sexta-feira, março 03, 2006

A NOSSA FALA - XLIX - OGAR

Indagações empíricas e circunstanciais nunca foram nem são premissas justificativas de uma asserção. Facto é que tendo eu utilizado este nosso vernáculo OGAR em vários sítios, conferi que ninguém o conhecia. Este termo é deturpado na zona do pinhal e vem duma espécie de onomatopeia de AGUAR. O povo pouco diz aguar e diz mais AUGAR. Daqui até OGAR é um passo. Nas outras localidades portanto este termo é utilizado para significar REGAR, verter água com um regador ou mesmo com um tubo, ou não importa o quê, sobre as novidades evitando assim que a geada as queime. Não é esse o valor da palavra para os xendros.
Ah! pois! há sempre uma estória... Podia começar assim:
Velhaco, velhaco era o meu avô, comandante do Inferno : os filhos tinham que se despir para ele lhes bater e berrava:" a roupa não tem culpa nenhuma das vossas asneiras... "E mais ainda... gabava-se de nunca ter posto as mãos num filho para lhe chegar a roupa ao pêlo... E, por incrível que vos pareça, o velho comandante, figura do mais honesto que me foi dado conhecer, falava verdade... Efectivamente sempre lhes bateu, mas com uma verdasca, uma corda, um changoto,..., que sei eu?.... Nunca lhes punha a mão em cima o malandro do velhote!
Todos sabemos que, por via de regra, as famílias mais antigas dos que ainda povoam transitoriamente este terceiro planeta do sistema solar, eram numerosas de filhos. Cedo ajudavam na luta pela sobrevivência e não consta que alguém alguma vez se tivesse preocupado com o trabalho infantil... Outros tempos!
Se havia trabalho que a mim que custava fazer era - e ainda é - ceifar. Embora o instrumento de trabalho seja dos mais leves - a foice - ou o foição - aquela posição de costas sempre viradas para a torreira do sol era coisa que não me quadrava. Nem a mim, nem aos meus quadris (ou cruzes).
Muitas vezes negoceava com o meu pai: eu tirava o estrume aos porcos - coisa que ele também detestava - e ele ceifava. Assim fomos resolvendo a questão da repartição de tarefas.
Só que às vezes não me podia safar e, quem está por baixo obedece porque quem está por cima manda:" Vais à vinha dos pinheiros e ceifas a erva que lá há; começas por baixo das oliveiras; oga-me bem os molhos não se escarapucem quando os for carregar. Faz o nagalho curto. Aí quatro braçadas por ogadela chegam."
Tinha que ser. A princípio, ogar uns molhitos de erva - paveia - não era, ainda assim, tarefa das piores, mas quando a erva crescia e a erva secava e dava colmo, (ou colmeiro) aí o caso era outro...
Ora eu que sempre fui "encalorado", de pouca roupa, abraçar a palha com pragana no braço nu e ajeitá-la por forma a constituir uma paveia que depois juntava outra e mais outra para dar o molho de semente, sempre bem ogado, caladinho, protestava do mais fundo do meu imo!
Aquilo sim! eram umas férias estudantis assim mesmo comédado!
À noite, por este tempo, luminho aceso, panelinha de ferro suspensa das cadeias, lenha concentrada que era preciso poupar, coziam-se umas espigas de couve com uma buchanha, uma farinheira ou uma daquelas deliciosas morcelas batateiras que não há em mais lugar nenhum do mundo, senão na aldeia dos xendros, juntas com umas batatas e, na mesa de engonço, a mor parte das vezes, lá se metiam debaixo da camisa, acompanhadas com um naco de pão, valente, e um pucheirinho de vinho. A água da cozedura não se deitava fora: estava ali o caldeiro da vianda e uma pouca ia para o alguidar da lavagem da loiça. Não era preciso esfregar muito que aquilo ia tudo bem lambido com o último naco do casqueiro.
Como era cedo ainda para se dormir, ali se ficava a ver extinguirem-se as brasas, mirando, de quando em vez uns espanhóis que se desprendiam e logo se transformavam em fonas: «Bem feita espanhol dum corno! quem te mandou meteres-te com os portugueses? Já te esqueceste de Aljubarrota?» A canalha ficava toda contente com a morte dos espanhóis quando deixavam o brilho da incandescência e tombavam lentamente. A mãe passava a vida a varrer fonas para a pedra do lar...
Duas estórias, dessas que se ouviam aos serões, ali, entre a parede da casa e as taipas do quarto, forradas a papel de jornal e coladas com farinha amassada, ao calor e luz titubeante do borralho:
Um espanhol veio a Portugal e empontaram-no para o canto do lume, onde estava o cântaro da água (asado) e o montinho da lenha que mantinha reguladamente o lume aceso. Coitado!
Dizia um: "alimente a fogueira quem está do lado da piorneira!" O espanhol não entendia e foi obrigado a aprender... já que logo lhe chamavam filho dum corno! "quem está do lado do asado, dê uma volta ao sobrado!" Outra vez o pobre do espanhol a ser chamado filho dum corno até que dava a volta com o copo de água, tirada do cântaro, a todos os circunstantes... Não admira que quando voltou a Espanha dissesse para os seus compatriotas:" mira! se fores a Portugal, no te pongas ni do lado da água nem do lado del piorno,sinon te lhamam hijo dum corno!"
Ou esta:
Um homem andava com ganas de bater na mulher e procurava motivos para a arreliar. Era sabido que se ela lhe alevantasse a voz, ele tinha, por assim dizer, o direito de lhe chegar a roupa ao pêlo «Ó mulher, hoje trago a lenha torta» e ela: "o lume logo a corta! "No dia seguinte:«Ó mulher, hoje trago lenha direita!» e ela nas calmas:" O lume logo a ajeita"
É melhor ficarmos por aqui hoje , senão ogo o molho muito grande e depois ninguém pode com ele, o que vale por dizer, que se o texto é grande ninguém o lê!
Ogo-vos a todos num XXXXXXXXXXXXXIIIIIIIIIIIIIIIII CCCCOOOOORRRRRRRRAÇÃAO

