terça-feira, janeiro 10, 2006

A NOSSA COMEDURA -IV - BATATAS (solteiras, assadas na água e à cão reles)

Sem dúvida uma das bases alimentares "do nosso povo" (onde é que eu já ouvi isto?), o tubérculo da batateira, para além de ser de muitas variedades permite quase tanta modalidade de confecção como o nosso querido e fiel amigo da Terra Nova, Noruega, Pacífico,...
Hoje vou trazer-vos aqui três possibilidades de confeccionar a batatinha, assim comédado. - E COMÉDADO, não custa nada - .
Iniciemos então a confecção:

a) BATATINHAS SOLTEIRAS

Arranjai uma boa caç(ar)ola, ou caçoilo de barro, ou melhor ainda uma travessa da mesma argila.(Em alternativa um bom tabuleiro (lata) de alumínio, daqueles de meter os bolos de leite ou os esquecidos, em tempo de boda, ) e
1 - começai por descascar as batatas ( se forem das novas e pequenas basta que as raspeis). Cortai aos cubos ou quartos, ou longitudinalmente em forma triangular;
2 - descascai também umas quantas cebolas;
3 - disponibilizai uns tomates e pimentos e meia dúzia de dentes de alho;
4 - cortai em fatias "ad hoc" umas tiras de entremeada, umas rodelas de chouriço;
5 - lavai duas ou três folhas de louro;
6 - no fundo da caçola vertei generosamente umas gorgoladas de azeite;
7 - envolvei as batatinhas aos cubos com as cebolas grosseiramente cortadas, os tomates rachados à balda e meia dúzia de tiras de pimento, as folhas de louro e os alhos espalhados, as fatias de entremeada e as rodelas de chouriço;
8 - fazei uma mistura de vinho branco e água em percentagem mais ou menos idêntica, dissolvei o sal necessário e um pouco de colorau. Podeis mesmo aquecer um pouco para que a liquefacção seja melhor conseguida. Despejai sobre o preparado anterior. Quem gostar de picante pode meter, a gosto;
9 - Metei no forno aquecido. (Bom, bom é em forno de lenha, mas não havendo, serve o do fogão doméstico) aí obra de uns trinta ou quarenta minutos e no caso de começarem a tostar sem estarem devidamente cozidas/assadas convém tapar com uma folha de alumínio.

N.B. - Acompanham divinamente qualquer prato de carne seja ela confeccionada no forno ,ao lume ou no fogão!

b) BATATINHAS ASSADAS NA ÁGUA

1 - Ponde um recipiente, com o tamanho que considerardes necessário para o número de comensais, com água, a ferver;
2 - utilizando de preferência sal grosso, vertei nessa água umas boas quatro ou cinco mãos cheias de sal;
3 - antes ainda de levantar fervura e com o sal já derretido introduzi as batatas com casca e bem lavadinhas, que devem ser adequadas, como se fosse para assar no borralho/cinza (a chamada batata miúda);
4 - a água deve apenas cobrir as batatas. Deixai cozer destapadas;
5 - quando estiverem prontas escorrei, deixai arrefecer só um bocadinho e apanhai para um saco de plástico. As batatas devem apresentar um coloração esbranquiçada na casca, fruto do cloreto de sódio;
6 - entretanto tende já feito um molho à base de azeite, vinagre tinto de vinho, bocadinhos de folha de louro, e bastante alho a que tirastes o grelo e esborrachastes grosseiramente e colorau.
7- socai as batatinhas dentro saco que deve ser transparente para haver a certeza que são todas murradas, despejai o molho bem batido e servi de imediato, a fumegar.

NB- São excepcionais para peixe assado na brasa (bacalhau, chicharro, besugo, sardinha, corvina, ...) ou mesmo carne: entremeada, entrecosto, febras, frango, ...

c) BATATAS SALTEADAS À "CÃO RELES"

1 - Descascai as batatas necessárias e cortai em cubos médioS; lavai bem;
2 - servi-vos de uma frigideira anti-aderente para a qual verteis um pouco de azeite e uma pouca de banha de porco. (nunca deveis fritar apenas em banha que facilmente esturra e é insalubre);
3 - introduzi as batatas, avivai o lume, tapai o recipiente, deixai suar;
4 - escarchai, mesmo com casca, meia dúzia de dentes de alho;
5 - quando destapardes o recipiente, aventai com os alhos para dentro, salgai a gosto com sal do grosso; tornai a tapar;
6 - quando as batatas aparentarem uma coloração levemente acastanhada, no caso de vos apetecer, salpicai com um chirrichichi de colorau. Mexei e servi de imediato.

NB - acompanham bem, lombo ou lombinho de porco assado, frango corado, entrecosto e o que mais for de carne boa e saborosa. Se gostardes de um pouco de verde para dar cor, estas batatas casam muito bem com um esparregado de nabo, espinafre, (...) ou mesmo roupa velha.
Facílimas de confeccionar, demoram pouco mais de 5 minutos num bom fogão e admitem quase todo o tipo de carnes para sua companhia.

