domingo, fevereiro 18, 2007

A NOSSA FALA - LXXVIII - MANDONGO(A);MANDONGUICE

Na nossa vida, circunstâncias há que, de forma inesperada, nos deixam cicatrizes que, noutras ocasiões, aparentemente sem nada a ver com o primitivo assunto, nos remetem para ele. Ficamos, então, a tentar deslindar porque raio é que aquilo nos veio à memória sem termos feito qualquer esforço, doutras vezes, ralamo-nos quanto baste tentando recordar um nome ou uma situação, e nada nos ocorre.
Foi cedo que aprendi: quando se encontra sem se procurar é porque já muito se procurou sem se encontrar. Às vezes andamos à procura do lápis e trazemo-lo pendurado na orelha... É a vida!
Vem isto a talho de foice do tema que hoje quero tratar convosco.
Comecemos por uma pequena história: Em tempos, um bispo de Lamego foi ministrar o Crisma a uma aldeia - ainda havia aldeias naquele tempo que merecessem visita pontifícia - .
Sabido como é que os bispos gostam mais de (se) mirar na reluzente superfície dos seus Paços, e são muito avessos a poluir os seus sacrossantos sapatos a condizer com a vestimenta - não seguissem eles o exemplo do máximo bispo, professor Ratzinger, que só veste e calça Giorgio Armani- raras eram e são as saídas dos episcopais aposentos.
Neste particular aspecto o papa anterior foi excepção...
Bom... mas o bispo entabelou uma conversa com os crismandos e queria saber o que significava o Crisma; um dos cachopos bate na cintura da mãe e questiona-a:« ó mãe, digo?» e ela:" e tu sabes?" e ele:« sei, mãe.» , "então diz"... O rapazote levantou o braço e apontou, qual torre de catedral gótica, o indicador ao céu, o bispo dá-se conta e interpela:«ora ali está um menino que nos vai elucidar..."O santo sacramento do crisma significa que nós passamos a pertencer ao exército da santa madre igreja apostólica, católica, romana»! Apressa-se a dizer o prelado: " Eu não diria melhor... e como chamamos nós aos soldados que viram as costas ao inimigo?" aí o garoto nem se deteve: « UM CAGÃO, SENHOR BISPO!» Assim mesmo.
Mário Zambujal em "A Crónica dos Bons Malandros" ao lado do Silvino Bitoque e do Doutor, tem o Caga d'Alto. Os marmanjos que o nosso bom povo apelida de mandongos são assim como que um cozido destas figuras: batem e fogem. Mamam até que haja leite, escondem-se e riem-se dos que, por dever de ofício, chegaram tarde porque não são gulosos e sabem respeitar a vez e as oportunidades.
Um desses apareceu-me um dia: queria mama!Eu só lhe disse:" os malandros para mim, têm que trazer um pêlo na palma da mão"..Ficou a olhar para mim e eu pensei: "vinhas por lã, mas vais tosquiado", não querias tu mainada do que"ensinar a missa ao cura" ou 0.
" ensinar a estrelar ovos à tua avó"; esqueceste-te"que o diabo sabe muito, porque é velho"; olha o mandongo! "Vá mas é mamar na quinta pata de um cavalo"
Em toda a parte - desgraçadamente na política e nos governantes, acentuadamente - há destes artistas que comem sempre " à pála " e que querem - muitas vezes conseguem - fazer dos outros "otários".
Há-os e houve na aldeia. O pior não são eles: é o povo ceguinho, endrominado, que não os enxerga e embarca pacoviamente no seu palavreado. Esses pantomineiros da palavra enrolam o povo néscio com sacos de plástico, um isqueiro, uma caneta e uma avental de plástico... em troca só querem uma cruz em quem os representa e eles representam.
A um desses pus eu um dia esta questão no meio de um grupo de malta ali no largo do Zé Rolo em frente do inefável café da Rosa: "sabes como se distinguem os caracóis machos dos caracóis fêmeas?" Ficaram todos a olhar... Tentou iludir a questão:« e tu, sabes distinguir um formigo duma formiga?» "Sei : agarro os animais pela patas e abano-os: os que baterem as bolas são machos, os outros são fêmeas". Ficou descalço, mas os circunstantes atalharam-no: "vá lá...responde lá ao Changoto... ANDAS AÍ SEMPRE FEITO PAVÃO, ANDA, DESENCULATRA LÁ ESTA!" Que não, que não sabia... confessou... «Então ficas a saber, meu mandongo de trazer por casa: agarras numa saca deles e espalha-los no chão. A seguir, sentas-te em cima deles: os que te forem ao cu são os machos». Abalou estrada acima e só apareceu no outro dia.
Sempre vos digo: «Para bom entendedor...»
É que os cagões não só os que fogem, são também os pavões! Se vos pondes debaixo apanhais com as bostas...
Como me dizia o velho Comandante:" Vê bem, antes de saltares".

3 comentários:

Anónimo disse...

Tenho tosse no cabelo / dores de dentes no cachaço/ amargam-se-me as sobrancelhas / já não vejo nada deste braço (o q um "gaijo" aprende na Universidade do Cartaxo no meio do tinto e da aguardente!). E "prontos"!Já cá mora mais um texto à maneira do "ti" Changoto.

Anónimo disse...

È isso tudo Changoto, mai nada. Mais uma bela refeição á moda do Changoto. Eu papo sempre tudo se bem que as entradas são o que mai gosto são sempre divinais.

Pratitamem disse...

15, anos depois, essa deve ser uma maravilhosa reserva!!!