Hoje apetece-me ser politicamente incorrecto.
O madeiro é das poucas “tradições”, que ainda mobilizam o povo, que acode em massa a assistir ao desfile nos dias 8 de Dezembro de todos os anos.
Em Penamacor, parece que sentem grande orgulho em ostentar o ceptro de maior madeiro do país, porque mobilizaram meia dúzia de retros, uma dúzia de tractores, uma dúzia de motoserras, para deitarem abaixo uma dúzia de sobreiras.
Nas aldeias, são um pouco mais comedidos, ficam-se pela metade.
Digo eu, sem mais rodeios:
Nos moldes actuais, é praticamente inexistente a ligação deste madeiro ao espírito religioso (e/ou até pagão) original.
Na perspectiva ecológica, é potencialmente um crime.
Sem rodeios nenhuns:
A tradição do madeiro deixou de o ser.
3 comentários:
Concordo inteira, total e plenamente. Em vez de um motivo de orgulho e de competição na tentativa de fazer um madeiro sempre maior que o do ano anterior, deveria ser motivo de vergonha.
As brigadas de defesa do ambiente, que tão zelosamente costumam actuar, não deveriam agora fazê-lo? Ainda mais quando a prova do crime é por demais evidente e fica exposta aos olhos de todos até ao Natal e é do conhecimento público quem são os autores? Não se trata, em primeira linha e como é evidente, de sancionar ou punir aqueles que julgam estar apenas a cumprir uma tradição, mas a quem, afinal, falta a sensibilidade para entender os limites. Julgo que deveria, isso sim, intervir-se no sentido de educar e prevenir. Bastaria que as entidades competentes nesta matéria actuassem numa só das situações. O efeito pedagógico haveria, por certo, de fazer sentir-se em anos futuros.
É certo que logo se levantariam as vozes do costume: "querem acabar com as tradições... blá, blá, blá...". O habitual daqueles que nada fazem, nunca têm uma iniciativa válida, mas estão sempre prontos a apontar: se é preto, critica-se porque é preto, mas se é branco também há razão para criticar. Esses são os que se dedicam com afinco à prática da "criticomania", mas como diz o povo "vozes de burro não chegam ao céu".
Lembro-me de um presidente de câmara que, em tempos, tentou introduzir alguns limites razoáveis nesta questão, sem pôr em causa a tradição do madeiro, mas quase foi crucificado na praça pública. Assim, quem se atreve a intervir?
Além disso, há os prejuízos já recorrentes nas casas próximas aos madeiros. Quem paga?
Se não se inverter a "tradição" de um madeiro todos os anos maior que o do ano anterior, particularmente em Penamacor, onde irá parar-se? Daqui a algum tempo, ou é cortado o trânsito no centro da Vila entre o dia 8 de Dezembro e até que se apague o lume depois do Natal, ou será necessário demolir algumas casas no Largo da Igreja para que se cumpra a tradição.
Tenham tento.
Comentava há dias com o meu colega de trabalho, o ritual que envolve a tradição do madeiro em terra de Xendros. Quando a explicação chega á parte do lume com que aquecemos o menino Jesus depois da missa do galo, fui interrompido pelo Mangualdense que com algum espanto me interpela.
- Quatro sobreiros? Não estás a exagerar pá! Tudo lenha de sobreiro?
Diz-me com ar ainda meio incrédulo, que para os lados de Mangualde, embora sem o "espírito envolvente" da nossa tradição, também eles acendem o lume no adro da igreja por altura das festas. No entanto a lenha que é oferecida por todos os habitantes do povo mas em menor quantidade, não é de sobreiro, pois essa infelizmente já a não há. Ainda assim (concluiu resignado), que também eles tem Madeiro até por alturas de ano novo.
Acho que os Madeireiros da Vila até deveriam em vez de doze, levar vinte camiões com reboque. Mas era de madeira importada aos Índios KANNISVIL LAI, da amazónia e tranportada em navios da Greenpeace.
Concordo! Exagero sim! Podia perfeitamente ser em menos quantidade e a lenha poderia ser mai variada assim tipo "eucaliptre", giesta e outras que mais...
A tradição é mui linda si senhor... que bem que sabe uma chouricita assada com paozinho quentinho da padaria às 3 da matina!!! Já me cresce água na boca... aaaauuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu!!!
E acredito que a chouriça soubesse igualmente bem, mesmo assada em madeira que não a de sobreiro!
Bem, lá estaremos, pra matar saudades e aguentar o frio gélido e cortante que a chama cheia de vida do lume do madeiro tentará apaziguar...
Enviar um comentário