sexta-feira, janeiro 06, 2006

A NOSSA FALA - XLI - PI(E)LHARANCA

«Onde raio tenho a gaita que a não acho?» Perguntava o Mné Grande. E eu: " Ó Mnel isso já não é uma gaita ; é uma p(e)lharanca! deve ser parecida com a tripa duma farinheira cozida acabada de comer"!»Quando chegares à minha idade logo vês se não vais precisar dum peniscópio
Era um gosto vê-lo comer, a este pesado amigo.Tinha por hábito dizer que nunca na vida tinha almoçado:«só enganei o estômago
Sempre disponível: bastava que se lhe arranjasse um assento mais ou menos ajustado àquela massa informe e se lhe pusesse à mão o que fosse preciso ele fazer: descascar batatas, raspar cenouras, migar carne, e o resto - um pão dos grandes, um garrafão de cinco, uns nacos de presunto, queijo, malgas de azeitona retalhada e, por copo, uma garrafa - . Era assim: ia trabalhando, comendo e bebendo. Aí por essas onze já se ouvia o pigarro da sua garganta. Poucas falas, que quanto mais falasse mais ar entrava e mais se lhe irritava a garganta.Portanto: há que tapar a entrada do ar com mais pão e presunto e queijo e molhar bem a garganta para tudo escorregar comédado.Era só uma garrafinha de cada vez. Assim mesmo: uma garrafinha !
Ao almoço comia pouco- pouco é como quem diz: dois discos de sopa de feijão com couve e massa manga de capote, basta quanto pudesse ser, cinco batatas das grandes, uma massinha de borrego e uma travessa de esparregado de nabo por via dos alhos que catava a cada instante. Duma vez lhe vi comer três cabeças. Era aproveitado: sobrava pouco e, delicadamente perguntava: « as pelharancas, deito-as aos gatos?» às três mais ou menos começava a sesta. Até às cinco. Acomodava-se no assento e pronto, já só se ouvia ronco!
Quando era mais novo o nosso Mnel era trabalhado: arranjava sempre desafios no Domingo à tarde onde ele pudesse ser o vencedor e assim encher o fatinho sempre à mama.
Alguns dos que me lêem hão-de ainda lembrar-se das amoreiras no largo baldio da lameira - resquícios de uma pequena indústria artesanal- . A mais alta estava pegada à tasca do Cavalheiro. Não era raro que a rapaziada se queixasse e, mais ainda, as mulheres que tinham lavar as nódoas provocadas pela tintura da amora.(Se por acaso ficardes com as mãos sujas de comer amoras, o antídoto é lavar as mãos com amoras verdes. A roupa é que não se pode lavar assim) .
A pernada mais alta dessa amoreira tinha inclinação para o lado da estrada e o que se meteu na cabeça do Mné Grande?:«Pago cinco litros a quem me desafiar e chegar mais alto a subir a esta amoreira.» Depois de esperar que alguém aceitasse o desafio,acrescenta: «Cagões, sois todos uns cagões! Pronto: podeis juntar-vos cinco contra mim!» Aí, João 27, chico traitoiras, arrebenta canelas, zé encrencas e macuácua, aceitam a aposta. Impõem como condições que só poderia subir uma vez cada um, nunca voltar atrás à procura de melhor caminho e que o Mné Grande era o primeiro a subir.
A malta começou a juntar-se. Mné Grande ainda protestou, mas logo se ouviram vozes: "agora o cagão és tu"! .
Decidiu-se: embarra pela amoreira acima, galho após galho e com a envergadura dos seus quase dois metros, estica a mão direita, arranca um raminho e precura lá de cima: «Vistens todos donde cortei o ramo?» Confiante na vitória ele aí vem, sorriso franco, a encostar-se à parede. Arranca Encrencas, mas a falta da altura impediu-o de bater Mné Grande. Vai Traitoiras , mas um galho que se escavacou, obrigou-o a voltar atrás e pronto. Mnel não foi de modas: ´"ò Cavalheiro traz aqui 5 litros que alguém os há-de pagar!"Foram ainda tentar bater a altura do Mnel, o arrebenta canelas e macuácua, sem resultado.
Sobrava 27: perninha fina, sempre a piscar os olhos, gracioso no andar - a mulher até dizia que ele dava para modelo! -, tira o casaco de lã, arremanga as calças até um pouco acima dos tornozelos, cospe nas mãos e aí vai. A malta animava-o. 27, calmo, acenava com a palma da mão sinalizando que era precisa muita calma. Segue cauteloso amoreira acima...e o povo: ' o gajo cai, ai cai,cai.....! ' o melhor é agente afastar-se cassenão inda nos cai em cima.'
A pernada estreitava, 27 abanava mesmo no limite e eis que...para espanto de todos, Mnel Grande incluído, faz o pino na pernada e bate com os pés onde Mnel Grande tinha cortado o raminho. Com calma, endireitou-se , desceu até ponto mais seguro e: "Atão e agora, quem é que ganhou?hein?" E todos: ' Anda Mnel, paga e não bufas. Se quiseres um copinho tens que lho pedir por favor! ' e riam-se a bom rir.
Chegou 27 ao chão e são indizíveis os comentários.
Mné Grande praguejava, mas não teve remédio senão arrotar com os cinco litrinhos.
Diz o Traitoiras:" eu cuido que a minha guardou na gaveta umas plharancas de corates que sobraram do jantar de ontem. Vou por elas e de caminho a ver se arrebanho umas cõdeas de pão por mor de termos mataborrão pra tanto vinho." Encrencas empurrou-o logo: «despacha-te!»
27 nem parava dum lado pro outro.Todos lhe davam palmadas e ele:« porra! já chega! vandens mas é a malhar no cu da burra!
Chegou Traitoiras com os restos do jantar e dois couchos e foi um ar que deu aos cinco litros.
Aqui está o poder de uma mão cheia de pelharancas!