21 comentários:

Anónimo disse...

Não pude ouvir, digo ler, tudo, pois, estive no enocencio, espanha, digo não qis ler tudo, falavam os putos com quem fui lá comer as gambas, falavam, estáva lá o helder, depois na conversa, disse, não eu agora já não tenho medo de ir ao cemitério. ATÈ, só de pensar nisso ficava mnaál. Agora Duas da manha na boa, respeito, claro, e depois o polgar em cima nesse silencio, sem merdas, um ok pra todos.Como é possivel? Esse mundo mudar assim? Sei Lá.Tá lá já me proteje será? posso ir lá na boa, parece. Mas eu era tão maricas e agora, domino? a morte o cemitério.Não acredito.fazes-me falta, queria estár máis com "tigo", esquece lá isso, tu é que tiveste lá um mes, entre a vida e a morte, tinhas 17 anos, ficaste bom, logo, nem tudo podia ser tão bom, como esse jeito especial, de ter melhor letra, que os teus filhos todos. A letra mais incrivel, é a do puto, não há letra assim, quando falamos de letra ele só sabe ler aos quatro, e o resto, o Bites, pra nós os dois, andou lá.Essa é que é essa.
Agora nem eu sei, aquilo que falava ali, digo. AcabA O contexto, a musica continua boa e acordo com o João Porto.

Anónimo disse...

Eu ainda sou do tempo em que as permissas, eram absolutas, melhor dizendo, quando ainda eram permissas.

Anónimo disse...

O meu Pai, foi o meu melhor professor, mormente, tudo aquilo, que ele me fez ver que só a escola, me podia dar. Isso é verdade. Também é verdade que lhe esgotei os c´reditos todos, nunca entendi, meus e do puto, estão aqui na minha mão. Mas, verdade verdadinha ainda lhe devo, o Amor que nunca, lhe posso pagar. E isso só dando ainda mais de mim, talves, um dia, eu possa dizer, o porque do meu pai ter uma letra tão incrivel.

