Todos os dias ouvimos que fábricas faliram, mais uns quantos desempregados e os comandantes a dizer que criaram 60.000 postos de trabalho! organizações internacionais deixam claro que é em Portugal que o fosso entre os ricos e os pobres é cada vez maior e os chefes dizem conceder um subsídio de fralda aos casais com mais de três filhos mediante o preenchimento de um sem número de papéis ... representa um grande esforço económico mas é assim que se reduz o fosso! dizem que querem fixar as pessoas no interior, cada vez mais desertificado, quer em gente, quer em florestas e cultivos e que vemos? fecham escolas, centros de saúde, reduzem-se os meios de comunicação...; os bancos apresentam lucros chorudos e os juros nunca descem nem tão pouco se mantêm; as petrolíferas mal se fala no aumento do crude já estão a aumentar o preço do combustível e as mais valias são as sabidas; as empresas de Telecomunicações comem-se umas às outras em publicidade caríssima mas não reduzem o preço das nossas chamadinhas; as finanças autorizam a justiça a adquirir nem sei quantas viaturas topo de gama; as Estradas de Portugal em rota de falência são premiadas com um contrato de 75 anos para composturas de vias.... Fazem-me lembrar um texto de Guerra Junqueiro a propósito do Marquês de Pombal que aqui vou citar de cor, admitindo alguma impropriedade que o Guerra me desculpará: «O próprio Pombal é o desejado? Não. Dum deserto quis fazer um jardim... Como? Plantando traves: regou-as com sangue e adubou-as com mortos»;
Num país em que quase só vemos agricultores de alcatrão em grandes jeeps pagos com a subsídiocultura que é uma vergonha descarada: compensa-se a extensão que é dos que já têm muito e despreza-se a produção e bom tratamento dos terrenos para além de dificultarem o acesso deslocando os serviços para locais distantes dos centros urbanos...; vemos os técnicos nos gabinetes e o mais a esmorecer... enfim...isto anda às avessas ou sou eu que vejo mal a realidade.
Quando era pequeno fui mandado a guardar um único borrego:"vais para o chão do caminho das águas e guardas o borrego no avesseiro a ver se ainda rapa algum verde". E pronto, lá fui e deixei corda larga ao animal na baixa contra o sol (portanto avesseiro), à sombra, onde algumas poucas ervas ainda tentavam a viçosidade, resistindo aos calores que começavam a apertar. O borrego era um merino, cabelo (lã) encaracolado, manso como a terra, e ainda algumas vezes me montei nele e ia às corrichas; ia comigo para onde eu fosse e quando o deixava na casa da Leitoa os MÉS ouviam-se longe protestando contra a falta de companhia.
Foi às avessas também que levei uma solha, estampilha, espapada, lamparina ou bolachada, porque logo à primeira vez quando o borrego se deitou a acarrar, ao pé do barroco onde eu estava sentado à sombra da velha azinheira, eu, lembrando-me que coiote pete, varinha de arado, filho do chico mainovo, jolim da pata branca, contramestre, moisés pitincouro, velho jonja, nosso cabo, tonho cagarela e outros se divertiam na Lameira ao pontapé NA MINHA BOLA, eu, disse cá para mim, mas alto para o borrego ouvir:" oh! mê cabrão, atão já no queres comer mais? Já rapaste o avesseiro todo? Eu bem que achei que o animal tinha comido depressa demais mas sempre o puxei outra vez para a baixa e ele nada! E pensei: "se não queres comer vais para o palheiro e é já"!
Agarrei em mim e no borrego pela corda e numa corrida cheguei ao povo, ia a meter o borrego quando o meu pai me brada: "olha a pressa que tens! atão o borrego nem teve tempo de comer comédado e tu já vens de volta?" E eu: «ele deitou-se à sombra...» A lamparina caiu-me nas bitráculas:" atão tu no sabes que estes animais acarram?" Fiquei a olhar como um basbaque... "Poi, estes animais comem e remoem e depois tornam a comer... Toca pró avesseiro outra vez!" Lá se me foi a bola. Às avessas também eu fiquei a saber que o borrego era um pequeno ruminante. Era assim muita da aprendizagem antigamente. Aquilo a que muitos chamam o curso de pontapé no cu. Às avessas também vos digo que este curso se sobrepõe a muitos formais... em muitas circunstâncias.
Ao ritmo a que isto anda estou em crer que qualquer dia estamos como aquela mãe vaidosa que num dia de Juramento de bandeira só tinha olhos para o seu Mnel, ali aprumado no centro da parada... Quando é dada a ordem para marchar: "olher além, mulheres, o mê Mnel, no meio destes todos é o único que leva o passo certo." Mainada.
ANTES DA POSSE
O nosso partido cumpre o que promete.
Só os tolos podem crer que não lutaremos contra a corrupção.
Porque, se há algo certo para nós, é que
a honestidade e a transparência são fundamentais.
para alcançar nossos ideais.
Mostraremos que é grande estupidez crer que
as máfias continuarão no governo, como sempre.
Asseguramos sem dúvida que
a justiça social será o alvo de nossa acção.
Apesar disso, há idiotas que imaginam que
se possa governar com as manchas da velha política.
Quando assumirmos o poder, faremos tudo para que
se termine com os marajás e as negociatas.
Não permitiremos de nenhum modo que
nossas crianças morram de fome.
Cumpriremos nossos propósitos mesmo que
os recursos económicos do país se esgotem.
Exerceremos o poder até que
compreendam que
somos a nova política.
DEPOIS DA POSSE
Basta ler o mesmo texto acima, DE BAIXO PARA CIMA
3 comentários:
Mais um belo texto caro amigo, este ultimo está o máximo, acredito que seja mesmo assim. É pena mas são todos iguais.
Passo pela primeira vez por esta página, mas a qualidade é sempre imensa. Boa semana.
Sempre ouvi dizer que as ovelhas são bichos complicados, tu que o digas! Está um belíssimo texto, já estou à espera do próximo!!!
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