segunda-feira, agosto 04, 2008

A NOSSA FALA - CXI - COSSENÃO

Resolvi trazer-vos hoje uma novidade. Espero que gosteis. Às vezes a gente põe-se a escrever e as palavras vêm sem pedir ordem e as ideias juntam-se e formam um cozinhado que, ora sai apetitoso, ora arisco. Ao fim de ter escrito isto disse: não está mau. Só por isso vo-lo deixo. faz lembrar o início da Casa Grande de Romarigães, do não menos grande Aquilino: quis fazer um gamelo para o cão e saíu-me um tropesso. Quando comecei não sabia onde ia parar. Deixei-me ir. Se quiserdes fazer a viagem comigo acompanhai o trajecto.

Chamei-lhe o REINO DO COSSENÃO

Nunca estamos sós cossenão não tínhamos para quem escrever e assim era tempo baldado este que aqui agora despendo. Um homem casa-se para não ficar sozinho e ter quem lhe coce as costas cossenão tinha que alisar as esquinas das paredes. É neste reino do cóssenão que vive o Calado que diz tudo cossenão "arrebentava" e um Calado se "arrebenta" fala. Foi por isso que um dia me disse o Calado: Dizem que disse ou tenho dito é o que se diz quando já se disse o que se tinha para dizer; ora como eu ainda não disse o que tinha para dizer não posso dizer que já disse; por isso digo e torno a dizer que tenho que dizer o que tenho para dizer cossenão este reino do cossenão não diz o que tem para dizer e deve ser dito e isso não fica bem ao Calado que tudo diz. Há outros que eu conheço que pertencem a um outro reino que é o dos Cus Aqui Estão que falam com o dito e por isso valia mais que estivessem Calados mesmo não se chamando Calados como eu que calado tenho que falar. A mim nada me acontece quando digo o que tenho para dizer porque sou Calado e assim posso dizer que disse quando já tiver dito o que tinha para dizer. Portanto aqui fica dito que disse o que era para ser dito; portanto disse ou tenho dito que é como quem diz que já disse o que disse. Disse.

Aqui ficam as regras para aqueles que quiserem pertencer a este reino do cóssenão:

1- Escrever a preto em papel branco

2- Contar contos sem os contar

3- Dizer coisas sérias a rir

4- Ser do contra quando se está a favor, só se fazer cada vez melhor

5- Ser lógico até no absurdo

6- Ter sempre à mão o que está ao pé

7-Ter sempre ao pé o que está à mão

8-Cortar no cortado

9-Bufar sem cheirar

10- Falar calado

11- Ouvir o barulho do silêncio

12- Fazer festas à bruta

13- Ser pai e filho

14- Comer sem abrir a boca

15- Fechar os olhos para ver melhor

16- Dar um passo atrás antes de avançar

17- Confessar os segredos

18- Ver o belo no horrível

19- Sentir a vida na morte

20- Ter a certeza da dúvida


Tendes que cumprir esta regras cossenão nunca entrareis neste reino do cossenão.

Pela vossa paciência vos ofereço uma poesia em prosa:

É parados que viajamos

é empinados que nos sentamos

é sem pensar que julgamos

é sem pesar que avaliamos

é a dormir que acordamos

é sem falar que escutamos

é sem ralhar que vingamos

é sem andar que vamos

é sem querer que amamos

é sem luz que apalpamos

é calçados que nos descalçamos

é a sós que nos damos

é por nada que nos entregamos

é por pouco que lutamos

é pelos outros que nos preocupamos

é pela diferença que nos igualamos

é pelo desafio que paramos

é pelo descanso que trabalhamos

é por cair que nos levantamos

é por saber que erramos

é a brincar que poetamos



Deixo-vos um Xi. Hoje não houve xendros. Logo voltam.

1 comentário:

Anónimo disse...

Bem esgalhado changoto.