O tempo é inexorável. Não se pode chamar o detrás. O que passou é irrepetível. É por isso que o tempo, sendo, nunca é. A mobilidade é a sua característica maior. Mas, hélas! em tudo o que se move, algo permanece estático e em tudo o que repousa algo se altera. Na verdade, o passado já não é, e o futuro ainda não está, logo, um já não existe, e o outro ainda não faz parte. A efemeridade do presente conduz inevitavelmente ao ponto - aquela dimensão que não tem extensão mas sem o qual não seria possível a recta, depois a superfície e a seguir o volume. A tridimensionalidade, afinal, aparece da inextensibilidade.
A polémica entre a realidade experiencial, material, empírica, mensurável, configurada, representável em figuras num plano, embatia numa outra: a realidade ideal. Esta era perfeita, modelar, única, sem dimensionalidade, conceptual, eidética, original e sem defeito já que imperfectível, eterna, paradigmática, enfim, hiperurânia.
A dicotomia e, depois, a harmonia dos contrários perpassaram a história do pensamento humano: bem/mal, direito/esquerdo, vida/morte, sono/vigília, .../..., céu/inferno, deus/diabo, dia/noite/,... e ainda hoje permanece.
Se hoje fossem vivos, esses grandes vultos do pensamento humano, cujas referências ainda hoje se invocam, se hoje fossem vivos, dizia, ficariam pasmados: afinal a realidade nem é real nem ideal, é virtual. O que é e o que parece, finalmente, fundiram-se: a nova metafísica reduz-se ao electrão. O tempo e o espaço quase se colam: acontece no Japão, eu vejo em casa, tenho falta de dinheiro? em dois minutos sou milionário,...
Em tempos que já lá vão, ouvi explicar que tinha havido um milagre grego, no sentido em que a qualidade e quantidade da obra produzida na Atenas de então eram de tal monta, que não tinham explicação possível.... Deu-se-lhe o nome de milagre grego (a eles que o que mais que queriam era acabar com os milagres na criação!) ! A incongruência reside no facto de que o que os gregos pretendiam era exactamente varrer as entidades divinas da criação do mundo e por isso elencaram uma série de causas a que chamaram ARCHÊ(s), princípios primeiros, causas encausadas, origem de tudo quanto existe e por isso há pinhos e eucaliptos, macieiras e sobreiros, corvinas e chernes,... É a unidade no seio da multiplicidade, ou se preferirmos, a multiplicidade derivada de uma origem comum: fosse a água de Tales, o indeterminado de Anaximandro, o ar de Anaximenes, o fogo de Heraclito, o Amor e o Ódio de Anaxágoras, o número de Pitágoras, os quatro elementos de Empédocles, (...) a verdade é que o elemento criador era um dos elementos da natureza. O natural originava o natural e o sobrenatural era de outra dimensão, portanto, não metia no mundo e suas variações, nem prego nem estopa.
Perguntareis vós a que raio de propósito vem esta lenga-lenga, mas as ideias, como as cerejas e as palavras num discurso colam-se umas às outras. Às vezes saem em catadupa, amontoam-se à saída e é difícil contê-las originando profusão de informação, o que conduz à perda de nexo e, logo, à liquidação do objectivo. Há, pois que conter a verborreia!
Para esse efeito temos por aí quanto baste, desde Sócrates, Socretinos e afins, até outra mão cheia de pregadores sem púlpito, mas que nos entram em casa se lhes franquearmos a porta. Basta um click!.
É princípio de decência em todos os domínios da acção humana que não se pode ser mais papista que o papa. Não se pode ser alagoado, lampeiro. O velho Comandante - há quanto tempo não trazia aqui o meu velho avô, mestre inexcedível em matéria de saber empírico - tinha uma expressão impagável: "quem não sabe tocar corneta que não se meta."
Olhando em redor o que vemos é uma plêiade de incompetentes a mexer onde não sabem e, claro, a ditarem ordens quando o que deviam fazer era "estar quêdos!".
