quarta-feira, fevereiro 15, 2006

A NOSSA FALA XLVII - CÓDÃO

- Tá cá um CÓDÃO, oh!

No Inverno, as noites estreladas anunciam manhãs geadas. Os campos apresentam-se cobertos com aquela camada esbranquiçada, entre o gelo e a neve. É a geada, a russa, a barbeira, o CÓDÃO.

- Tá cá um códão, oh! – é uma bonita expressão que soi ouvir-se nestas manhãs de Inverno que se seguem a noites estreladas.

Numa destas noites, aparelhei-me com casaco felpudo, cachecol, gorro e botas da tropa e aproximei-me do céu o mais que pude. Também me muni de uma pequena lanterna, binóculos, e do mapa do céu de Fevereiro do Máximo Ferreira – a minha fonte habitual em matéria de astronomia. Desta vez, ia em busca da cabeleira de Berenice. Conta o Máximo que a detentora de tal tufo de invejável beleza no efeito e na cor, era rainha no Egipto lá atrás no século menos 3, e que os deuses, eles próprios extasiados, deliberaram (por unanimidade?) colocá-la no céu para contemplação geral. Seguindo as instruções, procurei a constelação do Leão e, à esquerda da cauda, lá estava ela.

Berenice. Imaginei-a a passear na longa varanda do seu sumptuoso palácio de Tebas, contemplando a água prateada do Nilo, em noite de Lua Cheia. Estou a ver o seu perfil ondulado, como o cabelo, em contraluz, vestida apenas com uma túnica de linho quase transparente. A cabeleira cai até ao fundo das costas. Que linda cabeleira tem Berenice. Chamei-a baixinho. Ela virou-se, sorriu para mim e apontou para o céu, para a constelação de Leão.

Observei atentamente aquele ténue aglomerado de estrelas, não muito nítido, mas belo, para quem aprecia o cosmos, mesmo os mais pequenos pormenores, porque sabe que os pequenos pormenores, são na verdade gigantescos. Aproveitei para apreciar o esplendor daquele céu estrelado de Fevereiro. Aquele infinito esmagava-me, induzia-me uma forte sensação de nulidade cósmica. Para norte, lá estavam as Ursas, a Cassiopeia, Pégaso. A sul, o espaço sideral era claramente dominado pela imponência de Orion, o guerreiro de cinturão de estrelas, seguido do Cão Maior onde se destaca a nossa mais brilhante estrela nocturna: Sírio. Os cornos do Touro ameaçavam o guerreiro e, por cima, as Plêiades, um aglomerado de estrelas muito interessante, as sete filhas de Atlas e da ninfa Plêione, que Zeus transformou em estrelas. O povo chama-lhe sete-estrelo ou sete irmãs, e eu concentrei-me a contá-las. São mais, muitas mais. Estava na disposição de fazer a contabilidade mas lembrei-me do dito do povo que quem conta as estrelas lhe nascem "berrumas" nas mãos. Ora, "berrumas" nas mãos, não!

7 da manhã. Estremunhado, a bocejar como se fosse abocanhar uma abóbora menina, cheguei-me à janela que dava para a estrada. Céu limpinho, o dia começava já a azular, ainda a desfazer-se das últimas estrelas. Contemplo demoradamente a mancha esbranquiçada que cobre o campo. Ouvi-me o inevitável “tá cá um CÓDÃO!”

Sem me dar conta, deixo-me ficar a contemplar aquele momento de Inverno.

Começo a ouvir o trabalhar mortiço do motor de uma mota em 4ª velocidade que devia vir em 3ª e imediatamente identifico: “olha! lá vem o Mnel Azenagre”. Fiquei atento, muito atento, porque sabia que, a meio da pequena subida mesmo em frente à minha janela, ele havia de meter a 3ª. Fixei-me na sua boca, no momento da mudança da mudança (não, não é redundância nem pleonasmo, é mesmo assim). Em 4ª, ele trazia a boca meia aberta (ou meio fechada, como quiserem, não é o momento, nem o local para dissertar sobre tal problemática), no momento em que apertava a embraiagem com a mão esquerda e, com o pé, esquerdo, pisava para entrar a 3ª, nesse pequeno lapso de tempo, o Azenagre fechava completamente a boca. Depois, enquanto largava lentamente a embraiagem, ele voltava a abri-la ligeiramente, quase timidamente, aumentando gradualmente a abertura (da boca) na mesma medida em que acelerava a 3ª mudança. Faria o mesmo um pouco mais à frente, já em estrada plana, boca fechada na passagem para 4ª e boca a abrir acompanhando o barulho do desenvolvimento da 4ª. Desconheço, e tenho quase a certeza que nunca saberei porque nunca lhe perguntarei, e ainda que o fizesse ele não me responderia, ou melhor seria bem capaz de me responder algo sem qualquer relação com a pergunta e que era: “o senhor, quando abre a boca à medida que acelera, fá-lo mudo, ou imita com a voz o som do desenvolvimento da mudança?” Ou seja, a mímica era muda ou sonora? Ficarei na ignorância no que toca a tal matéria.