Aqui vos deixo três desafios. Ousai experimentar e dizei-me dos resultados!
Bom apetite!

27 comentários:

Anónimo disse...

Julgava eu que batatas solteiras eram aqulelas que o meu avô comia, cozidas só com água e sal, que pagava na mão e acompanhava com azeitonas. Por comparação, esta receita do Changoto parece-me mais com batatas "amigadas", porque afinal sempre têm um rico acompanhamento.

Quanto às batatas assadas na água, já comi muitas vezes, graças ao meu pai que me ensinou a receita, que fez inúmeras vezes nas sua andanças pela raia à cata de contrabandistas, com pistola de cortiça no coldre (com desconhecimento do sargento e do capitão).

Novidade, novidade, são as batatas à cão reles. Estou na disposição de experimentar, se bem que tenho a certeza que não me vão sair tão bem como ao Changoto. Mas pode ser que me convide a provar as que ele faz.

Anónimo disse...

Dirijo-me aos leitores deste blog que conhecem bem Aldeia do Bispo e as suas personagens, para dizer que, afinal, me vou abster de fazer aqui a associação que de imediato me ocorre entre "Batata" e "cão reles".

Anónimo disse...

O chefe silva e outros que ponham aqui os olhos. O Changoto explica-lhes o que é cozinhar comédado.

Incensos ao Mestre dá o aprediz sabujo, de forma que me escuso a mais Latim, sobre a qualidade de mais um Post á medida do Changoto.

Batatinhas solteiras, não sei porquê, mas sinto-lhe um certo sabor.

CanisLupusSignatus disse...

ó anonymous, espero bem que não confundas "cão reles" com "canis lupus"!
é que o silogismo poderia dar a parecer o que não é! senão atentemos:
batata é cão reles
cão reles é canis lupus
logo canis lupus é batata!

O que não é verdade, pois considero até um certo grau elevadíssimo de antítese nessa idéia!

bom, mas falemos das outras batatas, das comestíveis e não das outras, das intragáveis e venenosas...

gosto muito de batatinhas sim senhor, mas a minha família é de carnívoros e portantos do que gosto mêmo é de carne, seja ela viva ou morta:)

aaaaaaaauuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu!

Anónimo disse...

Proto, viva a Marinha.

Anónimo disse...

Pois é, ó Canislupussignatus, podes gostar muito de chicha, mas por causa dessas bocas, se pudesse condenava-te durante uns tempos a uma dieta à base de massa, para aprenderes que nem só de carne vive o canis lupus. E olha que às vezes as minhas sentenças cumprem-se. Põe-te a pau.

Anónimo disse...

Um destes dias temos que convencer o Amigo Changoto, juntar o Amigo Karraio e os Amigos comentadores e pedir ao mestre que nos faça o suculento osso da suã com arrozinho. Eu levo o tintol.

Anónimo disse...

O esparguete deve ser pouco enjoativo, Amiga Angarela. Eu acho que o pecado da gula merece castigo mais duro. Eu se manda-se, ordenava que o Amigo Canislupussignatus, durante os próximos seis meses da sua aventura Italiana, apenas tivesse direito a pizza, de orégãos e pepiron.

Anónimo disse...

Ora muita boa tarte! muito me alegrou ter conhecimento da existência deste "nosso" pequeno espaço, onde podemos sempre recordar as estórias da nossa bela terra! Para quem está longe, é sempre uma boa forma de matar as saudades que em dias piores nos batem no peito! E claro identificando ou não os comentadores é sempre bom ler os seus escritos!

Anónimo disse...

Pizza? Não creio! As variedades são tantas que mesmo assim não seria suficientemente enjoativo. Se calhar é melhor condená-lo a pelo menos meia dúzia de italianas (uma por mês), não achas tu pratitamem?

Anónimo disse...

É com apreço e muita estima que constato que mais um xendro, embora anónimo, estabeleceu contacto com este espaço. Viu no Jornal do Fundão, foi?

Anónimo disse...

Lamento informar (e talvez não), que não foi através do Jornal do Fundão que tomei conhecimento deste espaço, mas sim, através de outro xendro(a) que apesar de pouco, por vezes também contribui com pequenas palavras... vou tentar aparecer mais vezes! Mas do que tenho visto, tenho gostado imenso! Ele há coisas que nunca se esqueçem...

Anónimo disse...

Esteja descansado senhor lapaxeiro, que eu não integro aquele grupo de xendros, que apanha "de vez em quando" por aí e que presenteia com um brinde... mas tenho de concordar que o endereço deveria ser mais divulgado... recordar nunca fez mal a ninguem!
Se decidirem pela PAPAROCA não se esqueçam de divulgar....

Anónimo disse...

Pronto, Amiga angarela, que sejam as Italianas, mas só uma de dois em dois meses, se não depois vem mal habituado e não se concentra e é um castigo cada vez que jogamos King.

