sexta-feira, julho 07, 2006

A NOSSA FALA - LXI - ESCARAPUÇAR

Lembro-me de uma vez, quando se estudava a formação das palavras, que, em causa, estavam as divergentes nau e nave, provenientes do étimo latino NAVEM. A explicação dada, então, pelo meu companheiro de turma, foi, que NAU entrou na Língua Portuguesa por via marítima e NAVE teria entrado por via espacial. Era também estralibeta este velho companheiro.
Numa aldeia bem perto da nossa quando os pirolitos com os berlindes foram substituídos pelas caricas e, porque tal nunca tinham visto, imperioso se tornava arranjar um nome para aquela nova forma de tampa ou rolha, o povo não se ensaiou muito: como as caricas são parecidas com as formas dos bolos de coco, sejam em lata ou em papel, nada mais simples que chamar-lhes FORMINHAS. Ainda hoje por lá se chamam assim. Ainda outra: uma mulher, por acaso casada com um natural desta aldeia, tinha como apelido CARRECHANA. Dava-se o caso de a mulher ser de tez muito escura. Ora como as trovoadas também escurecem o céu, quando ameaçam a descarga, a ligação foi instantânea: vem aí uma carrechana!
O que aqui nos traz hoje é também uma palavra que derivou de carapuça, não por via gramatical, mas por via imagética, direi eu agora. De facto a palavra carapuça é, por demais, conhecida e até sentida, já que continuamente nos estão a enfiar uma. A uns assenta bem, a outros nem tanto!
ESCARAPUÇAR dizia-se essencialmente da situação em que a baraça com que se enrolava um pião, fosse porque não fora bem apertada ou apertada de mais, fosse porque o nó que se punha junto ao ferrão e que permitia enrolar de baixo para cima o dito cordel, fosse ainda porque o desgaste da baraça era já de tal monta que mal se podia puxar, fosse por que razão fosse, o certo era que o pião não dançava e tínhamos que o pôr na roda do meio à espera que um amigo no-lo tirasse.
Poucos tiveram tantos piões novos como eu : o sr. João Vicente, mecânico que era na garagem Petronilho em Penamacor, vinha todos os dias apanhar a camioneta ali ao pé de casa. Invariavelmente nós jogávamos o pião e ele pedia-mo sempre a mim.
A força daquele homem era bruta: chegou a levantar do chão uma carrinha HANOMAG para que o seu parceiro pudesse por uma preguiça a fim de tirarem o pneu, pois, o macaco tinha-se avariado. Quando ele lançava o pião, se caísse em cima de qualquer outro que estivesse no sal (castigo por causa de não ter saído da roda) era certo e sabido que o escarchava. Às vezes o pião batia numa pedra ou em alcatrão mais rijo, e, de um, ficavam dois. Logo a mão ia ao porta- moedas, saíam cinco mil réis e "vai comprar um novo."
Havia piões esgravunas que mais pareciam galinhas a esgaravatar e outros que até se ouviam zunir, bem calibrados que quando a velocidade reduzia se deitavam sobre o seu próprio eixo e, ... aí vinham eles para fora da roda! Estes eram os mais valiosos.
O ESCARAPUÇAR vem do facto de ao vestirmos o pião com o cordel e, embora fosse vestido de baixo para cima - ao contrário da carapuça que se enfia de cima para baixo- às vezes o cordel se desmaranhar, (desemaranhar) , o pião, assim vestido, parecia uma boneca de carapuça. Já percebestes agora por que razão a via de entrada na língua portuguesa foi a via imagética? Como é parecido passa a ser igual. MAINADA! É apenas uma questão de imaginação.
Quantas vezes eu ouvi a mesma história ao João Vicente quando escarchava os piões !- a ele não se lhe escarapuçava a baraça. Tinha uma só dele que fazia a inveja da malta.
Dizia ele:" sabeis porque é que eu tenho esta força toda? Porque como muito bacalhau e o bacalhau é o peixe mais valente que há no mar.» «Como é que sabe isso? », perguntávamos nós, malandrecos, só para tornarmos a ouvir a resposta: "porque depois de pescado, esquartejado seco, salgado e demolhado ainda lhe fazem uma punheta". Todos ríamos e até corávamos.
Também nós ficávamos escarapuçados, assim como que "incouros" perante vocabulário desta monta. O que é facto é que até parece que gostávamos.
Se lermos isto à luz da Psicanálise pode ser que, de algum modo, isto consista num mecanismo de defesa do eu que assim evita o complexo de castração, através de uma transferência para o outro da nossa incapacidade.
Se calhar, sou eu que estou a meter alguma escarapuçadela! No melhor pano cai a nódoa.
Escarapuçado se dizia ainda, quando, garotos imberbes e de experiência curta, nos era pedido para ogarmos um bom molho de colmo e nos era dado um nagalho... Quem não soubesse como pegar na palha, era certo e sabido que o molho se escarapuçava e era alvo de mangação.
Passou-se algumas vezes comigo até que com o tempo dei nela e os velhos já não me atentavam. Outros tempos em que os garotos eram facilmente escarapuçados!
Havia de ser nos dias de hoje!

