Ñão, não me refiro à cidade da vizinha Espanha, hoje muito frequentada por estudantes portugueses. E não só. A salamanca é a nossa salamandra, esse anfíbio lento até porque não precisa de ser rápido já que as suas manchas amarelas são sinalética para o resto da bicharada. A sua ossatura possui um dos mais poderosos venenos. O seu predador somos nós.
Já por mais de uma vez vos falei aqui da lei do menor esforço.... Já reparastes no esforço que a palavra salamandra exige? Quanto mais fácil não é salamanca, mais a mais para um raiano! Vai lá vai!
Experiência fiz eu um dia: uma salamanca, na sua pachorrentice caminhava lentamente pela caruma húmida do lagar da lameira. Tinha ouvido dizer que, mesmo que a metêssemos no lume, ela lançava um líquido que apagava as brasas à sua passagem e assim ela se safava. Garoto é garoto, a curiosidade desperta o engenho e aí vou eu: arranjei uma chapa de lata, com um galho empurrei a salamanca para cima dele e entro no lagar. O Tonho Mota viu e vociferou que não queria ali o bicho, que podia passar por cima da roupa e depois apanhavam um cobrão que se unisse a cabeça ao rabo era a morte do artista. "Tenha calma ti Tonho já a torno a pôr na rua." Sento-me no tropesso e empurro a salamanca para o borralho da caldeira, mas não sei que volta se me dá na consciência que depressa a tirei, mas o facto é que a mirei e não vi queimadura. Fiquei sem saber bem a verdade da teoria, mas não estou arrependido. O bicho tinha tanto direito à vida como eu.
Voltei a trazê-la para a caruma quando o João Feijão vinha a entrar com o João Tramoço e o Tapa Poleiros, entretanto já falecido.
Os lagareiros tinham acabado de escaldar a massa , as ceiras já estavam bem apertadas pela vara e pedra do fuso, pelo que também vieram até junto do borralho e conta o Tramoço:"aqui o Feijão perdeu o cão e a raposa foi logo lá à capoeira e mamou-lhe uma galinha. Vá lá que ele ouviu e se alevantou logo, cossenão via-as ir"; e o Feijão: «Foi, poi, foi mesmo assim... aqui o Tapa disse-me que o ti Zé Lopes tinha lá um cachorro pra dar e eu ficava-lhe com ele.»
Zé Lopes "levas o cachorro mas tens que trazer cinco litros, duas latas de atum e um pão de mistura." . O negócio fechou-se ali mesmo.
Já se iam quando eu me saio: «Oh Feijão, sabes o que fazes para no tornares a perder os cães? Hoje à noite vens aqui às guardas da ponte e apanhas uma mão cheia de arancuns pra dentro duma caixa de palitos e quando chegares à sorte da saramaga, vais ao pé da vossa burra e caças umas quantas pulgas e mete-as também na caixa dos palitos, mas no deixes fugir os arancuns. Aventa lá pra dentro uma pele dum chouriço para eles comerem e ao fim duma semana deitas tudo pra cima do cachorro." O Tapa rosnou: "vai mas é a gozar com quem te fez as orelhas" Aí entra o Tonho Mota: "é verdade poi então; o Chquim da Senhora lá na Mata da Rainha sabe sempre onde anda o Barbaças por causa disso". Tonho Lopes, irmão de Zé e cunhado de Chquim da Senhora: « o mê cunhado já me falou nisso uma vez, já. Diz que o cahorro alumia e que parece daquelas bichas de rabio que se botam na roda do São João. Nem os lobos lá aparecem que o cachorro deixa-os malucos»
Perante tal argumentação e para completar a missa Zé Lopes:"Vai à minha que te dê o cachorro e o vinho logo o trazes quando voltares ao povo". Ficaram os três meio tarantas e eu piquei:« é assim mesmo: as pulgas andam sempre aos saltos, mas como foram infectadas pelos arancuns alumiam e assim o cão é uma espécie de candeeiro a andar. Vais a ver que a raposa nunca mai lá torna. É limpinho! e tu, mesmo de noite, sabes sempre onde pára o cachorro, porque ele alumia."
Lá foram.
Ficamos os quatro a rir e o Mota:" tu és tchapado: há bocado querias que a salamanca deitasse água para apagar o borralho e agora espetas esta ao Feijão... És tchapado."
A verdade é que o Feijão lá andou a apanhar os arancuns nas guardas da ponte...
Guardai-vos vós de quem vos infecta. Vai lá vai!
As eleições vêm aí... cuidado com as enxertias.
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14 comentários:
Tá lido!!! Com a satisfação habitual. Obrigado!
Nunca ouvi falar do arancun. O que é um arancum?
Os arancuns, são amodes que uma erva carnivora, de dia mudam de cor conforme a posição do sol e á noite, libertam a luz que apanharam de dia, atraindo os mosquitos e outros bichos que depois papam!
é um ser valhaco o arancun...
O pratitamem está engado, pois um arancu é um pirilampo e este é "um inseto coleóptero das famílias Elateridae, Fengodidae ou Lampyridae, notório por suas emissões luminosas. Alimenta-se principalmente de lesmas e caracóis." cfr.Wikipédia, Enciclopédia Livre
Salamanca, salamanca... uns sara, outros desanca.
(dito)
Eu também pensava que era um pirilampo, só quando me comecei a coçar todo é que vi!... Não tenhas Coitela não!!!
Pergunta ao amigo changoto!
A conversa aqui vai animada
.. e já dizia o outro , arancun que vai à frente alumia duas vezes e mais vale um na mão que dois a voar.
Se nenhum me falhou, acabei de ler todos os 133 trechos publicados no Baságueda. Há muita que estava "desavezado" de tanto ler.
Trechos fabulosos.
Parabéns Karraio e Changoto.
Uma ajuda:
Será quem eu penso, António Serrano?
Meu professor em Penamacor, na 4ª classe, no ano lectivo de 70 /71?
Vou dar uma voltinha pelo seu blog e ver se alguma coisa apanho.
Já, já, porque estou a trabalhar, vou jantar um estupendo caril de frango.
Mas então o arancum é um pirilampo ou uma erva carnívora?
Esta da erva carnívora é novidade para mim, não fazia ideia que havia ervas carnívoras em Portugal. As coisas que uma pessoa aprende neste blog!
Erva carnivora poi! ia-me chapando, com os cadamonhos dos arancuns, o que me valeu, foi estar ali por perto o tonho patanisca, que me desinfetou logo as mordidelas nos dedos com aquele liquido á base de xixi de andorinha, com que nos molha o cabelo antes de nos fazer o corte tigela! bendito Patanisca, se não fosse ele, hoje calhando, estava a escrever isto, só cos cotos, Deus me perdoi...
Andas com umas piadas muita giras ó pratitamem
Zé Morgas,
Sou eu!!!
Já passei "por lá"...
Abração.
arancum, ainda tens sentido de humor! ainda ris, fico contente por saber.. Se o arancum, tivesse respondido, no final daquele passeio na Expo em 2001, lá pelo "telegrafo" se o arancum, tivesse acreditado, se o mundo fosse isento de riscos controlados, talvez hoje existissem vários arancuns...
Só se vive uma vez e pouco...
Só desejo vida e se possível um sorriso em reencontro, espero muitos...
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