terça-feira, julho 05, 2005

A NOSSA FALA XIII - ENCORRANCHA

ENCURRANCHA OU ENCORRANCHA


Certo, certo é que a memória não encurrancha. Cheguei a esta asserção (para o povo que não sabe o que é encorrancha, não estranhe que haja quem não saiba o que é uma asserção); (eu até propunha ao “dono” do blogue que se criasse um glossário onde o maralhal pudesse ver o que as palavras queriam dizer); ficaria assim explicado o que é um batorel, um tamoeiro, uma cravelha, um cancelão, um brocho, uma brocha, uma cisgola, uma fanega , um moio, um caisenadinha, um dembanão, um chirrichichi, uma infusa, uma semilha, uma paveia, um canelo ou até um picanço bacoreiro, um tropa - gatos, um espadacho dos grandes, um flecho, para não falar de um piorno, piorna ou piorneira, ou duma pieira que até tinha direito a ladainha e tudo quando caía um dente dos de leite à canalha: «Pieirinha pieirão, toma lá este dente podre e dá-me cá outro são» ) (...). estais vós a ver agora porque é que a memória não encorrancha?( ou encurrancha)?
Vamos lá então à história ou estória ou aventura ou a um desencurrancho. ( ou será que é desencorrancho) .Ouvi isto tanta vez ....mas nunca o vi escrito. Olha, vai onomatopaico. Como vos parecer, assim é).
Já algum de vós viu um ninho de papa–figo? Aquilo é uma obra de arte! Um ninho suspenso como se fora uma cesta de verga das de tiras de castanheiro bravo. Um espectáculo, um deslumbramento! Verdadeiramente excepcional. Só vi um, mas vedes que não me esqueci. Lá está: a memória não encurrancha!
Claro que caí do cabrão do sobreiro quando fui tirar o ninho do papa-figo. Caí eu e a pernada e, claro, o ninho. Lembro-me como se fosse hoje!
Tempos dum cabrão eram aqueles em que, garoto a saber a tabuada, acompanhava o velhote a Alcanena, ali mesmo ao pé dos olhos de água onde há uma remanescência que só vista (vêdes a falta que faz o glossário?). Só a visitei muitos anos depois: à remanescência e ao Alviela que, aprendi eu, dava a água a Lisboa... ( Lisboa devia só beber vinho e laranjada, que a água que ali nascia dava mal para um povo de aldeia). Bom, mas adiante que a memória dorme mas não encurrancha.
Aí alombei com alguns quilos dos grandes que o caminho era feito a pé e a distância aumentava a cada passo em vez de minguar. Míngua tinha eu de uma infância infantilmente vivida. Mas era o tempo em que não havia lugar nem tempo para essas mariquices da entrada gradual no mundo do trabalho... Ah! Tempo! Já o velho comandante dizia: ah tempo! Um dia trago-vos só o comandante. Fica prometido.
E doutras coisas que eu me lembro. Se não lembro parece que as revivo quando escrevo. E se o bom actor é aquele que quando se apresenta e para mim representa, me deixa sem saber se está a representar-se – isto é, se está a ser a sua própria pessoa -, ou se está a representar e, assim, o que ele representa não é a sua pessoa mas a pessoa do outro que ele empessoou na sua pessoa e, assim, é um hipócrita no sentido grego do termo, já que parece uma coisa e é outra. Usa diferentes más-caras. Com filho da puta, já vos dei cabo da mona. Sabeis porquê? Porque a memória não encurrancha! Às vezes dorme. Mas não encorrancha.
O actor é para ser levado a sério senão finta-nos. Olhai para os políticos! Se os não levais a sério, eles enrabam-vos a brincar. Mas não sejais vós a pôr a manteiga. Encostai antes as nalgas à parede...As nalga e as patas. Escoiceai-os! Olhai que a memória dorme mas não encorrancha. Este conselho vos dou eu.
A esta hora estais vós a dizer: porra! Este não é o mesmo changoto dos outros textos! Mas é! Vos asseguro eu que sou o mesmo.
Só que a memória não encorrancha e veio aqui a ter muita alembradura.
Já dizia o meu avô comandante do inferno: quem quer bolota, tropa! (uma vez que não temos glossário convém dizer que este TROPA, pertence ao verbo TREPAR e o imperativo da ordem feito indicativo presente no caso seria TREPA). Já agora sempre se assinala que na raia sul a bolota se distingue da lande e da boleta e ainda da azinha ( se é doce e boa para comer crua ou assada), locais onde o dito parafraseado é assim:” quem quer bolet(r)a, trepa! ( leia-se trêpa).
O que vós aprendeis neste blogue!
Mas vamos à história do encu(o)rrancha:
A bandeira de guerra tinha ido ao guerrilhas a mandar fazer uns sapatos finos para o casamento do filho do espeta-figos. A noiva era garriça! Gente do campo. Bravia quanto baste e com uma escola que fazia com que o zé inverno não arrebitasse cachimbo em matéria de decidir o que quer que fosse, salvo em definir onde plantaria os tomates, os pepinos e o feijão, as batatas e as couves, para além de escolher o borrego para a sra do incenso. Fora isso o inverno encolhia. Nem o chapéu escolhia que era ela que lho comprava. Alguns lhes vendi eu. Olarila!
Bom, mas a bandeira de guerra que era prima da garriça velha, foi então encomendar uns sapatos ao guerrilhas, artista da sovela e da ponta de cabo, em linho nº6, da ataca e da tomba em bota cardada. Ó Lurdes diz o guerrilhas, tenho aqui um atanado ensebado que isto faz um sapato macio como um filha da puta, mas não o podes deixar ficar à água, cassenão encorrancha. Isto é que é artigo! Mando-te virar os sapatos em Castelo Branco, na loja do Barbas, ali mesmo ao pé da sé e fazes uma figurona no casamento do espeta figos. Não podes é andar com eles à agua. Se chover no dia do casamento, não os ponhas a secar ao lume. Põe-os na adega, aí obra duns três dias e traz-mos cá que eu dou-lhe uma cera de burnir à mistura com cera de abelha e sebo de cabrito velho. Ficam como novos e não encorrancham.
Dão-te até ao casamento da tua Beatriz, ou eu não seja guerrilhas.
Mas assim não os posso levar ao campo, retorque a bandeira de guerra.
Tu és parva ou quê? Para isso compras umas sandálias de pneu de avião, ponteadas por dentro e em cabedal do rijo. Ficas servida para dez anos. Essas já não encorrancham. Inda vais ao meu enterro com elas.
Então, não é que foi mesmo? E as sandálias não estavam encorranchadas. O mesmo não se podia dizer do guerrilhas...