Anónimo disse...

Eu acho que as permissas, resolvem supostas dúvidas metódicas, nunca esclarecem contextos.Desconfio até que nos graças a deus, tem largado, maravilhosas dúvidas!

Anónimo disse...

QUE PENA! UM BLOG TÃO BOM E COMENTADORES TÃO MAUS!
OS AUTORES DOS TEXTOS MERECIAM MELHOR.
SENHOR OU SENHORA PRATITAMEM, CALE-SE! O SENHOR OU SENHORA NÃO SABE ESCREVER, SÓ POLUI, É UM ATENTADO À LINGUA PORTUGUESA. CALE-SE!

Anónimo disse...

PARTILHO DA TUA OPINIAO, SO QUE COMO, E qUE EU ME CALO. TU SE MANDA/SES ERAS CAPAZ.

Anónimo disse...

Comenta lá bebe agua, do luso aconselho, ou das pedras, sei lá, faz um filho, vai a Santa Combadão, ao Cristo Rei, ou então fala da tua vida, da quilo que te doi, até podes dizer o sitio, mas nunca percas a calma, digo eu.

Chanesco disse...

Venho aqui apenas para dar a salvação aos Xendros e agradecer o post de boas vindas que também já foi assinalado na arca da velha.
Lá escrevo duas ou três larachas que, apesar de tudo, penso serem melhores que as letras das cantigas do Zé Cabra. É que isto, para escrever bem é preciso ter lições e aqui no baságuda está uma grande escola.
Agora que me dediquei à arca velha, quando acabar de ler o manal de instruções do blogger, VOU DAR TUDO POR ELA.

Anónimo disse...

"Vais à vinha dos pinheiros e ceifas a erva por baixo das oliveiras..."
Abençoada terra onde as vinhas são de pinheiros com erva e oliveiras? Karraio de vinha é essa ó changoto?

Anónimo disse...

Há já algum tempo que não venho "buer água à basagueda" mas hoje tinha mesmo muita sede e só aqui a podia "matar".
Vinha com sede, fiquei com fome, agora uma buchanha até que ía, mesmo contendo ela um ingrediente que agora despenso.

Mas por agora vou deixar a escrita e continuar a leitura pois estou bastante atrasada, além disso apetece-me ler textos com conteúdos interessantes e divertidos !!

Anónimo disse...

dispenso, quero eu dizer, perdoem este grave erro´.

Anónimo disse...

Como é que se diz, isso, em lisboeta? Lapaxeiro e Xendro, tiram lá as mãos, eu já não estou achorar. Ou melhor tá bem, viram-me a rir e então. Não posso rir? Porra. vá, duas costelas e um ollho negro, Uma vez foram quatro, mais quatro pontos num olho e o resto, e o culpado era feito de chapa, nunca consegui falar com ele, uma vez vi-o, estáva feito num oito. Porra. UM conselho, seguro contra todos, digo eu.

Anónimo disse...

Na mão só a duas "proteses" tá bem diz o puto, eu disse, não há adse, mas só pago cinco contos. Cada dente, claro. É barato? Ainda dá IRS depois. "Aferes", lá isso bem, volta o vitor, e eu porra o mano, não vens cá sabado, saudades do JP, não se escrevem, logo me ajudas, o IRS, é até ao dia 15.

Anónimo disse...

èpa isto tá mal! Atâo, atão assim não dá pro desconto. Então? Atão uma porra, só dá se for, dois afaseres e uma protese ser tu, olha eu a tocar viola e tu a cantares. Depois acordas e é uma porra! Deixa lá isso ó mano. Cinquenta eurios de multa não é? Posso meter até Quê? Há 15 de Abril, tá bem.

Chanesco disse...

Catano ó lapaxeio, o xendro anda c'a pena entchapoçada de tinta comédado. Carreguei no brotcho azul pra ver o lavajo que pro lá tinhas mas aquilo no enlapatxa nada. Ó está seco ó encaramelado. Será que é do códão destes dias passados?