A propósito de motas, lembrei-me da história do Mário Ái que toda a sua vida andou em máquinas de 2 rodas, primeiro uma pasteleira marca Súria e depois uma Zundapp X3. Há pouco tempo, comprou uma daquela carripanas de reformado, aquelas que não precisam de carta de condução para serem conduzidas. Na primeira viagem que fez à vila espetou-se logo ali na curva antes da ponte das taliscas porque, tão habituado que estava à mota que, distraído, inclinou-se para a esquerda para fazer a curva, em vez de rodar o volante.

Lá em baixo, na estrada, surge a Alice Gonita que ganha balanço para ir ao povo e, quando passa deixa escapar:

- Bom dia, está cá um CÒDÃO, ó Nazaréi!

24 comentários:

Anónimo disse...

Levemente poético, ligeiramente nostálgico e com uma pontinha de humor. Excelente!

Anónimo disse...

Porque será, que sempre que o Karraio fala sobre as estrelas eu fico com a cabeça a andar á roda?

Será porque ele consegue descrever quase uma Galáxia, antes que eu consiga, voltar a olhar para baixo?

Será por via das piruetas que desenvolvo, antes dessas doutas viagens interestelares que privilegiadamente acompanho no lugar do pendura?

Ou será por tanto abanar a cabeça de estupor?

Porventura, um pouco de cada dúvida. Certamente, a qualidade do céu, revista na qualidade do autodidacta astrónomo. Um OK pra ti. Karraio.

Anónimo disse...

Infelizmente, o facto de estarmos cada vez mais alumiados, em especial nos aglomerados populacionais, impede-nos de apreciar devidamente a beleza do céu nocturno. É preciso escolher um local isolado e na escuridão (se bem que, para mim, nem isso resulta pois não sou capaz de identificar qualquer constelação excepto a Ursa Maior porque parece uma frigideira de rabo). Para quem tiver interesse, sugiro o barroco da Carochinha - cuidado com o códão.

Anónimo disse...

02.40, AM, uma vez tive um "cacio", que marcava, am, pm, e eram só doze sr. Eng. Também é verdade que na altura a teoria do "big ben", não era teoria.

Mas bem o assunto eram, integrações, em resposta á bolsa de valores. Devo dizer ao meu porventura melhor amigo, que lhe fica bem a teoria, Pena só agora ter reparado, na difículdade, deste viver romântico, bem ao jeito, de Alexandre Herculano, mas claro na fase mais mórbida desse romantismo, claramente ultrapassado. Não é nada fácil amigo, como pudeste observar, agora imagina o meu terrível viver "operandis". Aqui isolado, no mundo de onde changoto e Karraio ou mesmo Lapaxeiro, souberam um dia dizer, até qualquer dia. Meses e anos, de "Xendrisse", pura, não convenceram ninguem, começando por mim. Não é destino intermédio de ninguem, a quem a alma pede mais, a quem o sonho é diáriamente, transformado em pesadelo, a quem o querer, surge dia após dia, como rotina do empata. Onde aquilo que julgamos ser a nossa preciosa virtude, todos os dias se dá ao desbarato, tantas vezes ainda, como se de um favor se trata-se. Tens toda a razão do mundo meu amigo, Karraio, Ontem 18.02.06, poderá muito bem, ter sido dia de maioridade. Todo o erro é passível de correcção, tomando sempre novas qualidades. Um OK pra ti.

Anónimo disse...

Um OK prá Poeta, uma escada atrás. Tem jeito quando quer Doutora. Já pensou escrever uma letra para um Fado. Talvez, cantado pela Dulce Pontes? Acho que podia resultar.

Anónimo disse...

Hoje é o primeiro dia neste site, pelo que verifico é preciso algum tempo para lê isto tudo, mas como o tempo, não é problema do tempo, terei que arranjar algum tempo, para lêr isto, pois quem vai tentar ler isto será um dos alunos da " USALBI"
BOA SORTE

Anónimo disse...

´´Ò Lapaxeiro, não há cinco estrelas e meio, cassenão ganhavas. Azar. Julgo que era esse sacana., , Eu cá na terrinha já lhe dei vermelho. O Karraio assistiu. Esperto, dá azo, depois, porra. Meu deus. Já agora, Lambiaste, sem ifen, bem gosto da net, e, gosto, das verdades virtuais. ( anda ai um "tilt" á toa, meu não é.)