13 comentários:

Anónimo disse...

È de supor que este Post tenha sido escrito á prior. Pois na verdade li de uma só vez, tál a boa disposição que transmite. Bem agradeço este teu bom humor em dia cinzento. Foi mesmo muito duro. Sou um gajo triste por natureza, mas hoje sei lá. Bem estava á espera de qualquer coisa na Basagueda e não me sairam pelo menos aqui, as coisas ao contr+ario. Se tivesse sido teu colega de escola era gajo pra piada do genero, gosto das sentir primeiro nem que por segundos, e depois acompanhar os amigos no riso da mesma. Essa que contas desse colega fez-me rir sozinho, o meu sentido de humor anda por ai. Bem Hajas, por resolveres, escrever assim hoje. Em vez de um OK, levas um XIIIIGrannde.

Anónimo disse...

As vidas sopram, tipo, eu aguento. já agora tento. Agora que o vento volta a soprar de leste, sinto que me falta a cabeça pra tal carapuça. ESta que é minha doí bué! mesmo muito.

Anónimo disse...

Os leitores deste Blog. Não são assim tão puros, ou assim tão corajosos. São todos quaze do sojá. Terra não é com eles. Ariscar nem com um r que seja. conversa, pra quem arisca, é tão bom ler cá no sussego! Bem isso já passa o limite, Juntam-se as mãos e há aquele fio de EDP, que nos corre o corpo todo.
A moda agora é diz que não. Ouve um assim, e agora, quem é que muda isto! Só quando eu ficar chatiado. Não, não é nada comigo, mas é assim eu é que os oiço., Diz que não.

Anónimo disse...

Eu tenho alguns amigos que eram peritos no lançamento do pião,e que adoravam chatear as miúdas com essa brincadeira. Ainda me lembro de ter tentado apanhá-lo com a palma da mão e o resultado não foi nada bom, pelo menos para o meu lado... os piões modernos já não são feitos de madeira e não precisam de baraça, tudo se vai perdendo !
Tudo menos as vossas histórias !

Anónimo disse...

Eeeu. era esse pião. mas foi sem querer. Um dia vou não querer ser pião e depois já não bailo e vou ser ainda mais triste e depois morro. Um pião só roda não quer fazer mal a ninguem só quer ser feliz, na esperança de um dia poder rodar como ele queria sem roda mas com companhia.

Anónimo disse...

Passei uma semana terrivel, não devemos, ter assento sobre o que nos corre, assim uso, então foi uma semana seguida de Belmir... Pode ser um sintoma de alzaimer? sei lá? só sei que isto não anda bom e eu nada preocupado, como de costume. Depois ainda ouves coisas, de gajos democratas, tipo depois de ouvir um puto feito noutra logica e ouves, muitos dizem pra te apagar os comentários, mas eu sou não sei quê. Força amigo acaba com isso, ou então não me enchas a cabeça. Tipo estou tentado o que achas! faz-me esse favor.

Anónimo disse...

Sem ver, ´wev é isso o cabraão do verão faz doer. Doi como o caracas a koia é grande. E então quem é baila, ninguem. Eu sei que sou bonito, e então não posso ser honesto ao mesmo tempo. Vai-te já, éu sou assim rápaz, tenho uma campa pra defender, um dia vou lá ficar e essa é a coisa, QUE só eu sei, só eu e o vitor. O resto é conversa. Da treta. Só existe uma alma o resto foi entre a minha honestidade e a do meu irmão. Ou seja isso já não existe. Só nós dois é que sabemos, o dia que nos "trairmos" ( sem o outro saber ) um morre. Pois é. Chega. Este mundo está tão podre.

Anónimo disse...