14 comentários:

Anónimo disse...

Com textos destes é dificil fazer comentários, a não ser para destacar a qualidade literára, a facilidade e a agilidade no uso da palavra. Dá realmente prazer ler textos assim e uma só vez não basta. Que os autores deste blogue não percam o fôlego, para nosso deleite!

Anónimo disse...

Deleite ? devinho ..detinto do branco

Anónimo disse...

consome-me a alma de ver tanta engenho e arte desperdiçada na sombra .

Anónimo disse...

Convem sem barco e com falta de viamina "C", o Post é pra ler as vezes necessárias, depois podes cometer os erros que te "aptecer".

Anónimo disse...

Quem escreve a esta hora, ou sente solidão, mormente a RFM ( sempre mormente?) é a palavra da semana. Bem, posso.
Dizia, ou então disse que ia mijar.
Em qualquer dos casos tem necessidade, quer queira-mos ou não é bom, alivia, liberta, vicia, é sempre bom também, ter vicios saudáveis. Lembrei-me ontem pela manha, de um vicio muito saudavel, que não vicia.( o vicio é algo que consome de forma progressiva, tendo como limite ou fase de não retorno, o momento em que temos vontade, de ler o rotrulo ou escreve-mos rotrulo, sem ter a preocupação de saber se é VQPRD DOC ou não ). Ter saudades, no caso, saudades da RevoltaDasSopeiras, a quem eu umildemente peço perdão por não ser politicamente correcto com acordo, por favor fazes falta neste Blog, sinto falta de te ler!

Anónimo disse...