Anónimo disse...

Lá está, a Sabado, a visão, o ler, se ele há coisas que me, impedwem, outrasa nem por isso, no caso, este w é do Heldewrt, mais nada. Estou a ouvir RFM, on line, Èpa,. Vou deixar. Hoje, no migalhas, estava o Carlos. (Falta uma Mão), Eu sempre pensei, uma verdade, para Aldeia do Bispo, Sempre pensei, como estúpido, havia um candidato. O Carlos Só não disse que votou em nõs, disse por qûe, votou em nós. Eu Depois é que quase me V(I) Por via dos Cinquenta-. Um DIA:

Anónimo disse...

Lapaxeiro, vislumbrando, CB, Faz, lá isso,´`A ti zé Caldeireiro.
Supondo, algo do genero, em Japonês!

Anónimo disse...

>Não Sou mais feliz, Mas tanto, tempo depois, ouvir pessoas, sobrias, que se ouvem até ao fim, eu até me calo, a falar do Anselmo, doi-me tanto. Pessoas de bem, acentam, no café, e falam, depois, estou lá, 18H00, sem coragem, falam, sem coragem, falam, naturalmente, com a alma, são poucos, mas existem, foram duas horas, no migalhas ontem. Todos estes tem saudades, todos reclamão por ti menos eu. Já tive alguns sorri-zos, maravilhosos. Sobre ti. Tipo o "Genero", Parece, que somos intocáveis, e atão, agora, já é tarde, sáfa-te uau. Podia, ser uma aldeia linda. Mas, não tá facil, dois gajos maravilhosos, do melhor, que há, emagina, a remar os dois juntos, contra a maré.,Era um sonho. S´´o isso. E atão!

Anónimo disse...

Conheci, uma vez um Basaguegueda. Honesto, nessa preversa, verdade, afoito, acautelado, desde, que o mundo, muda, e baila, ao som, de uma viola que devia ser afiNADA, mas continua, tipo, a fabula, do som magico do encanto dos ratos da "flaue"4", Flautim?








È tão dificil, fazer, isto, com tanta mentira.

Anónimo disse...

Cago, no isqueiro, Ventil directo, ao aquecedor, de barras, logo apanhar com cromos, vai lá vai. Podes mudar a ordem a ordem dos com. podes tentar ser parvo as vezes que puderes, aconselho, tentares "aconcegar", a tua Alma, não é fácil! mas é possivel. Repito não é Facil. ès só puto e fica mal. Credibilidade, 0. E eu e toda a gente que se trata por olhos, vive desse valor, fatal, Credibilidade.

Anónimo disse...

Isso é o maior valor, de um Homem, a credibilidade. Essa merda, os Polititicos, todos, compram, tu, sabes, que eu te dei umas cenas, de bolra. Kurytia, mais aquele, A conversa era, Quando abriu os olhos, levou um tiro, não fui eu que disse, só me ri. Depois, a conversa deles continuou, teve, coragem,como ninguem até hoje, fudeeu-se. eu disse, claro. repeti claro que
sim. Depois dei seca sobre 50 votos, falei do voluntariado de Lisboa, e ouvi Prá proxima, e disse não ele não quer! Mas eu tinha tinha transformado, esses, cinquenta, votos, em pessoas, em amigoos, mas eu sei que não é o teu, genero, eu sei, pois, é Doutor. Não somos Politicos, Azar. Podiamos, ser, Solidarios, ou não. O movimento, foi, eu vou votar á Aldeia. No Amselmo. Ontem ouvi, tanto tempo depois, o Anselmo, não se vendeu. Abriu os olhos fudeu-se. Já não sorria assim, com a lingua de fora, a bailar o meu labio, superior, há búe.

Anónimo disse...

Quando menos se espera, ouve-se de quem não se espera, isto. Dito em publico, ás seis da tarde, com convicção, sem volta, Solta-se cá do fundo, uma vontade de ser. Epá, O Anselmo, Faz cá tanta falta, na quinta, eles estão a sorrir, inda agora m,e riu. Porra.

Anónimo disse...

Epá 50, é muita matematica, pra mim, que o diga o assento. Mas o mundo é assim, tira lá a ideia, chega logo a seguir o koia, com um isqueiro do torr~ºao, juro, vai lá vai. Miau.Miau. daqui a dez anos a gente fala.

Anónimo disse...

Nada tenho, pra vos dar, em absoluto, fico, na quela, pera ai, tá lá aquela lá do coiso. Ai poi é isso foi no ano passado. Grave, muito grave. Agora, virtudes, informáticas, talvez, na palestina, a mim deixam-me de rastos. De rastos.

karraio disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
karraio disse...

