domingo, agosto 07, 2011

A NOSSA FALADURA - CLXIX - AGA(T)CHAR

Vai longe o tempo em que a ironia fina - não fora o lápis azul uma realidade! - se expressava nos jornais, revistas, rádio e televisão, quando não mesmo em obras de alto coturno, como o teatro dramático ou de revista... Lembro-me por exemplo de "Os Ridículos" cujo director era o José Viana. O Editorial era assinado por um tal C`HPYÃO. Este nome metia-me espécie e andei anos para desvendar o segredo. Vem aqui a confirmação do mito do famoso aforismo: «quem encontra sem procurar é porque já muito procurou sem encontrar». Foi mesmo assim: num dia em que viajava catapum, catapum, rio abaixo como dizia o velho Olho de Lata, esse mesmo que quando foi ao IPO encheu "três garrafos", de repente sai-me desvendado o mistério: afinal o C`HPYÃO mais não queria dizer do que caga pião : a letra H (agá) com o acento grave atrás (`H) alterava a tónica e em vez de se ler AGÀ, devia ler-se ÀGA. Dei um murro na parede do combóio que o meu comparsa da frente, que ia a rosnar, ficou a pensar que teria sido para o acordar do remanso!
Foi aí que li uma das mais inteligentes ironias (transcrevo de memóra) :" Diz um surdo-mudo para outro surdo-mudo : - 'oh pá! desculpa lá estar a gaguejar, mas tenho reumatismo no braço direito'.
Não queria ser repetitivo, mas não sei se já disse aqui no basa que nos tempos de há 40 anos atrás, segundo o velho Arnaldo das Finanças, tinha mais licenciados a aldeia dos xendros do que todo o concelho de Penamacor!

Vem isto a propósito da figura que hoje vos quero aqui trazer e que nunca se aga(t)chou, ou , como escreveria o editorialista de «Os Ridículos»: nunca se Hchou! : o senhor Professor Marcelo. Esta vedeta, casado com D. Alice, morava mesmo ao lado da Igreja. Mas nunca lá pôs os pés. Nem mesmo morto.
Anticlerical convicto rebatia quem invocasse o nome de Deus à sua frente. Comunista militante, com residência fixa, zurzia com toda a gana em ideias e práticas capitalistas, mais comedidamente no nosso meio, em tudo o que de algum modo pudesse conduzir ao endeusamento de Salazar, seu inimigo ideológico predilecto. Não eram muitos os que acompanhavam o seu raciocínio, nem eram muitos aqueles a quem ele dava alguns minutos de conversa. Isolado, mesmo quando passeava a estrada, ou vinha com D. Alice e todos sabiam da conversa, porque ela era surda quem nem uma bota da tropa, ou percorria sozinho, às vezes com Mné Chquim Carreiras, já aqui referenciado, ou o velho professor Landeiro, cuja próstata o traía e deixava visível o descontrole do esfincter.

Muitas peripécias do professor Marcelo podia aqui trazer-vos, que eu era uma das poucas pessoas com quem ele dizia que se podia "entabelar uma conversa de jeito". Trago-vos apenas uma:
No seu deambular do magistério, antes de ser dado como comunista confesso e de lhe ter sido aplicada a pena de residência fixa com apresentação semanal à G.N.R. de Penamacor, trabalhou um ano em Braga.
Não sendo, como já atrás se esclareceu, crente, isso não o impedia de visitar, por motivos puramente estéticos, os monumentos, museus e demais pontos de interesse das localidades e regiões por onde passava. Devo mesmo dizer que a sua cultura geral era, para a época, elevadíssima!
Bem, estando em Braga, não podia deixar de subir e visitar o BOM JESUS. E visitou. Ora aconteceu que no dia em que se decidiu, mais a sua Alice, a visitar o templo ex libris da Braccara Augusta, uma freira, vá-se lá saber porquê..., descia as escadas aos rebolões, devido a uma escorregadela, poucas escadas acima daquela onde Marcelo e esposa subiam. Tudo aos gritos, AGARRA; AGARRA...mas a freira passa por eles que nem se mexeram. Todos se viraram para ele com olhar acusador e inquisidor!
Sai-se então o professor Marcelo: " Eu pensava que era promessa que tivesse feito"!
Ficaram todos desarmados.
"Um homem nunca se agatcha, dizia, senão mostra os entrefolhos!"

XXXXXXIIIIIIIIIIIII GGGRRRRRRRRAAAAAAANNNNNNNDDDDDDDDDEEEEEEEEEEE


(texto do changoto, publicado pelo karraio por razões de ordem técnica)

11 comentários:

Anónimo disse...

Merecida homenagem ao Prof. José Marcelo.

pratitamem disse...

Dr. Cunha Inselmo, não perdendo de longe, essa vontade de ligar o sistema a que pertence, a esse passado, em que viveu, só pra fazer justiça, na época era a PSP em Penamacor, e fica na minha opinião resolvido o enigma da importância que as policias tem para algumas pessoas, a quem eu atribuo, importância.

pratitamem disse...

O que qUER DIZER RESID~ENCIA fIXA! E AS APRESENTACÕES é no clube'? ou na Ti Rosa?

pratitamem disse...

O vale e Azevedo está a escrever um livro sobre este tipo de medidas de coação. ouvi dizer!...

pratitamem disse...

A cultura geral, mais fria no inverno, tem épocas muito quentes em, sobretudo alguns veraos. Hi Hi, o que eu me riu...mesmo em tempos, diga-se, quando haVIA ROBALOS NA RIBEIRA DA aLDEIA, A CULTURA geral eRA MAIS DO QUE MUITO DO É HOJE dR. ANSELMO!sÓ ERA EXACTAMENTE PARA OS MESMOS QUE É HOJE. pARA TODO TIPO DE GENTE, QUE NÃO É PARVA.(MUITO POUCOS)!

pratitamem disse...

A musica Laurinda, faz-me lembrar um nome que porventura nunca esquecerei, nesse sentido e porque sou conscientemente um gajo com mau feitio. Queria fazer mea culpa ao meu amigo de sempre e um dos poucos amigos verdadeiros que a vida nos dá, o meu amigo Dr. Inselmo Cunha.

pratitamem disse...

A letra da musica nada tem que ver com a realidade dos acontecimentos, nem o nome da rapariga que é Belmira, mas Laurinda pra gajos complicados, é Laura e Belmira?...

pratitamem disse...

Epá é tão bom sentir isso. Era gajo pra viver numa ilha deserta, mas com os meus amigos! A vida pra mim sempre foi um pregatório, desde o momento em que a morte se m,e anuciou, julgo, que com 6 anos, no entando as amizades, sempre transformaram isso, neste paraiso! Bela musica Amigo!

pratitamem disse...

Este é um fado que ainda me "ouvirais" cantar!

Anónimo disse...

Se cantas fado como escreves, deixa-te estar calado pratitamem

pratitamem disse...

Os anónimos dos blog's, fazem-me sempre lembrar os bufos, de outros tempos! Ainda não consegui foi relacionar o cheiro que a palavra bufos, ainda hoje nos faz sentir, com a imensa coragem, com que então era normal conotar esse tipo de gente. Será porque é necessário ser muito corajoso, para sentir sozinho o nosso próprio cheiro, evitando assim que os outros sintam o nosso hálito, coisa que passamos a vida a tentar fazer aos outros?