quinta-feira, março 30, 2006

A NOSSA FALA - LII - AVIAR A VIDA

A vida dá muito que pensar. Cada um pensa-a nos momentos e nos locais que escolhe ou dá mais jeito. Mas há um momento que me parece mais ou menos universal para pensar na vida: é quando estamos a aviar a vida. Mesmo considerando que as condições de exercício do acto têm vindo a evoluir no sentido de maior comodidade e conforto, a verdade é que, a solenidade do mesmo se mantém, aconteça ele no recato da divisão aquecida, com azulejos azuis decorados com motivos marinhos, tampa amolfadada, etc. como na largueza do pinhal, acocorado debaixo de uma giesta de 5 anos. Consoante o ambiente, há quem goste de ler, de fazer palavras cruzadas, de ficar a ouvir os passarinhos, ou quem, simplesmente se entregue à reflexão, que é como quem diz, a pensar na vida

Muitas ideias surgem nesse momento, desde que praticado em regime de “slow outfood”, se é que existe o termo, sem calhar não mas, pese embora o estrangeirismo do qual se pede perdão, o que interessa é que se entenda a ideia. Por exemplo, é perfeitamente plausível que DaVinci estivesse a aviar a vida e a olhar-se ao espelho quando decidiu pintar aquele sorriso na Mona Lisa. Nessa perspectiva, a tese do auto-retrato ganharia consistência, ou seja, aquele sorriso enigmático que tantas questões tem suscitado, aquele esgar de prazer que se adivinha naquela face, mais não seria que a expressão de DaVinci a aliviar-se das lentilhas do almoço. Não menos plausível é a hipótese de que Isaac Newton estaria a aviar a vida debaixo de uma macieira bravo mofo quando se desprendeu uma maçã e caprichosamente lhe bateu na cabeça. A percepção da força gravitacional poderá ter surgido a partir da maçã, mas não custa nada aceitar que poderá ter ganho mais força quando Newton se congratulou por os seus dejectos jazerem em terra e não flutuarem. Quem me diz a mim que o próprio Darwin não terá germinado mentalmente o evolucionismo enquanto aviava a vida num ambiente tão profícuo à reflexão como as Galápagos. E Einstein? A inércia da energia, a fórmula do e= mc2, não poderia perfeitamente ter sido como que revelada num momento de reflexão específico como este que agora estamos a abordar aqui? Outros exemplos se poderiam conjecturar, mas não quero abusar.

Permito-me um último pensamento. Provavelmente, a maior invenção associada ao acto, é bem capaz de ser a do papel higiénico. Seguindo a lógica das plausibilidades (!), ao inventor dessa insignificância poderá ter acontecido algo semelhante ao que sucedeu ao Jabão Feijão. Era ele garoto e, sempre que podia, no Verão, juntava-se ao Armando Cabeça Grossa, ao Tonho Espanta Mulas, ao Fcisco CáVai e ao Zé Caga e Tosse e lá iam todos nadar para o tanque do Dr Amândio, espécie de piscina tosca sempre com água porque alimentado por uma mina. Ao lado do tanque crescera uma imponente figueira maranhoa que a canalha utilizava como prancha de saltos para a água.

Um dia, se calhar por via do efeito dos pirolitos já ingeridos e dos dois discos plenos de feijões frades e pimentos assados e salada de tomate que tinha emborcado ao almoço, para acompanhar meia dúzia de sardinhas – ementa desaconselhada para um garoto de 10 anos -, deu ao Jabão Feijão uma caganeira repentina e imparável. Calhou bem não ter que baixar nem calças nem calções de banho, que naquele tempo não se usavam, porque a canalha nadava sempre incoura. Aviada a vida, que ficou de imediato muito mais radiante e colorida, preparava-se para saltar de novo para o tanque quando o Espanta Mulas o avisou:
- Ai de ti qu’entres na água sem limpares o cú.
À volta dele só junça e outras ervas. Já algumas vezes se tinha socorrido de outros materiais como pedras, mas ali só havia pequeninas. Folhas de couve, também já tinham sido muito úteis. Mas o que ele mais gostava de usar era folhas de eucalipto jovem, por causa do cheiro, só que ali não havia nenhum. Ah!, espera aí! as folhas de figueira são verdinhas e largas, descobriu ele, de repente. E vai disto, 10 folhas de figueira maranhoa passaram pelo rabo de Jabão Feijão. Ainda não tinha chegado à água e já ele começara a sentir um prurido anal que rapidamente se tornou em ardor forte. Os outros observaram perplexos uma cena que, noutro contexto e com testemunhas mais crescidas, haveria de arruinar a reputação do Jabão Feijão: um garoto completamente nu agarrado às nalgas esfregando vigorosamente o ânus com a mão direita enquanto dava saltinhos e gritinhos, alguns a atingirem as raias do histerismo. O alivio só chegou dentro de água.