Amigo Anónimo é necessário um nome por muito virtual que seja, para a eventual paparoca. Se não imagina, jantar pra vinte cinco e aparecem cinco mil anónimos. Não há osso da suã que resista! Uma sugestão: O Glorioso. a Águia da Luz, etc.etc.

Anónimo disse...

Nas matanças a que todos os anos assisto e até participo,(pelo menos a lavar a louça do almoço, pois que não aprendi as técnicas de lavar as tripas ou de atar as mesmas para encher as morcelas), sempre ouvi chamar osso da sevã e não da suã, expressão que até desconhecia. Mas o que importa é que é mesmo bom, com arroz e salada, especialmente se for bem regado.

Anónimo disse...

A referência ao Jornal do Fundão prende-se, por certo, com o facto de aí ter sido recentemente publicado um pequeno artigo que divulgou este espaço, e onde estavam identificados através de fotografia os autores deste blog. Também viram?

Anónimo disse...

Sempre vos digo que, por aquilo que conheço, se o Changoto abrisse uma tasca, havia de ser um sucesso. Dê ele as voltas que der aos ingredientes, sai-lhe sempre bem. Também por aquilo que conheço, o Karraio também não se sai muito mal na cozinha. O que lhe falta é prática.

Anónimo disse...

Se é um nome que quereis, pois muito bem um nome tereis! nada fácil de conseguir mas porque não ser um nome com o qual melhor me identifico? "BEIRONA", não poderia ser melhor pois toda eu sou da beira e da beira hei-de sempre ser! Agradeço a sugestão do Glorioso, mas apesar de ser um clube que admiro, a admiração não me leva a tanto....

Anónimo disse...

Acabem com a "conversa" e vamos lá ao que interessa; onde é o restaurante? Quando é que abre? Pois estou sempre pronto para comer e beber, está bem, pronto!também para trabalhar, quando for nrcessário e para uma boa causa.
É dificil resistir a todas estas receitas que devem ser deliciosas; vejam lá, até me incentivou a participar no blog,para ser sincero também o conheci recentemente através de um vosso conterraneo que muito o divulgou, é possivel até que ganhe novos participantes, porque leitores já os tem.
Para além de todas as estórias contadas pelos autores de forma tão meticulosa, gosto imenso dos nomes escolhidos para identidade dos participantes, no entanto o que mais gostei foi o do "CADAMÓNHE", que não faço a minima ideia da sua origem, assim como a de outros, que julgo ter algum significado para vós Xendros.
Fiquem bem, até um dia destes.

Anónimo disse...

Muito bem, Amiga Beirona. E a falta que este Blog tinha de Beironas, muito me regozijo. Ainda por cima também és do Glorioso. Eu próprio me encarrego de comunicar a eventual paparoca. Sê bem vinda.

Anónimo disse...

Nunca soube o clube da Amiga Xendro. Nunca foi importante, mas isso, não é grave, logo a gravidade é um destino possivel, Dia de Mercado. Um OK pra ti.

Anónimo disse...

Andei meio distraido por aí com algum trabalho que não me permitiu ler com frequência este blog. Mas é com prazer que vejo que a qualidade dos textos continua no seu auge e que estes nos deixam com água na boca. Já agora, só uma pequena sugestão, aqui à receita do "cão reles"... a minha querida mamazinha, que é uma excelente cozinheira, também costuma preparar estas batatinhas suculentes, mas noutra vertente final, em vez do colorau, tentem pôr salsa fresca migadinha e triturar o alho (sem casaca, claro)! É de chorar e pedir por mais. Garanto, e alguns xendros já provaram, feito por mim e adoram!

Anónimo disse...

Em resposta ao xxxl e a propósito do CADAMONHE, sugiro que recue atrás no tempo e leia o texto publicado neste blog em Maio de 2005 - A NOSSA FALA VI: CADAMONTRE - e perceberá o que significa para o Xendros. Leia, aprecie e divirta-se com esse e outros textos anteriores ao presente.

Anónimo disse...

Interessante essa de não meter água nas couves. Nunca tinha visto a receita dessa maneira. E não esturricam?
Acho que vou experimentar. Com um coelho a sério, não vou cá em tarelhos.
Se as couves esturricarem, olha! faço umas batatinhas à cão reles...

Anónimo disse...

A mim o que me espanta nem é tanto o não botar água nas couves. O que realmente acho estranho é cozer as couves verdes. Atão não podiam esperar que ficassem maduras?

Anónimo disse...

Não, as couves são pra mim são sempre verdes, apren-se muitos ifens com elas, e elas, são muito importantes, só que nem todas me veem, como uma cove flor, E eu nem sempre posso querer ser uma cove flor. Sinto-me, feliz, por mim, saber ser maravilhoso, por isso, com a ajuda da minha irmã verdadeira é maravilhoso, saber escolher uma segunda assim, foi sorte minha.

Anónimo disse...

Ele não é mau rapaz, Juro-te, que ainda gosta, ás vezes, de bife com batatas fritas.