O café da Rosa é uma instituição. É ela a única que ainda mantém a traça original. Havia outros, mas a gadanha da morte já os ceifou : O Fatela, onde por estes tempos de chuva se jogava o fito e a raioula, o Chico Miguel, com talho ao lado e pocinho estreito e fundo com cesta presa por corda onde se refrescavam sumos cerveja e vinho ao natural - uma delícia -, O Zé Rolo, onde a Ti Maria Labouxa fazia jeropiga com laranjada Prazeres, açúcar amarelo e groselha, - uma purga - , o Zé Júlio com loja atrás para a troca dos taleigos e o Zé Cavalheiro que todas as semanas ia a Penamacor buscar a mistela para conceber um vinho branco que era a causa de muitas caganeiras do povo. Vá lá que a ribeira estava perto....
A Rosa também não foi sempre assim: Quando o Zé Augusto e a Rosa juntaram os trapinhos aquilo era uma casa em derrocada mais parecendo um palheiro. Ainda ajudei a subir as vigas lá para cima. Havia uma divisória que primeiro serviu de barbearia - o Zé Augusto foi ainda barbeiro - e depois funcionava como tasca com mesa de matraquilhos onde Tonho Branquinho, para além de se ufanar das suas capacidades pedreirísticas arreliava tudo e todos com os seus golos à cagadinha. A Rosa arranjava por lá uns petiscos de se lhe tirar o chapéu: lebres com couve, coelho bravo com batata cozida, meloreja, nacos de carne na caçola com entremeada e entrecosto à mistura e colorau com fartura, rolas estufadas, perdiz guizada, e o que mais houvesse! Eram poucos os dias em que, de Verão, eu jantava em casa.
Podia trazer aqui muitas histórias que se passaram dum e doutro lado do café/tasca da Rosa. Aí vai uma: Certa vez, um sábado, era para aí meio da manhã, um viajante todo bem posto entra na Rosa e« arranje-me um garoto se faz favor». A Rosa saíu, demorou-se um instante e sai-se com esta:« Desculpe lá mas agora não há por aqui nenhum; só está ali o meu, mas está a fazer os trabalhos da escola» . O homem começou a rir, a Rosa não achou piada: " ora o filho dum filho dum filho do diabo, hein! Não queria ele agora que o meu Zé Mnel deixasse de fazer as coisas da escola para o vir a aturar! Não queria ele mainada! Era só o que faltava! ÃIÃ!
«É assim mesmo Rosa! Uma mulher quer-se com génio! » diz o Tonho Pedro, alfaiate, que àquela hora já tinha enfardado aí umas dez ginjas com aguardente. «É preciso ter descaramento, um gajo que a gente não conhece a pedir para lhe arranjares um garoto! ÃIÃ! Eu mandava-o logo para a real grande puta que o pariu!»
É lugar comum dizer-se que a água lava tudo menos a má língua. Eu concordo. Só por isso, e não quero ser má língua, me atrevo a contar uma outra história ocorrida nesse fabuloso café da Rosa. Devo mesmo confessar, em abono da verdade, que em tempos não ainda muito afastados, não havia café mais saboroso que o da ti Rosa.Era um café marca ZULU. Acima de excelente. Mas como tudo o que é bom tem um fim rápido, também esse café desapareceu. Ainda bem que a Rosa não.
Aí vai a estória: a mulher do velho Melro chega ainda quase noite (embora fosse já madrugada) a casa de ter ido tratar do 'vivo' e encontra a filha Mariana toda nua na cozinha a tirar um prato de sopa da panela de ferro pendurada nas cadeias.«Atão que preparos são esses? Já não tens roupa para te vestires?» "Ai mãe, logo vossemocê apareceu; mas sabe: isto é o fato do amor!"(Esclareça-se que Mariana se tinha casado dois dias antes e por não ter ainda arrumada a casa para onde ia viver com o Amândio Solipa, tinha ficado a viver na casa da mãe, que naquele tempo não havia lua de mel).
A mulher do Melro apesar de tudo acabou por ter gostado de ter visto a filha como já havia muito não a via e até cogitou:« é jeitosa a minha filha! Não admira que dê que fazer ao Amândio!Bem bonda eu que nunca me apresentei assim ao meu Melro.»
A imagem e a frase da filha tornaram -se uma cisma para ela.Não lhe saía da cabeça aquela beleza de corpo e vieram-lhe uns apetites que há muito já não tinha e uma vontade enorme de naquela noite se encostar ao Melro que, coitado, também já tinha mudado a pena e devia ver mal que não reparava nela senão para lhe ralhar.
