Palavra de honra que, às vezes, tenho uma certa nostalgia das velhas lojas = mercearias, drogarias, tecidos, conservas, e o mais...- e na Aldeia havia umas quantas.
Quantos sabem que a farmácia começou na cave da casa do Sr. domingos campos, presidente da junta, ao tempo, e que depois passou para a loja do professor Marcelo, a dar vistas para a Igreja, até que se aposentou na velha casa do tecelão, à Lameira, mesmo ao lado do chafariz que, ainda não há tanto tempo assim abastecia a Aldeia de água juntamente com a fonte do Ribeiro Cimeiro? Só agora ela está no cruzamento da estrada nova a dar para as Águas. Quem se lembrava das andanças deste benefício público que o velho Padre Zé Pedro trouxe com a anuência do dr Ildefonso que tinha como ajudante o enorme Zé Barrigana, emigrante que é na Alemanha, e depois o Cândido Pantelhão e a Fatinha Portas que um combóio trucidou. Tudo há tão pouco tempo e parece que todos esquecemos! O tempo é uma porra: se somos nós a contá-lo tudo bem, mas se já são os outros a contá-lo por nós, é uma porra das grandes. Mudemos de conversa!
Lojas, mesmo lojas, na Aldeia havia várias. Enumeremo-las:
nenhuma no caminho da Vila, nenhuma no Beco da Ribeira, nenhuma na Lagariça, nenhuma no Cavacal, nenhuma no Oiteiro, nenhuma no Caminho da Serra, nenhuma no Caminho das Aranhas, nenhuma no ribeiro cimeiro, nenhuma na Eira cimeira... ora, como se vê há já um total de- NENHUMA - o que é uma enormidade .
Comecemos então a contar de cima para baixo: a loja do Sr. João Robalo Elvas (Sobrinho), com entrada pela estrada e por detrás pelo beco do Fatela, uma casa de intervalo e tínhamos a casa dos pais destes que aqui vos dão notícia desta topografia aldeã, em frente, em tempos esteve a tasca do ti Agostinho Ratado mais o seu batorel, depois, a fechar o largo da paragem das camionetas estava a loja do Sr. António Robalo Elvas, irmão do sr. João que para além da chita da tabela, do bacalhau e do sal, vendia também o petróleo de iluminação e dos motores de rega; era, ainda, correspondente de todos os jornais regionais: Beira-Baixa, Reconquista, Jornal do Fundão, Notícias da Covilhã, e dos nacionais: Diário de Notícias, O Século e Diário Popular: colada estava a casa do ti Chico Miguel com a respectiva tasca e, à ponta, talho, em frente do qual se situava a tasca do arqui- rival Tonho Fatela, o qual colava com a Conceição do Trem, casada em segundas núpcias com o Chquim Argentino e que rivalizava com os manos Robalo atrás citados. Por detrás, na rua que dava para o barbeiro Zé Malagueta e casa da velha Manta-Rota estava a casa da farinha do Trem (também assim conhecido) e a casa do sal e rações do velho Fatela que era da Mona e agora é do Chinchas, já foi café e mini Mercado, mesmo ao lado do mais que tudo - o CAFÉ DA ROSA , o ex libris; em frente a tasca e talho do ti Zé Rolo e na esquina do Desembargador a taberna do Zé Júlio onde muitos trocavam as fanegas. No enfiamento do adro, mesmo ao lado da Igreja, do outro lado onde antigamente fora a Farmácia o ti Joaquim Faustino, que vendia tudo o que dissesse respeito a drogaria e ferragens, cimentos, caibros, ripas e o mais que respeitasse a obras, não fosse, ele mesmo, artista dessa arte. Passada a ponte sobrava a tasca do Cavalheiro com a respectiva garagem para os bailaricos de Domingo ao som do acordeão do Zé Manel, e, nos dias de mercado, a adega do ti Zé Rolo, coladinha mesmo ao Domingos Portas por onde, de fugida também passou a Farmácia. Efémera foi a loja do Cartola no mesmo largo já a dar entrada para a lagariça, onde havia umas mesas de matraquilhos.
A primeira conta fi-la eu, agora, somai vós esta!
E agora perguntais vós: onde é que está aqui a palavra ARDULHA/ARDULHAR?
RESPOSTA: em todas estas casas se ARDULHAVA.