Pratitamem, caríssimo amigo:
1. Este espaço foi concebido para o lazer (dos escribas e dos leitores), para a cultura (eminentemente local, com referência directa à terra dos xendros, mas não só), para o debate (sobre a cultura eminentemente local)mas, sobretudo porque era 2ª feira, porque m'alembrei, porque... é ler o post primeiro.

Não quer dizer que não se mandem uma farpas à política (o Torrão e o Sócrates e o Bush interessam-nos pouco, admitimos, mas não estão livres de as paparem), à religião (podiamos ter sido nós a publicar a caricatura do profeta de Alá), ao sexo (sim, claro, obviamente, ora essa), ao futebol(para alguns, assunto mais importante que sexo, mas não para nós, que fique claro), etc. etc., somos livres de chutar para o lado para onde estivermos virados.

Utilizamos as alcunhas, nunca os nomes, normalmente trocadas, ou seja, o picha d'aço não fez aquilo, nem o Azenagre disse o que apareceu no post. Não há maldade na utilização das personagens, tão só aproveitamento das alcunhas.

Mesmo assim há sempre ilustres leitores deste desinteressado, modesto e humilde blog que lêem o que lá não está. Já aconteceu. É por isso, caríssimo Pratitamem, que se aconselha algum cuidado na referência a nomes e situações por via das leituras desvirtuadas. Esse tal de Anselmo que tu referes certamente apreciará o cuidado.

Anónimo disse...

Já havia algum tempo que não fazia a visita, mais que obrigatória,ao baságueda . Como sempre , a leitura das "peças" destes dois manos faz-nos viajar no tempo e espaço que ,teimosamente , ainda perduram (felizmente) na memória ,já não tão colectiva ,do verdadeiro povo português ,o genuíno , o esquecido , o enjeitado, mas aqui enaltecido pelo sábio linguajar de alguém que recusa a volatilidade das coisas.
Amigo Karraio (sinónimo da imprecação!?),permite-me assim tratar-te,uma dúvida me assaltou ao ler o teu último texto.Para os meus lados ,também se usa "tá um código!!".Já tinhas ouvido ou é apenas uma variação?
Um abraço.Continuem!

Anónimo disse...

este ano o codão resolveu lix....as minhas belas hortaliças, maneirinhas de tamanho, mas de um verde agradavel à vista e ao gosto, eis que numa manhã fria vou visitar a minha cultura e deparo-me com um manto branco, fiquei sem palavras e sem horta !!! raios partam o codão!!!!

Anónimo disse...

Pois é, já me tem acontecido, Viva a Primavera!

pratitamem disse...

Foi assim que o mundo do meu amigo, representante, meu, da seriedade e da honestidade absoluta, se indignou? Faz apenas parte, da minha estória, a minha... Só eu ainda sou PURO!--- Luís Mendonça.. Peço desculpa, se ofender alguém...

pratitamem disse...

Somos como sempre, resultado dessa fraca imagem humana, nossa presença! Contem com Luís Mendonça e Luís Pombo, vamos revolxcionar....ou até revolucionar... talvez...
Claro, falar a verdade é o principal, antes de 2024, vai ser difícil, mas fiquem atentos!!!...
Por Sorte, Talvez o destino da má sorte de D. Sanches! Não acabe nos próximos 20 anos?...
Somos sempre isso, Filhos de gente com Adubo, ou filhos de gente sem adubo! Os pobres, os sem adubo, sem estudos, sem nada, apenas os sortudos dos anos 80, Eu, não vivia cà, só vim cá inconcluir 0 facto de acabar nesse ano o 12 e ser furriel de cavalaria! Similar ao Furriel e Sargento Luís Pombo!
OS Americanos, certamente andam preocupados, até nós!
Só tenho ideia desse tempo, porque era militar obrigado, como o luis, 2 luises...
o Anselmo foi voluntário, lá no fundo é de direita!

pratitamem disse...

Quando se faz pela vida, por via da falta de cunha, Ou porque, a vida nos empurra, se és neto de caldeireiro, retornas, no meu caso a Aldeia do Bispo, com 19 anos...Para o 12ª ANO!
tUDO tRETa a aLDEIA è isso, eu vivia num bairro da EDP!( Era uma fantasia..Mas ainda dá pra ver lá in loco"... Cheguei ao fim do mundo? Pensei quando Olhei! Fiz o 1o e 11. noutro lugar, tinha tantos amigos lá. Consegui ainda mais aqui em Penamacor...todos de boa cor...Eu polémico, a quase perder os 3 em África....~

FICA ASSIM...