Aqui no Baságueda gostamos de uma boa história embrulhada numa boa escrita.
A que se segue foi importada, mas preenche os requisitos.
Carta dirigida pelo Dr Frederico de Moura, Médico e Historiador de Vagos, ao Dr Nogueira Lemos, Médico Cirurgião de Aveiro
Meu caro Lemos
É coisa axiomática que o pénis não obedece a freio; e é coisa de esperar que a natureza o tenha dado a animal que lhe não obedece. Mas como a esta estuporada profissão que exercemos só aparecem anormalidades, aberrações e coisas em desacordo com a natureza, surgiu-me hoje no consultório esse rapazinho que lhe envio, com um freio de tal dureza e de tal conformação que o insubmisso pénis tradicionalmente indomável, não teve outro remédio senão ceder. Calcule os mistérios e os paradoxos desta ladina natureza! Esse moço, na casa dos vinte anos com uns corpos cavernosos que devem estar isentos de qualquer obstrução, e concerteza dispondo de uma libido afinada capaz de lhe fazer sair, erecto, o próprio umbigo, resolve ir para o casamento com os seus (dele) três vinténs e confirma, então a suspeita que já tinha, de que no auge da metálica erecção, o pénis fica em crossa como o báculo de um bispo, por incapacidade de vencer a brevidade e a dureza do freio que lho verga para a terra. Calculará o meu prezado Lemos, as acrobacias de alcova que este desgraçado terá de realizar para conseguir a penetração de um membro viril, quase tão torto como uma ferradura, na vagina suplicante da consorte.
De modo que o rapazinho veio pedir-me socorro, e eu condoído peço-lhe a sua colaboração em favor da harmonia conjugal, com a certeza de que por isso ninguém nos irá acoimar de chegadores. Condoa-se a cirurgia de braço dado com a medicina que, por intermédio deste fraco servidor que eu sou, já se condoeu e endireitemos o pénis torto (e nada de confusões, que não é mole pelo que me afirma o proprietário). Lembremo-nos, sobretudo, ao praticarmos esta obra, que vem aí um tempo em que um pénis destes, mesmo em arco ou em forma de saca-rolhas, nos fariam um jeitão, e ajudemos o pobre rapaz que se compromete comigo a fazer bom uso dele, emprenhando a mulher da primeira vez que o usar, depois da operação ortomórfica que o meu amigo lhe vai fazer sem sombra de dúvida.
Desculpe mandar-lhe desta vez uma tarefa fálica! Ouvi uma mulher um dia dizer que um Phallus é um excelente amuleto e que dá sorte verdadeira. Se quiser tirar a prova não tem mais que endireitá-lo… e jogar a seguir na lotaria. Desculpe, pois, a remessa de bicho tão metediço que eu por mim prometo, logo que possa, e em compensação, mandar-lhe uma vulva virgem inacarada como uma concha de madrepérola.
Um abraço do seu amigo certo
Frederico de Moura
PS: Como a minha letra é muito má segundo a sua opinião, e como o assunto desta carta é muito importante para duas pessoas, uma das quais do sexo fraco, entendi do meu dever dactilografá-la. Assim, não haverá nenhuma razão para o meu amigo dizer que não entendeu o que eu queria e, por partida, deixar o aparelho na mesma ou pior, ao rapaz.
Quero ainda dizer-lhe que para sua compensação, tenciono depois do êxito que o seu ferro cirúrgico vai alcançar comunicar o seu nome à mulher beneficiada que, por certo, lhe ficará eternamente grata, ficando sempre com a sua pessoa presente na memória nos momentos – e oxalá que sejam muitos! – em que se sentir penetrada por um pénis que só o meu amigo conseguiu endireitar. E nem sei se o Estado virá louvar a sua acção, se lhe for dado conhecimento que os filhos que saírem daquele casal são devidos em grande parte não ao seu pénis mas, sem dúvida, à sua mão.
E filhos com a mão nem toda a gente se poderá gabar de os fazer!
Creia-me seu afeiçoado, Frederico
27/03/1958
4 comentários:
Esta história fez-me lembrar uma outra que se terá passado entre nós. Diz-se, pois, que havia numa fraguesia do norte do concelho um Sr. Padre, muito devoto de mulheres, e que, por via disso,frequentava certos lugares para esse fim,(isto quando havia as ditas casas) que terá apanhado uma doença venérea, uma blenorragia,ou seja, em termos vulgares, um esquentamento.
Foi, ele, então ao médico, em Penamacor, ao Dr. Barbas. Sem saber bem, como havia de apresentar o seu caso, lembrou-se de dizer que tal infecção se devia ao roçar do orgão fálico na batina, que então usava.O Dr. Barbas, pouco caritativo,, então, não foi de modas e disparou-lhe: Oh! Sr. Padre, a sua batina sempre me saiu cá uma puta!
Hoje, já não se escreve assim , com esta forma delicada, doce e bela , com este virtuosismo do conceito e malabarismo da palavra . Perdeu-se o habito da escrita e esqueceu-se que a leitura amplia conhecimentos e leva-nos além dos limites de tempo e espaço, permitindo que entremos em contacto com o espírito humano , a natureza e todo o repositório de sabedoria existente desde o inicio dos tempos . Muitos jovens de hoje ainda não descobriram o poder que tem o hábito de ler e o enriquecimento que ele proporciona à pessoa. A leitura leva o leitor a reestruturar as suas significações pessoais, e assim, quanto mais se lê, mais se aprende. Porque é impossível separar a leitura da escrita, à medida que se lê, escreve-se melhor, desenvolve-se o potencial criativo, e, deste modo, acontece o encontro do homem consigo mesmo e com a sua cultura .
- Karraio : Parabens pela escolha do texto
Já nada é como antigamente. Nem pénis. Nem médicos. Nem noites de núpcias!!!
Parabéns por esta magnífica descoberta!!!
Fabuloso!!!
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