segunda-feira, março 13, 2006

A NOSSA FALA - L - ENCRIR OU INCRIR

A Lameira não foi como agora está. Com início no chão do ti Zé Latas, havia um "alcaduque" (espécie de alvanel coberto, formando um túnel) que a canalha atravessava de gatas à luz de bocados de borracha ateada numa pinha. Muitas vezes o atravessei... Claro que esta aventura só era possível durante o Verão , pois, de Inverno esse "alcaduque" ficava cheio de água por mor de uma ribeira que passava junto às figueiras do Zé Maroco , por debaixo do pontão que dava para o beco da Ribeira e desaguava por detrás do lagar na "nossa ribeira", depois de ter passado por debaixo do caminho do cemitério. As mulheres lavavam a roupa nesta ribeira e punham a roupa a corar estendida num banco de relva que sempre por ali havia. Não vos falo das oliveiras e das amoreiras que nós tínhamos que fintar quando jogávamos a bola... Não falo nem é preciso...
Tal como agora também então a Lameira servia de campo dos mercados aos segundos Sábados de cada mês. O que já não era igual era a mercadoria que ali se trocava ou vendia: porcos, burros, vacas, cabras e ovelhas, fora as tendas. As brincadeiras dos velhotes tinham piada e se algum garoto por ali aparecia,logo um provocava: "ó catraio, sabes qual o animal que dá o fruto antes da flor? No sabes? É o burro, é o burro; espera aí sentado até que bote cá fora os cagalhões e verás que o cu dele depois se abre como uma camélia encarnada!" E riam-se a bom rir... E outro: "gostas de castanhas? olha: o burro as caga e tu as apanhas" Mais uma risada. O tempo nem custava a passar e se o negócio se fechava lá estava o alboroque à espera naquilo do Cavalheiro. Era sempre assim.
Três foram, pelo menos, os burros ou burras mais famosos de aldeia: a burra do velho Freitas, inteligentíssima, até sabia escrever e sabia sempre o tempo que fazia. Se chovesse ninguém a arrancava do palheiro e para se desaparelhar bastava que o velho lhe desapertasse a cilha e lhe sacasse o rabo do atafal que ela dava um safanão e deixava tudo direitinho no balcão da parede junto à manjedoura...Outro que não lhe ficava atrás era o ESTUDANTE, burro mais que famoso do Zé Luís Barata, que lavrava sozinho, fazia a torna na perfeição. Zé Luís ficava dum lado e seus filhos Zé ou João ficavam em cada extrema da leiva e apenas viravam a aiveca. O ESTUDANTE fazia o resto. Inultrapassável era também o jerico inteiro do João Rela: pequenino, mas verguio como a puta que o pariu. Em Março - por este tempo que agora corre - mal via uma burra aventava com cinco escritos ao ar, atirava com os aparelhos, arreganhava as beiças, alevantava o cachaço, zurrava e espirrava, chegava às burras e nem que o desancassem com porrada nunca desistia enquanto não farejasse o cu da fêmea. Era mau filho de puta este burrico. Fora isso era manso como a Terra.
Deixava-se montar pela ti Conceição e ajeitava-se ao batorel. Aguentava teso quando estava à carga. Mal via as cordas de ENCRIR - estas cordas serviam para segurar a carga ajustada à albarda do burro e que tinham uma forma própria de se colocarem, por forma a permitir que as duas sacas ficassem uma de cada lado e até pudessem sustentar mais uma ou até duas de sobrecarga, em média media cinco braças (ou braçadas), cerca de metro e meio cada uma e que se obtêm esticando os braços ao máximo da sua extensão - , o burro ajeitava-se logo e nunca se mexia, nem que a mosca o arreliasse. O mesmo com o ESTUDANTE, só que este era muito mais valente e as cordas de INCRIR tinham mais uma braça, dada a altura do animal. Mais parecia um cavalo. Era mesmo um animal nobre. Um cigano ouvi eu oferecer cinquenta notas batidas pelo ESTUDANTE ao Zé Luís. Ele é que não esteve pelos ajustes :"Desaparece-me da vista senão apicho-te aqui o fadista que te encorre até Medelim. "
Admirais-vos agora de a nossa aldeia ser a terra dos doutores e engenheiros? Dizia o senhor Arnaldo, que em tempos trabalhou nas Finanças de Penamacor, que Aldeia do Bispo tinha mais pessoas formadas em cursos superiores do que o concelho todo.
Olha a admiração! Aldeia que tinha burros destes, pouco espanta que tivesse tanta gente formada. E em forma. MAINADA!