Rumina, rumina e decide-se.
Nessa noite a Mariana e o genro iam jantar à casa dos compadres e deviam vir tarde. O Melro andava à jorna, chegava cedo, comia alguma coisa e 'ala que se faz tarde! cama!'.
Até se arrepiava de ser capaz de fazer o que em todo o dia tinha andado a pensar.
Quando lhe pareceu que eram horas de o Melro chegar, ateou o lume, pôs lenha de calipo seca para a casa ficar bem quente e toca a despir. Só ficou com uns chanatos por mor do sobrado que lhe arreganhava a sola do pé.
O Melro chegou, subiu as escadas e dá de trombas com a mulher naqueles preparos:"tás maluca ou quê? Vai-te a vestir, dianho!Olha se por aí chega alguém! Rais a afundem!" E ela: «Sabes,Melro, hoje de manhã agarrei a nossa Mariana assim incourinha , chamei-a à atenção e ela : "ò mãe, tu não vês que isto é o fato do amor?"»Solta o Melro um som de chateado e sai-se:"Se querias apresentar o teu fato do amor devias tê-lo passado antes a ferro".
Esmoreceram os apetites da velha e só soube desabafar: ÃIÃ!
A Rosa também não foi sempre assim: Quando o Zé Augusto e a Rosa juntaram os trapinhos aquilo era uma casa em derrocada mais parecendo um palheiro. Ainda ajudei a subir as vigas lá para cima. Havia uma divisória que primeiro serviu de barbearia - o Zé Augusto foi ainda barbeiro - e depois funcionava como tasca com mesa de matraquilhos onde Tonho Branquinho, para além de se ufanar das suas capacidades pedreirísticas arreliava tudo e todos com os seus golos à cagadinha. A Rosa arranjava por lá uns petiscos de se lhe tirar o chapéu: lebres com couve, coelho bravo com batata cozida, meloreja, nacos de carne na caçola com entremeada e entrecosto à mistura e colorau com fartura, rolas estufadas, perdiz guizada, e o que mais houvesse! Eram poucos os dias em que, de Verão, eu jantava em casa.
Podia trazer aqui muitas histórias que se passaram dum e doutro lado do café/tasca da Rosa. Aí vai uma: Certa vez, um sábado, era para aí meio da manhã, um viajante todo bem posto entra na Rosa e« arranje-me um garoto se faz favor». A Rosa saíu, demorou-se um instante e sai-se com esta:« Desculpe lá mas agora não há por aqui nenhum; só está ali o meu, mas está a fazer os trabalhos da escola» . O homem começou a rir, a Rosa não achou piada: " ora o filho dum filho dum filho do diabo, hein! Não queria ele agora que o meu Zé Mnel deixasse de fazer as coisas da escola para o vir a aturar! Não queria ele mainada! Era só o que faltava! ÃIÃ!
«É assim mesmo Rosa! Uma mulher quer-se com génio! » diz o Tonho Pedro, alfaiate, que àquela hora já tinha enfardado aí umas dez ginjas com aguardente. «É preciso ter descaramento, um gajo que a gente não conhece a pedir para lhe arranjares um garoto! ÃIÃ! Eu mandava-o logo para a real grande puta que o pariu!»
É lugar comum dizer-se que a água lava tudo menos a má língua. Eu concordo. Só por isso, e não quero ser má língua, me atrevo a contar uma outra história ocorrida nesse fabuloso café da Rosa. Devo mesmo confessar, em abono da verdade, que em tempos não ainda muito afastados, não havia café mais saboroso que o da ti Rosa.Era um café marca ZULU. Acima de excelente. Mas como tudo o que é bom tem um fim rápido, também esse café desapareceu. Ainda bem que a Rosa não.
Aí vai a estória: a mulher do velho Melro chega ainda quase noite (embora fosse já madrugada) a casa de ter ido tratar do 'vivo' e encontra a filha Mariana toda nua na cozinha a tirar um prato de sopa da panela de ferro pendurada nas cadeias.«Atão que preparos são esses? Já não tens roupa para te vestires?» "Ai mãe, logo vossemocê apareceu; mas sabe: isto é o fato do amor!"(Esclareça-se que Mariana se tinha casado dois dias antes e por não ter ainda arrumada a casa para onde ia viver com o Amândio Solipa, tinha ficado a viver na casa da mãe, que naquele tempo não havia lua de mel).