20 comentários:

Anónimo disse...

arrota, pelintra!

Anónimo disse...

Garfanho.sim. Ouve és novo cóia é tambem comigo. Mas ouve o teu estomago, a ver se ele te pede liçênça? prá digestão. às vezes a Gente, compra secador de cabelo e o tonho é que é mau. O Tonho diz eu corto e e cá sweni. Levo com um corte cá a maneira. au meu jeito,. Digo disfarça, áá os brancxos. Mas vá lká não tiveste muito mál. A brincar isto é ás vezes duro, basta seres anti sistema. Não metes ifen dásx erros t´s no sistema. Quando é olhos nos olhos. È mais deficel de explicar, mas isso depende daquilo que tens pra dizer. Básta seres "sinsero" Tu. Isso tudo è uma gramnda treta pra mim, que me sinto bem e isso é muito bom, pois na verdade, ser cota, não é nada facil, basta, o fio, de ouro ou não, pra mim, seja esse sentimento enevitavel, cujo acento alguem demora a fazer com jeito. EW eo com, uma presa. Este, não é um Blog e de aprendere logo sinto-me tão livre. E ás vezes tão preso. Pois na verdade só quem vive esta "amiáça" permanentew, mete gel no cabelo como eu. E isso é uma qustão dew estilo? Uso gel há muitos anos, Há uns meses nem por isso. Mionto usava espuma. Agora nem espuma nem gel, è só mais uma experiencia, (só resulta com o cabelo pequeno). O mar salgado vai ser musica só pra mim, pesso desculpa, posso, gravar para os amigos. No infeliz estado do Charon, se ele melhorar, também era rapaz pra lhe dar uma musica das nossas, juro. A bem da paz global, ou seja a paz no nosso mundo, o único que existe.

Anónimo disse...

às vezes dáme eu é que sei, mas dizia dáme cada travadinha, ás vezes, nem sei como isso sabe, mas, não sei se é bom ou mau, mas, gosto desta palavra, mas e ás vezes, logo fico na dúvida. Será sempre junto á linha de agua, claro dia ou, junto ao amanhecer, perto da linha d'agua. Faço parte do grupo, que pede calma e nem sempre de mim própio, própio gostei, aquele que não pede vassalagem, mas que sente, que a Inês, não pode ser morta só porque o povo quer, sangue. O povo vive sempre para alem do seu passado, só existe por via de nós. Pois é treta, mas só existe por via da nossa continuidade, essa nossa existêcia é tão grave como o meu chapeu, logo vamos com calma, pois já ninguem o usa. Tirar o chapeu é um ritual, não um "Habito" não sejamos monges com glicose em demasia.