Sem vontade de escrever, mas com vontade de dizer, não me contenho, Grito. Vai lá,vái!
Onde, onde é que eu vou? Nem eu sei, e tu vais sair de onde?, Épa atão isto está a fechar! Não mudes de assunto, Bem queres vir ó não? Aonde? Queres vir ou não! Épá demora muito? Sei lá? Quando lá chegar-mos logo vês! Mas é aonde? Por acaso é longe, mas é porreiro, Porreiro como? É fixe. É a primeira vez que ouço dizer fixe, ainda por cima com minuscula! eu nem curto o Bochechas? Bem afinal, sabes onde é eu quero ir. Sim já vi, vamos lá fazer o qeê? Queres vir ou não? Se me disseres porquê?
Não tenho Ventil, preciso de tabaco. Mas então metes os Dire straites? sim "meto". Então deixa-me ir a casa "primeiro". Porquê? quero ver-me ao espelho. Atão? atão não, atão não o qêe? vamos embora, sim tá bem, talvez eu vá, mas primeiro tenho que me ver ao espelho! ( Fui mas vim a pé. Eu é que sei )

Anónimo disse...

O Changoto é assim é o Changoto, tenho a certeza que troca como alguns, nos quais me meto, o pneu, pela vida. Mas a vida ás vezes não nos deixa mudar de "peneu", e então quando assim é, temos o dever de fazer tantas quantas voltas á pista, quantas nos for possivel, tentando fazer sempre o melhor tempo na próxima. Só nos resta esperar pela nossa vez de ir á "BOX" esperando que o nosso "campião" lá esteja, como o Pai que nos filmes em que eu acredito, espera o regresso dos Filhos, com lágrimas "dos dois lados".

Anónimo disse...

Peço emprestado o nick ao changoto, só para dizer ao pratitamem: pratitamem.

Anónimo disse...

Foi até cansativo, sem esforço, "Deu-me algum trabalho", estava já farto de olhar pra "BOX", finalmente, lá vi o meu tambem.

Anónimo disse...

Quem é que já não viu, um gajo a borrar a pintura toda? Pois chegou a minha vez. Não tenho nada contra os "Travestis" só tenho pena que não vivam todos na Ilha do alberto. Não era nada disto que eu queria dizer, era suposto fazer uma piada, á volta de uma vista de estudo em Portalegre no meu 11º, patrocinada pelo meu Excelente Prof. de Latim. Tinha a piada a ver com o Cesário Verde e o seu magistral comentário, " Bom dia Pratitamem Troca Tintas." Eu avisei, uma coisa destas pode ter tudo, menos piada.

Anónimo disse...

Ele não lhe chamou, Azul? foi não foi. Sim foi, mas vê lá é uma das cores do Arco Irís. Das conhecidas claro, ake senão éra demais. Sim claro, não fiques preocupado, o Magenta e Ciano misturado com o Amarelo, pode resultar em até 17 milhões eu disse milhões de cores, podes ainda juntar o preto. Agora se queres só mudar de pintura, podes usar, tinta:
Fotocrómica; Cromotrópica; Fosforescente;Transferível;Opticamente Variável;Pérola;Iridiscente ( Verniz) ou Metálica, bem ficamos por aqui, que a cama pode ser curta. E o curso já foi Há Bué. Ler isto num documento não é fácil, tira lá o til, não te estiques. Em qualquer dos casos queria relembrar esse Prof, que me levou a ver a casa do seu Ex Prof. José Régio e relembra-lo de que ainda me deve um almoço, por ter sido o único no 10º; que sabia que quando a letra "cái" no meio da palavra, se chama "Sincope", que é quase o meu "est´do", mudar de país é que não, viva enfim a Pátria.

Anónimo disse...

Cada um é como cada qual. De maneiras que eu vou dormir e Sonhar sobre o espectro das cores que ninguem vê. Quem sabe? sonhe com a Laurentina e tenha sonhos cor de Rosa.

Anónimo disse...

Li, gostei. Fiquei um bocadinho mais desencorranchado.

Anónimo disse...

Ser Beirão é a minha vida, sou Beirão e pronto. Nasci cerca de uma placa, que dividia a Baixa da Litural, o meu orgulo é que estáva do lado da baixa. Pois é e o resto, os meus país! éra igual cheirava sempre a Baixa. O X é teu. Mas como gosto do Lapaxeiro, digo-lhe, perdi os dois+um depois da Inspecção Militar, e quando me sentei numa aula da Universidade pela primeira vez, foi á minha pála e tinha menos de trinta, mas tinha vinte sete e era o máis novo na Turma.