A mulher do Melro apesar de tudo acabou por ter gostado de ter visto a filha como já havia muito não a via e até cogitou:« é jeitosa a minha filha! Não admira que dê que fazer ao Amândio!Bem bonda eu que nunca me apresentei assim ao meu Melro.»
A imagem e a frase da filha tornaram -se uma cisma para ela.Não lhe saía da cabeça aquela beleza de corpo e vieram-lhe uns apetites que há muito já não tinha e uma vontade enorme de naquela noite se encostar ao Melro que, coitado, também já tinha mudado a pena e devia ver mal que não reparava nela senão para lhe ralhar.
Rumina, rumina e decide-se.
Nessa noite a Mariana e o genro iam jantar à casa dos compadres e deviam vir tarde. O Melro andava à jorna, chegava cedo, comia alguma coisa e 'ala que se faz tarde! cama!'.
Até se arrepiava de ser capaz de fazer o que em todo o dia tinha andado a pensar.
Quando lhe pareceu que eram horas de o Melro chegar, ateou o lume, pôs lenha de calipo seca para a casa ficar bem quente e toca a despir. Só ficou com uns chanatos por mor do sobrado que lhe arreganhava a sola do pé.
O Melro chegou, subiu as escadas e dá de trombas com a mulher naqueles preparos:"tás maluca ou quê? Vai-te a vestir, dianho!Olha se por aí chega alguém! Rais a afundem!" E ela: «Sabes,Melro, hoje de manhã agarrei a nossa Mariana assim incourinha , chamei-a à atenção e ela : "ò mãe, tu não vês que isto é o fato do amor?"»Solta o Melro um som de chateado e sai-se:"Se querias apresentar o teu fato do amor devias tê-lo passado antes a ferro".
Esmoreceram os apetites da velha e só soube desabafar: ÃIÃ!
11 comentários:
Terrivel, como o caraças, porrA.
~SÓ MESMO, pra doutor, vindo de "pros operatoreo" Estes gajos, com nome de vitor acabado em ateu, partem-me todo. Nota-se, épá, vamos falar de nós, ( Raispartaosvitorers.).Porra são tão maus, Fazem sofrer, quem, tinha a mania que já não sofria. O meu irmão vitor deve ir beber onde tu vais e isso, deve ser um segredo bem "guardado".
se eu um dia fosse á maquina, e o papel "fala-se", se eu só "fosse" vivo se "fosse" ao Psiquiatra, se ouvesse só um caminho antes do fim, se eu "podesse" escolher, se a minha salvação fosse reviver a minha vida, se eu pudesse escolher o doutor que me iria tirar a maleita, ou seja o gajo, médico. Que achava que a terapia passava por uma sessão de "Hipnotismo", TIPO voltar ao passado, o meu Médico ia ser o Changoto, o único com garantias de me curar, com a grande sorte de não fazer doer. Mais, a ADSE, não entra com nada. Um OK pro médico.
O médico não é santo, nem ninguem que lê isto. Haja lá um santo ou um ebreu ou um gajo anti-cruzadas, somos todos, que pense, que o mundo é redondo, logo isso é verdade. Porra o mundo é quaize redondo, tudo se repete, é a "pressa" que vos vai tchapar, ainda vos ides lixar por via da falta de contexto, não tendes pra já razão, quando isso acontecer, já cá não estamos, eu sei que isso não vos preocupa, mas eu vivo neste mundo, sou responsável por quem cá vive, não gostas vai embora, mas pergunta aos outros a opinião deles.
Ena ca porra! Levo um atraso de mais de 2 meses! Não! Não é do período! É DO BASÁGUEDA e das suas FALAS. Já não leio desde a XXIV. Vai demorar a recuperar, mas lá terá de ser. Um abraço a todos do ALMADODIABO e mil desculpas aos escribas.