Constatamos que aquilo que mexe connosco está nas horas da amargura e os tais iluminados que nada têm a ver com os gregos de que acima vos trouxe memória, insistem que é a única alternativa. Porquê? porque são alagostos. Não sabem tocar corneta e arranham em tudo: ele já foi ministro da cultura, da educação, dos assuntos parlamentares, ajunto do primeiro ministro, porta voz do governo, ministro da defesa, bolas! que mais?. Isto não é um homem, é uma invenção! Como dizia um velho amigo transmontano ::SACODE!
Nada de estranhar neste rectângulo, porque quem nos representa raramente tem dúvidas e nunca se engana. Assim vamos indo, cantando e rindo, levados, levados sim,...
Ninguém entre os xendros de então se comparava a Velho Jonja, cachopo canho, ligeirinho no andar campeão na fisga, imbatível no jogo do pinoco, defesa esquerdo na bola, artista maior na arte de engudiar e armar costil, poço sem fundo em matéria de conhecimento da valdevinagem de então. Lia a Flama, o Zíngaro, a Crónica Feminina, Caprichos, Zaida, Século Ilustrado (...)e era impenitente devorador de tudo quanto fosse programa de futilidade. Sabia tudo de todos com uma profusão de pormenores que, quem quisesse saber personagem de novela, artista de nomeada, filiação ou paternidade de vedeta televisiva, horas e locais de espectáculos, honorários e prémios, concursos , filmes de cowboys, que sei eu, todos os intérpretes da música francesa de então com os títulos das canções e até algum traiteio, quando o título não fosse bastante, ... Sempre bem penteadinho, aprumado no porte, sapato de atacador sempre bem apertado, casaquinho ou colete justos, e o seu constante: « Tão!, tão!, viste ontem o filme do flecha quebrada?, tão!,tão! viste o Laredo!, tão!tão, viste o bonanza,...tão!, tão!.?
Até parece que ainda agora o oiço a imitar a música do Bonanza! era ele e o Chquim Jolim da pata branca. .. Outros tempos!
Quando eu estava para elas, aos Domingos à tarde, no adro, a assistir a três dôques e chquim cachiço a jogar à cavaca, metia-lhe veneno:" Oh Jonja, um dos cinco violinos era o Matateu, não era?" « Você é uma besta! Matateu era do Belenenses e os cinco violinos eram do Sporting!» Vasques, Travassos, Peyroteo,...» "Pronto,! " Mas o Joe Pequeno era dos Robin dos Bosques! « Não no era, era o irmão mai novo dos Bonanza com o Adam e o Hoss!" Era uma tarde de cultura era o que era!
Duma vez decidi-me mesmo a provocá-lo a sério:" Olha lá, ó Jonja; Quando é que uma rolha de cortiça flutua no vinho?" O Jonja ficou apanhado porque isso não vinha na crónica nem na flama, nem... E o Jonja:« e que me importa a mim isso? Sabes quantas cantigas vão ao festival, sabes? Calma, aprende lá esta : a rolha de cortiça flutua no vinho quando lá a pões!" Isto é para não seres tão alagosto!"
Abalou com umas trombas que nem um barraco!
XI GGGRRAAANNNNNDDDDDDDDDDDDEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE!
7 comentários:
Vai lá vai! Mais uma bela história! Já as compilaste em livro? Estás à espera de quê?
Temos um Sócrates que também necessita de um milagre grego .... se bem que na grécia não houve milagre algum ...isto é tudo muito confuso !!!
Será que a sorte está nos trevos de 4 folhas verdes da Irlanda ?
A Sorte?... Acho que o Jonja deve saber...
Assim espero!
Karraio de texto! Muita areia para esta já velha camioneta...
Mas vamos lá, a sério: excelente mesmo! Pela via erudita e pela via popular.
Bem hajam!!!
Se assim me é permitido, amigo António Serrano! Deixe-me então que lhe diga. Quanto mai velha é a camioneta, mai areia leva e quanto mai for a areia, mai será certamente a quantidade de pepitas de ouro que dessa areia, em nobre metal, essa dita velha camioneta de porte se poderá gabar de ter tranformado. Seja a via erudita, seja a via popular, enquanto muita areia ouver, e pessoas como voce não faltar, seja em ferro seja no vil metal, tranporte a areia que puder, que não será demais para este nosso portal.
Enviar um comentário