domingo, fevereiro 11, 2007

FALA DO HOMEM NASCIDO



Venho da terra assombrada
do ventre de minha mãe
não pretendo roubar nada
nem fazer mal a ninguém

Só quero o que me é devido
por me trazerem aqui
que eu nem sequer fui ouvido
no acto de que nasci

Trago boca pra comer
e olhos pra desejar
tenho pressa de viver
que a vida é água a correr

Venho do fundo do tempo
não tenho tempo a perder
minha barca aparelhada
solta o pano rumo ao norte
meu desejo é passaporte
para a fronteira fechada

Não há ventos que não prestem
nem marés que não convenham
nem forças que me molestem
correntes que me detenham

Quero eu e a natureza
que a natureza sou eu
e as forças da natureza
nunca ninguém as venceu

Com licença com licença
que a barca se fez ao mar
não há poder que me vença
mesmo morto hei-de passar
com licença com licença
com rumo à estrela polar

António Gedeão

2 comentários:

Anónimo disse...

"Só quero o que me é devido, por me trazerem aqui..." Menos que isto não é aceitável.
Este é um poema lindíssimo. Obrigado, Karraio.

karraio disse...

Adriano Correia de Oliveira. Tenho o som no meu PC, mas não sei metê-la no blogue. Sabes? A tua filha mais velha saberá?
Se houver maneira, agradeço a informação.