Anónimo disse...

Queria dizer, qualquer coisa inovadora sobre a forma de defenir a amizade, no entanto não sou assim tão original, nem espatafurdio, pelo menos, tanto como gostaria. Era suposto, suposto digo bem, fazer uma expecie de antologia, mas como o espaço é em todo o caso sujeito de alguma forma, a algum tipo de limitação, não se trata-sse, nada como um ifen para me tirar do sentido. Puta que pariu, falava da subjectividade do espaço e dos Ilustres "voyores" ( fui eu que inventei), que nos surgem, da-sse o caso fixei a ideia, nesses a quem eu apelo um com.(menos um erro por via da abreviatura), muito mai lindo seria o Blog. Vá Lá, basta carregar o dedo, qualquer um. Em qualquer dos casos dizia, um OK pro meu amigo Karraio. Um OK.

Anónimo disse...

pratitamen,
peço desculpa, mas não percebi nada (e tentei).

Anónimo disse...

Eu não temho que meter o bedelho que a conversa não é comigo, mas a verdade é que também não entendi nada...nada mesmo! Mas esta linguagem (cujo código de descodificação ainda vou arranjar) é uma tão já conhecida particularidade do pratitamen que, se fosse de outro modo, não tinha piada nenhuma...

Anónimo disse...

Hum, vós vandens é malhar no cú da burra.

Anónimo disse...

Desconhecia este blog assim como desconheço(no apelido)os intervenientes.No entanto pellos coments leva-me a deduzir dos mesmos conhec-los.Vou procurar ler um pouco(quando o tempo o permite) e exorta-los a continuar pois dessa lenga é bom recordar.
Bom e Feliz ano de 2006 para os xendros

Anónimo disse...

Compreendi-te, lapaxeiro!
Todavia, não só eu sei (o que é a pasta medicinal couto, e o restaurador olex e os sabonetes lux - para não sairmos da casa de banho), como, e isso só eu sei, não comento comentários, comento posts, logo, "o arrota, pelintra" era uma forma enviezada, talvez, mas uma forma de dizer que gostei do post e resultava directamente daqui: "Mné Grande praguejava, mas não teve remédio senão arrotar com os cinco litrinhos."
Um grande bem haja por seres quem sois,

Anónimo disse...

reconheço, no entanto, que a leitura dos 2 comentários dá a ideia de eu estar a comentar o anterior. não é o caso.

Anónimo disse...

Volto só p opinar que gosto deste blog. E também gosto do blog do garfanho. Gosto poi!

Anónimo disse...

E foi isto tudo a propósito das pelharancas?
Sabem o que é que ouvi muitas vezes associado à palavra pelharanca? A barriga das mulheres que já tiveram muitos filhos (e sem lipo-aspiração).

Anónimo disse...

É nas pedras da calçada que a canção nos sai melhor. Diz o músico. Na verdade solidariedades á parte, parece-me incontornável, que ninguém se consegue manter sisudo, depois de ler os comentários do Lapaxeiro no seu melhor, um OK pra ti. O sentido de humor, pode ser mais clarividente, mais axiomático ou dando-se o caso, poderá revestir um carácter mais reservado, de leitura porventura sujeita a CODEX. Façam-me todos o grande favor de manter a boa disposição.

Respeito a opinião do amigo Garfanho, de não comentar com. O que aliás se compreende enquanto regra deontológica, ao autor de Posts. ( Foi com prazer que há tempos atrás, deixei alguns comentários no Blog do Garfanho o qual em atalhe de foice, sublinho, achei muito interessante. Espero que abra uma excepção e comente os com. que lhe aprouver, sempre que vier a este Blog na qualidade de comentador.) Considero saudável, que comentadores comentem comentários, mormente esta aliteração, nem sempre, reconheço, se faça com estilo. Diria mesmo que a essência criadora de um Blog, passa em certa medida, pela sua capacidade de procriar.