Verdade, verdadinha. Sem querer fazer assunto. É isto que eu sinto, vivemos entre isso, a nossa vontade, de ser, este já ninguem mo tira, este hade ser meu, aquela riu, a bom rir, hade levar com o jõao, certo. Depois eu já gostei de tantos e agora vou atinar, depois ainda há o grande, e depois tudo o resto e a Belmira, nesse conjunto eu agradeço. Quem é que precisa de amigos? Os americanos! E quem é que quer saber da CIA, desde que a formiga, faz aquilo que nem a CIA era capaz. O mundo é o não REDONDO. Claro que não. O mundo não presta. O mundo é apenas a nossa saudade disso. Deste sofrimento que só eu sei e mais ninguem. Mais ninguem. Mais ninguem.

Anónimo disse...

Pensei, nesta dificuldade, há uns dias, numa das minhas viagens entre a Aldeia e o Vilar, entre a terceira e a quarta, nesses 55 minutos, que fazem falta a muito boa gente, assim sendo, somei, 55 x não sei quanto. E descobri que sou um BROCHE.

Anónimo disse...

Só tu Amigo lapaxeiro, nunca mais nos vamos entender em relação aquele desatino de á uns anos. Bem te disse na altura que tudo o que era em ouro devia ser dividido no momento. Tu e essa teoria de que o ouro ia subir. Porque é que não nos fizemos a umas bombas, pelo menos o Petróleo está em alta. Bem já vendi a peça, era só banhada a ouro e no final não sorria, digo não brilhava. mas ficava bem em qualquer lenço. Um OK prati.

Anónimo disse...

Se o mundo fosse redondo, tudo seria, tipo entre o deve e o haver. Na verdade essa linda teoria foi tranmitida neste blog, por quem sabe mais do que eu. Basta ter vivido mais, com a mente sempre disponivel. E isso é o mais importante. Só que eu talvez um dia mude de ideia, mas pra mim hoje o Mundo tem tudo menos de reencontro nem com os nossos pecados nem com nada, é sempre a somar, o bem e o mal. As vasilhas são certamente iguais. ( falo do mundo ) A do mal está quaze cheia, ás vezes o que quer o mal faz pouco, apenas deixa os seres humanos entre um caso hoje e o caus de Amanha. E o ser humano responde no mal, por via de evitar o caus dentro de anos. Depois a velha Europa v~e o filme, esquece quem morre, sorri, tipo nós não estamos nada enervados, COMO È QUE O MUNDO PODE SER REDONDO. Nem as bolas de Berlim são redondas, nem quem as come fica redondo, fica é Gordo.

Anónimo disse...

Parem com a guerra no medio oriente, Não há culpados, há vítimas. Esta guerra é terrivel, faz subir o "gasólio". Morrem milhares em Àfrica, todos os dias, Srs. Jornalistas. Não falo de fome nem doença, falo de Guerra. Esse mal que tudo tem, que a tudo leva. Não vende são pretos que se entendam. Ai meu deus. Levaram com esse ser do sec. 16 e 17, agora levam com os ditadores, que estudaram na europa, e lhes fecham os olhos, sempre. Como é que isto é possivel! A raça de pretos que cá vive é igual a essa raça de brancos. Mas com mais exclusão, ainda, mais do que o bairro da boavista em Lisboa, onde GNR'S era mato. Tipo eu é que sei filho. Mas os outros entre eles sabem que o tretratreta avâo foi escravo, de um gajo que eu não conhaci mas detesto. E agora como é que eu lhes digo para irem estudar a ver se me entendem, mais aquilo que o bacano do presidente do pais onde nasceram, anda a fazer. Estamos a falar de seres humanos, todos lindos. Então é isso, talvez o Bolc. um dia seja, governo, espero não estar cá. Talvez um dia o mundo seja redondo e eu não seja escravo.

Anónimo disse...

Só se vive uma vez. Esse é o destino de quem conhece esse promenor. Tirando as montanhas e o perfume, fica só esse cheiro. A honestidade, é palavra demasiado vaga. O teu mundo só tu sabes, não sejas mau, ao ponto de condicionares o mundo de quem mais gostas. Nem que por segundos te faças homem, esquece a tua paixão, esquece o teu futuro, por uma vez não penses só em ti. Podes demorar anos a sair da Boémia, o circulo aperta a idade não perdoa, está ali o teu resto de vida, Aquilo que á varios anos tens em mente. A tua cara metade a metade que sempre buscaste. Mas já lá iam tantos anos, eu de pior pra cima. Boémia, Boémia.. Já nem ia ás aulas da Autonoma, logo tinha 29 anos E coragem, ( estava com a Koia ) E fiz aquilo, disse aquilo, que já lhe deu dois filhos. Menti sobre os meus sentimentos, com convicção, Mas cada vez que lhe ouço as lagrimas lá na paragem, o meu coração, morre mais um pouco. Azar o meu.