8 comentários:

Chanesco disse...

Ó Lapatxeiro o teu amigo Changoto albardou bem a burra co'este post.
Ele dizia há dias "a memória no drome" e é bem verdade. E se drome é com´ás lebres, c'um olho aberto e outro fechado. Ao ler uma coisa destas a memória desperta e leva-nos infalivelmente até à nossa meninice.
Ficamos à espera do Bacalhau alagado (à moda espanhola - sin hatche). É para comemorar o regresso de Pratitamem?

Anónimo disse...

O destino, transforma, sempre tudo no presente, altera prespectivas, define a seu belo prazer teorias, chato qb. tá sempre a fintar, nem que seja semanas. Não tenho medo dele, nem o afronto demasiado, digo eu, mas, "coméço" a ficar irritado, por via da dependência, resultado da minha má sorte, de ser mortal, "comós outro" e da deles também essa má sorte. Apetece-me cantar o fado, ter vós, conseguir dizer, ser ouvido, criticado, ensinado, fazer parte, estar vivo, no meio dos vivos, dos sábios, e poder, sempre bater palmas em conjunto. Esta é mesmo a Aldeia dos Drs. Que se vestem despidos muitas vezes. Isso resulta, mas só porque é verdade. tenho muito orgulho, de me sentir tão bem neste Blog. È mesmo a minha segunda familia, é tão bom. BEM HAJAM.

Anónimo disse...

Isto é tão ao nosso jeito, mas bem melhor, agora. E as minhas amigas do coração, as ainda minhas amigas do coração, curioso é que ainda são quaze todas amigas do coração. Menos claro as que eram só amigas, mais as outras e as outras, esse é assunto pessoal. Pois é ter amigos do coração é muito bom, muito importante, mas ter amigas do coração é ainda melhor, bem mais importante, digo isto porque sou um "previligiado" vaidoso. E sortudo.

Anónimo disse...

Pensamento do dia:

"Pamvleto de "BTTT"#
# no proximo com.

"NO CURSO SUPERIOR DA BASAGUEDA".

Anónimo disse...

Mas há mais, espera Amigo Lapaxeiro, espera, pede lá esse "papel" impresso, "Bué", e lê.

Anónimo disse...

Caminhada, (deve ser a pé?) CURSO SUPERIOR DA BASAGUEDA? deve ser a montante? pelo menos era o que ouvia dizer ao meu pai(Ficava melhor velho, mas já não dá), continuando a pé, sempre, e só fiz dez pescarias de trutas, ao fim de cem metros a jusante, nem chapeu, nem mosca, boia graças a deus não meti. Não se usa á truta. Pelo menos se não for pesca ao fundo. È muito muito diferente do achiçã, não estou a falar do bass, aprisionado em barragens, isso balha-me deus. Só conheço achiçã, livre em albufeiras, muito dificil, gerações e gerações, de dedicados praticantes, explicam, que não é facil, mas quando o saber se "curza" com a sorte e as brasas estão feitas, pois é qual linguado, qual carapuça, achiça que tu pescas-te, mais de meio quilo, que comes, regado, pelo outro pescador, que não pescou, mas que torceu, para que aquele bass te comesse a "pardelha".Isso é pesca. Estás a olhar pra boia, desejoso, trema, mas sempre a ver se a do teu Amigo vai ao fundo, "esprançado" em ajudar como se improvisa, tirar lá do fundo um bicho grande, quanto maior melhor, com aquele cuidado, sabido, de que o achigã grande se sente um abanão larga logo. Ou pode não ter "ingolido" a pardelha comédado. A Pesca ao Achiçã tem lá porras, NO CURSO SUPERIOR DA BASAGUEDA( a montante ), acho que não dá, pelo menos pro Achiçã, pro bass, Quiçã?

Anónimo disse...

O meu avô também tinha um burro muito inteligente, só queria comer e dormir, trabalhar era para o dono !!!

Anónimo disse...

Que nervos, Xendro. Vai ler o rio. Que mania de dizer, por cá tudo bem, então por ai? Meu amor de amiga, "safate", aprende a nadar, não morras é afogada! ( Já estás! )