Quando a família se reúne á mesa, o Pai quer saber quem é que foi o responsável e os filhos discutem, sobre a autoria dos actos. Esta pequena metáfora ganha ainda mais estilo, se o Pai, for como os deste Blog, que na sua reflexão em família, antes de cada refeição, nos aguçam o apetite, como só eles sabem. Deixam-nos depois magistralmente tão saciados, que outra coisa não nos resta, que não seja ir para as margens da basagueda, brincar uns com os outros, enquanto fazemos a digestão e nos preparamos para o próximo Manjar.

Anónimo disse...

Amiga Txêndra, também já me tem acontecido. Recordo-me particularmente de uma vez, em que vi um filme sem legendas, de Emir Kusturica. Não percebo nada de Sérvo-croata e fiquei na dúvida. Só mais tarde quando vi a versão legendada, percebi que o argumento não se desenrolava em Tóquio, mas sim em Belgrado. Um OK pra ti.

Anónimo disse...

Nos dias em que o Pratitamem está positivamente inspirado, produz uns escritos imperdíveis. Nos restantes, passo à frente e ignoro. Na boa.

Anónimo disse...

Congra, umm ummm, congra.Ummmm congra.

Anónimo disse...

Pois é. Se o Amigo Lapaxeiro, fala, é um ganda lamaçal, fala pelos cotovelos. confunde. Se não Há. Onde é que está onde anda a leitura interessante? Pois é não sei. O sentido de humor tem que ser partilhado, sewntido e amado. Cassenão ou morrre ou morde! Morde-me Amigo.

Anónimo disse...

Sem ofensa amigo pardal, qualquer chumbo de 4,5 por alturas dessa altura, transporta claramente o genes desse código, o código, pode atingir a pele ou tingir com pena, tudo depende do tipo de pinta que se tem no bico. O Pato pode ser mudo, o pintasilgo variado na melodia, mas o que se questiona são os pardais monocórdicos, ou seja os que por ausência da pinta, aguardam para se poder, por ventura tingir. Os códigos obrigam a condutas, e ele há condutas, que são quase tão velhas como nós, por exemplo ser amigo pelo prazer que isso nos dá. Ai está um código Xendro. Com a nossa conduta, poder admitir, conscientemente, aquele amigo não se importa de ser meu amigo, é um código. Para terminar vou revelar "em código" um exemplo claro do que tentei explicar-te. Dois dos meus melhores amigos, Xendros. Pensava eu que se haviam tornado amigos, na juventude e aproximado esse valor, nas conversas Intelectuais que sabem manter, mas não, já em putos brincavam com pistolas importadas de França, que disparavam uma ventosa que ficava na parede. Esse é um código Xendro. Tu agora há alguns anos, também és Doutor, só necessitas, de descobrir se queres o código Xendro, ou viver o resto da vida sem saber ler a vida, mesmo tendo nascido Xendro.

Anónimo disse...

Por uma questão de valores? ou porque, eu sou assim, é irrelevante, seria pra mim muito mau, não falar aqui noutra prespectiva, ou não, do meu Amigo Koia. Na verdade julgo que se fala doi mesmo, pois o mundo muda em meia duzias de anos. E entre a Loucura de Lisboa e A Loucura da AlDEIA, aparece, depois o esperado, com dureza de rituais, horas de medicamentos. Por via dessa dificil cura. Mais um que também já só come, eu não o ouvi sobre isto, porque sou máu amigo, eu sei. É verdade, e isso é muito mau. Já um ano ou mais, não interessa, o tempo interessa eu, nem uma palavra. Todos os dias "joga-mos" King. Todos os dias discutimos. Sobre?, Sobre quem é melhor, ele claramente, eu sedia aos meus irmãos, ela é que faz tudo. Quase. A minha ajuda é por via da minha existência. Tá bem dizem os tecnicos, a solidão. Talvez. O Koia tem isso a dobrar. O resto é françês.

Anónimo disse...

A conversa do Koia é isso, sentimento sem resolução. Então mais vale dizer, que o Koia era eu.