O café da ti Rosa, também conhecido como "a capela" pelos frequentadores menos assíduos das missas dominicais e que preferem religiosamente fazer uma paragem nesse fidedigno estabelecimento onde se fala de tudo( e se filosofa também), é sem dúvida um dos ultimos lugares na nossa "Santa Terra" que marcou e ainda marca as últimas quatro gerações de jovens noctâmbulos...O café da Ti Rosa é único no seu género, é o primeiro a abrir de manhã ( o que dá um jeitinho para aquelas noitadas que se prolongam até quase ao meio dia) e dos poucos que quase nunca encerra em feriados, casamentos, festas e afins. Gosto do Café da Ti Rosa, da calma em que tudo se processa alí. O martini é praxe em dias de casamento, para os convidados que aí permanecem durante a cerimónia e para os noivos,(oferta da casa!) É dos últimos lugares que podemos apelidar de "tasca" e onde jovens e velhos convivem pachoramente. Lembro-me de uma manhã, num fim de semana, onde, após uma noitada albicastrense um pouco mais bebida, entramos no café às sete horas(ainda nem havia sol) e pedimos todos ginginha. A Ti Rosa com o seu ar calmíssimo e sereno serviu o licor e perguntou: "-Já levantados? Assim é que é, de manhã é que se começa o dia!". E rematou com ar sério: " -Eu não sabia que vocês também gostavam, mas aposto que vão à caça!"
Só não nos engasgamos porque não calhou. Mas ficou-lhe bem, e ficamos sem saber se aquilo fora uma censura velada ou a expressão genuina de uma autêntica surpresa. Ãiã!
Como sempre, sem nada a apontar! serviço limpo! Detesto o "Gorge" Gabriel, agora porra, pra i dois anos, saudades mesmo dos pequenos vagabundos, e desse seu tesouro. não li mais, fiquei no gorge, vamosa com calma.
Quem me dera poder, continuar, mas não posso, não posso, hoje não posse, mai, na fui á Rosa hoje ao café, mas na to bem pesso desculpa. esses esses todos sou eu se...
E o Zéi? estandeis a esquecer o Zéi do caféi. Ele é que vai continuar a saga.
Conquentão e lapaxeiro, excelentes comentários. Pratitamem, excelentes incomentários.
Falemos então do noss'Zé, Figura tão carismática, que sucede com todo o brio à tradição da tasca da Ti Rosa. Pois é, o rapagão, em toda a sua bonomia, é a versão moderna do novo tasqueiro. Este não dispensa um ecrã pessoal,de todo o tamanho,(fazendo juz ao seu proprietário) para poder visionar a filmatografia da Lusomundo! Um ecrã para a Ti Rosa e para os clientes mais tradicionais, outro para o tasqueiro e clientes mais requintados...A máquina distribuidora foi ideia dele, e que rica ideia! É a fonte que mata a sede a partir das 2 da manhã e sem a qual as noites de verão da santa terra não teriam o mesmo encanto. O noss'Zé é um Cromo. é mais um bom rapaz que gosta, ama, idolatra a profissão de taberneiro e não tem problema nenhum, e até faz questão, de acompanhar os clientes nas suas degustações de cevada!Claro está que a compreensão do seu discurso é por vezes complicada de entender! Está em todas as festas e é também um dos melhores clientes de todos os cafés da aldeia, desprezendo o conceito de concorrência com o maior à vontade possível. A Tasca da Ti Rosa tem herdeiro, sim senhor, e ainda bem!
ÃiÃ! A mulher do Melro em pelota fez-me recordar uma pequena estória passada há cerca de 19, 20 anos. Não é nada de especial, mas por vezes ficam-nos na memória pormenores sem importância enquanto que tendemos a esquecer as coisas que mais relevam. Os psicólogos têm explicações para isso.
Então cá vai: durante 15 dias do mês de Agosto, para ajudar a ocupar as longas férias de verão, participei na OTL e passava as manhãs no Centro de Dia, colaborando no que fosse necessário e fazendo o que me mandavam. Era um bom grupo, o do ATL desse verão quente. Esclareça-se que foi então que o jardim da frente do edíficio começou a tomar forma. Plantamos árvores, flores, fomos buscar calhaus pelo caminho do cemitério em carrinhos de mão... enfim, um divertimento.
Mas também demos apoio aos idosos, o que incluía dar banho, mesmo aos mais renitentes e avessos à água. E lembro-me duma idosa, já mesmo velha, a fugir pela casa, incoura, enquanto a funcionária e nós raparigas tentavamos dar-lhe a volta e os rapazes se escondiam atrás da porta a assistir a tal espectáculo e a rir. A verdade é que o argumento que a velha usava era de peso: não podia tomar banho porque andava com o "incómodo", e se tomasse banho em tal estado, podia subir-lhe o sangue à cabeça.O pior é que não era só a velha que acreditava nesse mito. Ainda me lembro do tempo em que a minha mãe me ralhava por tomar banho quando andava com o "incómodo". Ele era cada responso!
Para terminar só quero dizer que esse verão e o que nele vivi mudou para sempre a minha vida.
Fantásticos comentários! E tantas saudades de alguns que postaram!
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