Esta malta de agora que desenvolveu e deu, de novo, valor ao polegar com a destreza que mais escondem que mostram, tal a velocidade a que movem o tal dedo que mais parece uma mosca em voo não geométrico em torno de uma lâmpada acesa, esta malta, dizia eu, pensa que sempre houve televisão e rádio e até telemóveis. Tudo isto não chega a ter - a começar pelos mais antigos (talvez a telefonia ) mais de 70 anos. Uma ninharia na história do tempo.
Às vezes, qual velho ratinho, migrante em tempo de ceifa ou vindima, dou por mim a dizer: " a esta malta, que mais não fosse, fazia-lhes falta um dia de monda, um dia de ceifa, um dia de malha, um dia de arrebanho, um dia de sementeira, uma noite de descamisa ,...bom, nada, vá!" Efectivamente os tempos são outros. Por muitos lados, ainda bem!
Facto é, todavia que, não há mesmo muito tempo - novo sou eu ainda - o sal, o acúcar, o arroz, o milho, o grão, o feijão e muito mais não vinham embaladinhos em pacotes como agora, não. O merceeiro ou outro qualquer comerciante, tinha que estar bem munido de umas quantas espécies e uns quantos tamanhos de cartuchos, onde, por meio de um corrimão, normalmente de lata zincada, introduzia o peso ou medida, requeridos pelos fregueses. Ainda escolhi muito baguinho de arroz. O acúcar era do amarelo, o branco, tal como o pão trigo à cabeceira, só em alturas de nascimento de cria ou morte de velhote.
Todas as lojas de comércio tinham uma daquela balanças de dois pratos, mais ou menos rudimentares, que eram aferidas todos os anos pelo aferidor camarário que, nela e nos pesos, apunha uma punção que garantia a fidedignidade do aparelho. Quando o material requerido não justificava cartucho então utilizavam-se diferentes papéis, consoante o artigo a ardulhar: assim, por exemplo, para o bacalhau, que não cabia em cartucho havia o papel pardo ou, até mesmo um castanho ensebado que restasse das entregas do toucinho amarelo salgado - um petisco -; para a anilina qualquer resto de jornal fazia as vezes; já na farmácia, cem gramas de bicarbonato (que sempe se chamou bicabornato ou memo, mais simples ainda, BIQUEBORNATO) o papel utilizado era sempre de categoria superior e os empregados, já acima supraditos, eram exímios na feitura do ardulhanço; para pregos, chumbo de flóber, pimentão para enchido, pregos de cravar, semilha, brocha espanhola, e outras variedades, qualquer notícia de jornal servia; um saco de plástico era religiosamente guardado, reciclado, reutilizado até às últimas ...
Eu era um artista a fazer ardulhos de anilina e todos os tamanhos de prego desde o 20/5 de cravar à forma até ao 16/7, passando pelo 18/6 de palmilhar e 15/7 de pregar tacões. Ah! tempo! como dizia o comandante! Eram ardulhos geométricos, simétricos, perfeitos e quase invioláveis. Às vezes, ainda me entretenho a fazer ardulhos desses!
O velho comandante também ardulhava, mas assim comédado!
Duma vez - fazia ele contrabando de Aldeia para Espanha com três vacas e foi descoberto pela Guarda Fiscal. Na fuga, caíu-lhe o chapéu da cabeça. Os guardas encontraram o chapéu e, sabendo o costume de as pessoas do campo só virem ao povo nos dias de Domingo, lá apareceu uma patrulha da Guarda Fiscal a dizer-lhe: " Ò ti João, quando quiser pode ir a buscar o seu chapéu ao posto" E o velho: "O meu chapéu está aqui na cabeça!" e depois para mim: " Os gazios queriam que eu lá fosse e assim ficavam cientes de que tinha sido eu que levava as vacas. Não queriam eles mainada!" O velho ardulhou-os. Outra forma de ardulho foi aquela em que Domingos Moiral, ou Domingos Molhano, ou Domingos Patanisca acompanhava, na caça, Manquinho, Mné Faustino, Mné Vinagre, Coiote Pete, Chquim Pardalim e Tero Caturra. Fala Patanisca:
-" O mnél faustino, pá,! viu a lebre ardulhada ao toro da videira de uva formosa do Pirolas ali à Lameira da pinta, pá ! ; em vez de lhe espetar um foguete na mona, enxota-a com a coronha da espingarda e berra Hei!Hei! que era para a lebre endireitar e atira-lhe dois fogachos mas errou, vai o Manquinho e pimba, pimba, errou, o mnel Vinagre PUM!PUM" errou tamém, e passa pelas endireituras do Tero, pá! e foi logo à primeira: Pum! ardulhou-a logo. O Tero pá! tem uma apontaria à lebre dum filha da puta, homem! Essa lebre papamosa (papámo-la) naquilo da Rosa."