Anónimo disse...

Tempos dum cadamónhe! Não era fácil. Ficam as memórias. Sem elas não nos poderiamos deliciar nestas estórias formidaveis. Força Changoto, ficamos à espera da próxima.

CanisLupusSignatus disse...

"O tempo perguntou ao tempo quanto tempo o tempo tem. E o tempo respondeu ao tempo que o tempo tem tanto tempo quanto tempo o tempo tem."

Podia ter sido, mas não, não foi por causa da falta de tempo. Foi antes por causa de demais causas (olhinhos delas incluídos)...

Contudo sempre atento às memórias verbalizadas neste belo papiro.

Isto só pra dizer que ainda sou vivo, distante fisicamente porém perto na identidade, com saudades do país em que cresci e dos amigos que lá cativei e pelos quais fui cativado...

Saudades essas que se tentam disfarçar com fins de semana a esquiar (com bastantes trambolhões à mistura), com umas idas a Milão (o Duomo é fantástico, bem como as galerias), uns passeios pelos lagos Maggiore e Como!!!

Gente simpática e divertida, bom ambiente no trabalho (FUNDAMENTAL), um espírito jovial, direi mesmo académico, na Foresteria (conjunto de bengalows onde vivo)...

Os elementos femininos que rondam estas paragens são bastante aprazíveis... con le sue belle ochi azzurro... mama mia!!!

Balanço dos dois primeiros meses, claramente positivo! Embora por vezes as saudades despertem em alguns (raríssimos) momentos de solidão!

É tudo meus caros!

O uivo do lobo continua suave e cristalino; outrora ecoava pela malcata, agora ecoa pelos alpes...

aaaaaaaaaaaaauuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu

Anónimo disse...

Uma confissão extemporânia, mas eu sou assim, venho muitas vezes a este quarto (Basagueda), só com vontade de ouvir, como traduziu um amigo, quando o silêncio, vai de vento suave, feita a revelação, borra-se a pintura. Ou seja, cá estou a soprar contra o lume, que é como quem diz a fazer merda.(opção transcrita do autor do com. Eu), sentimento generalizado, em 38,43% dos meus neurónios, disponiveis de momento. Os outros 60 e tal% estão a levar com o meu indicador direito. Resumindo, a maioria comigo é sempre absoluta, logo tinha que escrever, com um objectivo bem claro, ou seja meu amigo Lapaxeiro, só tu e essa tua capacidade invejável, para me fazer ficar bem disposto. Toma lá mais um ok.

Anónimo disse...

Não havia necessidade, até porque. Tudo é relativo e agora ainda incontigente, mas o teu sentido de humor é irresistível.

Anónimo disse...

Passei este interfere, ali ao lado num simpático, devaneador de blogs, também Beirão, mas chegado a casa, lareira acesa, quadros na parede, tudo arrumadinho, á basagueda, depois da grande e proficiente última grande festa, não necessito de pontos finais, Ter a qualidade, na SEGURANÇA DE KARRAIO E CHAGOTO, é tão bom.

Anónimo disse...

Esse livro tem sido uma ajuda maravilhosa. Deve ser o teu livro fetish. Ajuda á Bué, como não sei se bué é so muito, deixei lá o h pelo sim pelo não. Espero que tenhas gostado da piada, eu nem por isso. Em qualquer dos casos, dizia, é muito tempo, não me digas que o bacano ainda está na caverna. Pode ser o caso, admito, não foi fácil. Em qualquer dos casos, vai um porto branco, sem alarmismos, tu sabes como eu sou. Bem é o que estou a beber, e a ouvir Xutos, acho que estou a falar bue de mim, acaba lá o livro. Até logo. Pois é no mesmo cd, tem Grabiel o Pensador e muita coisa mais e eu teimoso, radio macau, radio macau, foi quaze tudo a baixo, por momentos pensei! o com. também? mas não o raio(não me lembro do nome), foi na segunda.