quinta-feira, novembro 08, 2012

A NOSSA FALADURA - CLXXXVII - PIN(T)CHO

Temos sempre a natural tendência para os extremos e, por isso, limitamos os nossos próprios contornos de pensamento, acomodando-nos a um hábito comezinho da formiga no carreiro. É assim que comodamente dizemos "se não é boi é vaca" , se não é bom é mau, se não é por mim é contra mim, se não é preto é branco, se não é fácil é porque é difícil, se não é por deus é pelo diabo, se não é gordo é magro, se não é baixo é alto, se não é mentira é verdade,... Estaríamos aqui até ao infinito.
Ora, esta divisão dicotómica de espírito maniqueísta é anquilosante de um espírito que se pretende aberto e revisível, adepto de mudanças e de progressos. Mas é sempre nesta base que temos tendência a pensar, pois é aí que nos sentimos mais seguros. Ainda aqui, e mais uma vez, somos cartesianos: "quando não souberes o que fazer, faz como os outros" e nisto nos sentimos seguros.
Somos mesmo muito comodistas...
Vivemos muito de convicções e recusamo-nos a pensar que aquilo que julgamos ser uma verdade inabalável, pode, afinal, não passar de um preconceito...E todos sabemos que os preconceitos são, em regra, mal fundamentados e têm sempre um sentido negativo e pejorativo. Dito de outra forma: as nossas certezas tem alicerces arenosos e assentam em bases mal fundamentadas. Vivemos, portanto, no seio de meras ilusões, confundindo a sombra com a realidade.
A verdade é que a verdade não passa da superação de erros e que a humanidade vai progredindo não pintchando de uma verdade para outra mais perfeita, mas , ao contrário, progride por sucessiva eliminação de erros.
Bachelard defendia que as ideias são anteriores aos factos e, na verdade, a ideia de que a Terra girava em torno do sol teve que esperar até que  a comunidade científica aceitasse esse facto, porque durante tempos longos ela estava parada e o sol é que girava em seu redor.
Na mesma ordem  de ideias  somos levados a defender, se nos perguntarem: que é primeiro: o pensar, ou o fazer? ou, o que dá na mesma: pensamos porque fazemos , ou fazemos porque pensamos?, somos levados a defender, dizia, que primeiro é o pensar e depois o fazer, isto é, fazemos depois de pensar.
A história, todavia, ensina-nos o contrário. Não podemos partir do pressuposto errado de que aprendemos a nadar lendo tratados de natação...Leroi Gouhran em Le Geste e la Parole chama a atenção para a dialéctica evolutiva , justificando, e bem, que a mão se libertou a partir do momento em que o pé ficou com a tarefa do andamento e a mão pôde prolongar-se com os instrumentos, levar os alimentos à boca e só muito depois é que o cérebro se desenvolveu e pôde começar a pensar. Se o caminho se faz caminhando também se aprende a andar, andando. O pensamento é muito tardio face às outras actividades humanas e, por isso, ao contrário do usualmente defendido, a verdade é que pensamos porque fazemos. Antes é o fazer e só depois vem o pensar. É preciso dar o pin(t)cho.
Tonho Arplano, naquela sua figura esguia, pregava na Lameira que a Terra era muito maior do que o mar porque se o mar fosse maior o que a Terra quando chovia inundava tudo e nem as serras se escapavam como tinha acontecido no tempo do Dilúvio em que o Noé teve que esperar que a pomba já não voltasse , o que significava que já tinha onde pousar e até fazer o ninho, não precisando já da secura da Arca. Deus mandou  encolher o mar e aumentou a Terra que , assim, é muito maior do que o mar. Tanto dava que fossem todos contra ele, ou nenhum, porque asseverava: daqui não saio e daqui ninguém me tira". Ficava a falar sozinho, mas mantinha que a Terra continha o mar nos seus limites e mainada.
É preciso dar pinchos mas também obedecer ao preceito do velho Comandante: "Vê bem antes de saltar".
XXXXXXXXXXXXXXIIIIIIIIIIIIIIIIIGGGGGGGGGGGRRRRRRRRRRAAAAAAAAANNNNDDEE


5 comentários:

Zé Morgas disse...

A propósito do vê bem antes de saltar.
Sabeis aquela do pobre encornado pela esposa, desesperado numa varanda num sétimo andar, prontinho a jogar-se ao solo, quando ela grita cá debaixo:
Querido vê lá bem o que fazes antes de saltar, eu pus-te um par de cornos, não te pus um par de asas.
Vai lá vai...

pratitamem disse...

nÃO É SABIO quem quer é sabio quem pode! E esse poder, deriva dessa mistura do querer ainda mais do que do poder! Se bem que o poder nunca leva ao saber, não havendo o quer, mas o quer não chega. Assim nasce o pre-conceito! Eu sou um defensor, até em tese, desse bicho, o pre-conceito! Julgo os outros, julgando-me a mim primeiro, admito os conceitos de forma pre-visória, aprendi a ser assim porque aos quinze anos era pre-adolescente e à medida que fui crescendo, foram aumentando os meus pre-conceitos! Assim nada tenho contra essa mania, claro que é importante ter sempre presente, que se tratam de pre-conceitos. Agora, preocupa-me aquele que me parece ser o maior de todos os pre-conceitos ou seja o preconceito de não ter pre-conceitos! disse isto há poucos anos numa aula de ciência politica e afirmo este sentimento agora! Posto isto, importa dizer que este esforço de tentar dizer alguma coisa, apenas existe, porque tenho este privilégio, de ler posts como este, com a qualidade de marca do Senhor Changoto, pessoa de quem tenho como já escrevi antes, muita pena de não ter sido aluno.
Mais um post de cinco estrelas! Um abraço.

pratitamem disse...

Nunca confundam pré-conceito, com pri-vilégio ou mesmo com pre-vilégio! Sei que tem havido um pre-conceito muito grande, no que diz respeito a pre-koias passadas!...

pratitamem disse...

Lia em jeito de sobremesa, este teu post. Como sabes, julgo, nunca leio tudo da primeira vez, leio sempre na diagonal(sem azo a piada!:::) na primeira vez, mas agora nesta leitura sem preconceitos, fiquei ali no último paragrafo! ..........
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Já saltei, falta ainda um último passo, dinheiro e incentivo para chegar à outra margem! Conto contigo.

pratitamem disse...

Fora de contexto, mas dentro deste palavriado, só queria dizer a alguém cuja amizade me alenta, que sei, porque assim foi comigo! Que depois da tempestade vem a nossa maravilhosa vida!