Também eu vos ardulho num XIIIIIII GRANDE!
8 comentários:
Onde se lê Rancheira , deve ler-se Rãntcheira
Não tu ainda não és Muito Velho, Changoto. Ès na verdade um poço de sabedoria. Mas na verdade, também já és Cota. Verdade.
Faz hoje uma semana, estava em Lisboa, com um grupo, sempre gostei da palavra grupo, dizia atão um grupo, melhor dizendo a minha Aldeia que vive em Lisboa, o nosso grupo de lá, quaze todo. Alguem falou, " o Lapaxeiro disse pra voltares que estavas perdoado". Eu respondi á é. Claro com aquele sorriso que a pessoa conhece á muitos anos, tipo também lá vais ver, queres musica, apareceu, alguem e mudamos de assunto. Na verdade eu sei que a ti não te serve, a carapuça, camarada, mas o que é certo é que alguns amigos ainda não conseguiram degerir a diferença, entre o que se escreve aqui neste sitio Especial, e o mundo Real, tipo este é mesmo um Mundo pelos vistos cada vez mais especial, na realidade, pra não ser criticado por voltar a dizer verdade, o Mundo é o mesmo, mas os momentos os tempos são na verdade extemporâneos. Resumindo, Falemos sim sobre os nossos pseudónimos, mas em exclusivo Kassenão. Não tem piada. Não é? Eles não sabem nem sonham... Um OK muita grande pra ti, amigo Lapaxeiro.
Todos temos "nóias", eu agora tenho uma travadinha, a que chamo, "Sindrome de Paco Bandeira", è só daqui a um ano. Mesmo por isso queria ver se arrumava a casa pra poder cantar. E digo-vos a casota ao contário do que podeis pensar, tem tanto pra arrumar. Tenho é dúvidas, terei ou não sido embruxado? Desconfio, que andam a tentar. A ver, Vou ser cota, porra. Detesto casas arrumadas, detesto coisas arrumadas. Cheirão a mofo, cheirão, quaze tão mal como o bloq de esquerda.
Adeus tristesa, até depois.
O meu último com. marca 6:18, na verdade, foi um dia depois, è a única coisa que eu detesto neste Blog, o tempo é ás vezes relativo, ás vezes. Sendo esse rapaz ou rapariga, assim tão dificil, de "controlar", parece-me que o tempo não merece tanta converça. OU será que estou a ver o Espaço 1999, ao vivo, pensando que tudo isto,é um filme mal contado. A liberdade ou nos corre nas veias ou não. Não Há remédio, que eu saiba. Ou corre nas veias ou não. Remédios, ummmm.
Quando era rapaz da primária, mesmo, no ciclo, no inicio, era um puto reservado, até no final do Liceu? Liceu? eu nunca andei nisso. Liceu? Bem, não "intereesa", ( Pensei que podia dar piada! Só isso.), ~mas atão, qual é que éra a conversa. Este fenomeno, Já não dou mais acentos, Èpa porra, alguem ´te deve alguma COISA? Não. Digo que não. Atão Pá?
Tenho que dizer. Dizer, é palavra valhaca, amigo. Tá certo sou Kota. Mas afinal o que é queres saber? uymm. Não te posso dizer, na verdade, deixa lá as lágrimas, sabes, a vida não é bem assim, a vida é só uma coisa que nos acontece, sabes, porque, é assim, a vida és tu a falar comigo, eu a falar contigo, tás a ver, a vida é isto a gente estar a conversar, estás a ver (SIM) é isso, Percebeste- Sim. Vá atão, como é que ela se chama?
Somos tão contentes na constancia, nessa tristeza, que marinamos em marsia, dia após dia, que nos esquece-mos sempre que somos qualquer coisa que não existia. Ou seja, fomos um que chegou ao fim da missão o Ovulo e penetrou, ou alguem, que não morreu com o autoclismo, consumido pela ureia de algum analista. Serve isto pra dizer, que este pratitamem que á umas semanas, falou antes de mim, no post anterior, foi um dos que levou com a ureia, acho juro que sou o único neste momento. Esso não é bom nem mau, acho que são uma estação de serviço de uma gasolineira qualquer, julgo que multinacional e com cotação na bolsa.
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