Os portugueses são exímios a atamancar. Por regra deixam tudo para a véspera do limite final e, depois, lá se vão desenrascando. Mas de forma atalamancada. Respiram de alívio e logo esquecem os tremores por que passaram e voltam a adiar a cabal resolução do problema até que de novo se sintam premidos pela urgência.
Participei, já lá vão anos num Fórum sobre personalidade base, inconsciente colectivo e padrões de cultura, que são, no fundo a matriz comportamental de um qualquer povo. Um dos parceiros do painel estabeleceu uma comparação muito sui generis entre os portugueses e os alemães da qual não mais me esqueci. Do seu ponto de vista os portugueses eram espertos mas menos inteligentes enquanto os alemães eram inteligentes mas pouco espertos. Assentava esta tese num argumento que pode parecer e até ser uma falácia mas que não deixa de ser curioso: os portugueses começam a rir-se mito antes de um qualquer entretainer acabar um anedota enquanto se houvesse um ouvinte alemão teria que esperar pelo fim, desvendar onde estava o absurdo e só então se riria procurando também compreender por que raio o português se começou a rir tão antes do fim do chiste. Os portugueses andam pela rama, os alemães vão à raíz.
Não vem ao caso debatermos a asserção mas do que não há dúvida é que eles planeiam e nós passamos a vida a remendar. Muitas vezes de forma atamancada e é por isso que, a breve trecho, torna a ficar tudo atalamancado.
Veja-se o que se passa na (des?)governação deste rectângulo. O país todos os anos arde mas já alguém se preocupou em fazer um planeamento adequado para uma correcta reflorestação das áreas ardidas? Esporadicamente lá vão tomando medidas avulsas que pouco ou nada solucionam já que não são medidas isoladas e desenquadradas. Passam o tempo a remediar e quase nunca a solucionar. Atamancam tudo, é o que é. Podíamos estender a nossa análise à Educação (lançamento de programas totalmente ad hoc sem qualquer aferição prévia que pudesse validar e fiabilizar a sua implementação); podíamos estender à Saúde onde medidas mais impostas do que respostas vão liquidando o SNS); ao Trabalho e Solidariedade Social com intenções malévolas de tudo pretender privatizar... Tudo atamancamentos.
Bem... mas o âmbito do nosso Basa não é o do comentário político para não nos pormos também a atalamancar.
Voltando à base: inquestionável é que o português se tiver um alicate e um arame resolve quase tudo. Mainada!
João Manel - o Salazar - era assim uma espécie do Vai-a -todas sem perceber de nenhuma. Vi-lhe fazer pretensos sapatos, forrar tectos a ripa, pintar, rebocar, aparelhar pedra, fazer parede (construiu sozinho a sua própria casa ), lançar foguetes, elaborar bombas artesanais para pesca clandestina, pôr tachas em navalhas, soldar, aplicar gatos em pratos e travessas de porcelana, remendar panelas de ferro rotas, lixar e aparelhar carros, arranjar motorizadas, desenrascar muitos aflitos com problemas eléctricos variados, mas foi sobretudo como animador de arraiais de festas populares com a sua aparelhagem meio artesanal, meio profissional e como leiloeiro das oferendas que mais se distinguiu. Para além, é claro, de ser um campeão de gamar tudo o que lhe pudesse ser vantajoso: desde bilhas de gás até pregos, chumbos para pressões de ar, fios eléctricos, ferramentas várias, discos, e sei lá que mais...
Também é verdade que passou por ser autor de muitos roubos dos quais estava inocente.
Com maior ou menor capacidade ele lá ia atamancando tudo e era relativamente chamado para os diferentes serviços. Com o que ele não queria nada era com a agricultura. Bem bradava com ele a mãe, a velha Natcha (Maria Inácia, de nome próprio) para a ir ajudar a semear batatas ou a regar a horta... Vai lá vai!...
O certo é que lá ia governando a vida umas vezes mais atamancadamente outras nem tanto. Perdi-lhe o rasto depois que se casou. Conheci-lhe uma casota no alto da Buraca feita com material que ia recolhendo no lixo e que transportava às costas. E está bem de ver: como ferramenta apenas um alicate e muito arame. Será que anda por lá?
XXXIIIIIIIIIGGGGGGGRRRRRRRRRRRRRAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAANNNNDDEE.
1 comentário:
O hábito de visitar este blog não é muito regular mas meu Deus cada vez que isso acontece lá vem à tona mais uma recordação já há muito perdida nas profundezas da memória. É claro que me lembro do Salazar, xendro, mais do que do "outro" que vivia lá na longínqua capital, natural de Santa Comba e conhecido de muito mais gente.Acabou por cair duma cadeira.Este, o xendro tinha um irmão e de ambos perdi há muito o rasto.
Enviar um comentário