantêm na minha memória como cravo de Abril.
Tomei a liberdade de os acrescentar ao meu humilde e pueril portal. Espero que não seja inconveniente. Mai nada...
Às vezes, também eu ando dasacorçoadinho de todo. Mas não me vou a pôr nas vacas, caralho...
bela esta dupla poética... suas histórias fazem com que a nossa mente viaje por veredas que jamais ousaria doutro modo!
estórias que ilustram o saber, a juventude e a experiência, a alegria e a tristeza, a vivência e o calor das emoções outrora sentidas e que permanecem em suas memórias...
bendito o dia em que ousaram divulga-las!
Agora essas experiências também fazem parte da memória dos mais jovens que podem olhar para a Nossa Aldeia com outros olhos de conhecimento!
um bem haja,
aaaaaaaaauuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu
Mais um de tantos, todos tão bons, que a vontade de ser honesto, se confunde, com a "sabujice" da gargalhada, mistura entre o riso pessoal e a saudade de rir. Eu acredito, são os melhores momentos, quando se solta aquela gargalhada. Mas isso é outro tipo de Humor. Este não dá pra rir-. Sorrir tipo meia boca aberta tudo bem.
Já agora, aproveito. O lobo táse bem! Aproveita o mais que puderes. Um Abraço.
Sim tá perto, eu é que sei. Digo eu. Em qualquer dos casos é informação de borla á minha pála. sim eu é que sei. Tô lá agora preocupado com a inveja? Esse sentimento, ainda existe? Azar, as pessoas ficam com cancro, se tiverem esse sentimento. Ouvi dizer. Sei lá se é verdade? Só sei que mereço, porque fiz por isso. Sou pessoa com P grande dentro do sistema, sou a alma do sistema. Não foi dificil, nada, bastou respeitar o meu pai. Isso não se compra na farmácia. Isso nasce com a gente uns tem outros não. Chama-se Narcisismo. QB. Muito QB. è nesse QB que mora a estória.
Eu sei, eu sei. Uma piada sobre a vaidade, cai o Carmo e Trindade. Quem? Ele Pois eu? Até parece que por ser magro, não há aqui também gordura manhosa! Claro que sim. Há muita "manhosi-se"? mais gordura houvesse. Mas não é o meu genero. Há sempre um luís, que diz que não! Diz que não! esse gajo é sempre tão afirm,ativo. Não dá hipotese. Querem comprar eu vendo. Bem nem sequer, me deixou fazer isto!! Imaginem...
Fico sem palavras. Desde que descobri, que as palavras, tambem bailam. Novidade. A minha ignorancia. Não sei se lhe dê razão ou se faça o "home worke" Quando era novo não tinha vertinguens! Agora já não sei, esta porra balança? Anda lá já ninguem te leva a mal. Mas tambem já atinjiste o complexo de peter. Por aquilo que a RTP, mostrou hoje, o melhor de sempre? na minha opinião, complexo de "peter".
Rais parta o(a) pratitamem! Gostava de saber se é casado(a), só para saber se há quem seja capaz de o(a) aturar a tempo inteiro. Não sei, não...
Se fosses ingloula, ainda se podia dar o caso, agora grelos é memo de couve.
Lá está, é isso mesmo. Aturar. Isso não é conversa. A full time, só pra aturar. Ninguem deve aturar ninguem, é um dos meus medos de sempre, ser aturado. Verdadeé que o faço todos os dias, será mau! bem na verdade isto resulta porque nos aturamos uns aos outros é mesmo assim. Agora com horários, permanentemente, the oll fucking hours off your day, Ná. Não gosto de ser aturado assim. Por isso busco sem medo do mar alto e sem pavor ao finisterra. O que mais há são ilhas por descobrir e o capitão ainda cheio de vontade.
Bem, mais uma patacuada. Em todo o caso em dia diferente. Este blog, devia ter o dia marcado, em vez de outro tipo de engenheirias, esta conversa é só pro engenheiro. Tanto esforço pra controlar o que disse antes, tentando não ser, pavão, que lá se foi aquilo que queria dizer, julgo até, que era interessante.
Quem diria! um pratitamem VISIONÁRIO!!!
Por um lad, o relativamente ao e, ngeneiro!
Mas o mais importante... O "capitão" e AS ILHAS POR DESCOBRIR!!!!
BRUTAL...
Erro de casting... não foi um anónimo, foi mesmo o pratitamem!!!!!
Estes dois últimos posts, foram em Abril de 2018!
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