Jabão Feijão ainda hoje deve recordar o episódio, a partir do qual passou a nutrir uma enorme admiração pelo inventor do papel higiénico. Até nós, que pelos vistos, nunca tivemos o doloroso mas enriquecedor conhecimento empírico fornecido pela utilização de uma folha de figueira maranhoa (ou coriga, ou pexixota, ou abêbera) na nossa higiene anal, igualmente lhe devemos estar profundamente agradecidos.

Podereis perguntar: mas ó karraio, qu'arraio de conversa é essa? a que propósito é que isso vem? Bem, há momentos e locais em que uma pessoa se põe a pensar na vida…

8 comentários:

Anónimo disse...

Este, é um texto maravilhoso, escrito por um gajo, muito amigo, porque tem essa capacidade. Revoltado exatamente como eu, com essa moral, do terreiro do paço. Isto é ali junto á Lameira em 1987. Pois é, pois é. O aidro, nem sempre é isso, terreiro do paço. Já a amizade, raramente se transforma em terreiro, no caso, nem havia necessidade, mas o meu romantismo, obriga-me, a este caracter:
Nem que as rosas cheirassem, cravejadas, a cheiro de cemitério, eu gosto mais da mão que se sente. Saudades.

Anónimo disse...

Não tenho nada contra os passarinhos, beija-flor. Apenas detesto saber, que quando descobrem, algo diferente, deixam de comer e vão dar o mel ás abelhas trabalhadeiras, como se o mundo de repente, vira-se o vento, a favor das suas pequenas dimensões e enorme bico. Tratai de optimizar as vossas incongruências, ajustando-as, sem magias, á vossa forma de poder estar e não de quer parecer. Irrita bué, deixa-me com vontade de vos beijar. ( No caixão.)Antes de levar com terra ou tolões.

Anónimo disse...

Vou dizer ao zé, para se lembrar, de que agora, quem for á igreija, deve, para ver os milagres, que teclar em, duas sagradas teclas,benzidas, com categorioa, que eu desconheco, ouy largararame, a virtude, Esatava a beber um copo.ya Agora,boa,. vái lá vái, foi , já lá esta. memo no fim. Eu não gostava de ser o sumo sacerdote.

Anónimo disse...

Pesso.., desculpa. Mas eu tenho valores, não tem nada a ver, falo da minha amiga. O que é isto. Eu vou trabalhar, com a desgraçada. Este é o nosso mundo-. Meu Deus. Como é possivel, isto, a Antunes, ficar assim, eu não acredito. Não deixo. Palavra minha. Foi só a coisa, melhor depois do Rei. Pois, mesmo com estatistica. Eu vou falar, Juro. Est´
a dito.

Anónimo disse...

Isso, não percebi nada, fico assim junto ao lancil, tipo isto é a vida. Morrer hoje é destino. Conversa é caminho. Conversa, claro, isso conversa, alguém me paga O FIGAdo, o coração a minha vida vai melhorar.Se não tenho cuidAdo. Bemmm. Tipo isso bacano, toma cuidado. Sempre Zé, Sempre. Nunca, te deixes enrolar. Nunca, pai. Isso é sagrado. Tu deste isso. Mas eles andem ai. Coitados.

Anónimo disse...

Doi saber, que daqui a quarenta e sete anos, tu boa noite, eu logo depoois, um nada mais novo. Na verdade, doí saber que parece que pouco, vai mudar, estive a ver o horós"copo", são mais quaze cinquenta anos. è muito tempo. Vái mudar o código postal, só o ultimo numero ' e mais o? Isso o tinto vai passar a obrigatório, dizer no rotulo ' garrafa com rolha de cortiça.

Anónimo disse...

A virtualidade da inspiração, é sempre, resumo da nossa vontade de agradar a A ou B, isso é mais forte do que a nossa vontade de dizer o nosso sentimento que não sai. Sem calhar não, mas pesso perdão. Destine, digo eu, essa confusão interna. Desde quando deixas-te de ser do povo? Foste? Eu nunca fui, nem nunca vou ser, eles sabem que os estimo e estou com eles, mas tambem sabem que nunca fiz parte deles nem vou fazer. No entanto falo a mesma loquela.

Anónimo disse...

Esquece este BLog, um dos teus melhores amigos, com ar enjoado (Koia)culpa dele, parecia. Diz a t^res pessoas que possivelmente, não sabem, era essa a teoria dele, que eu sou isto e aquilo, como eu não falei, só inguli, depois enquanto eu falei, berrou, várias vezes, várias vezes eu não leio.

Tens ai muito, pra ler, pra te ensopar, essa tua grandeza, que não cabe em ti, mas que curiosamente libertas da pior forma quando não deves.