terça-feira, fevereiro 06, 2007

A NOSSA FALA LXXVI - Mãos ENGADANHADAS

Naquela noite, tinha caído um códão daqueles comédado. Albertino Chinchas levantou-se cedo para cumprir o compromisso firmado com o seu compadre Mnel Alma de Sino de lhe matar o marrano, como era hábito. De Verão ou de Inverno, Albertino gostava de vir lavar a cara na água do tanque que mantinha quase sempre cheio com água do poço. Bastas vezes, no Inverno, tinha de partir o caramelo com um martelo para chegar à água, mas ele sentia um prazer masoquista quando sentia os tomates a encolherem-se dentro das calças quando mergulhava a cara na água gelada. Acreditava que o acto de coragem era significado de virilidade e que a reacção dos testículos era sintoma disso mesmo.

Ainda com as mãos engadanhadas, preparou a vianda dos seus porcos em dois caldeiros que despejou em duas pias de pedra granítica. Já a caminho da casa do compadre reparou melhor na russa reluzente que cobria os campos: "Tá cá um códão!", murmurou, o que o arreganhou ainda mais, aconchegando instintivamente o pescoço no pêlo da sobrepolis.

O compadre esperava-o com um borralho vivo onde já fumegava um caldeiro farrusco engatado nas correntes que desciam da chaminé, e com o púcaro de aguardente quente com açúcar, a fumegar. A salvação foi imediatamente seguida da oferta de uma caneca e do púcaro. Arreganhado como estava, Albertino encheu a pchorra de cogulo que sorveu em pequenos goles, concentrando-se na sensação que o líquido provocava quando passava pela gola. Havia de emborcar mais duas pchorras, em resposta à insistência da comadre e para acompanhar os manos Alma de Sino e o tio João Alma de Sino que entretanto chegaram.

O calor que as 3 canecas de aguardente quente doce lhe emprestavam às tripas contrastava com o barbeiro da rua quando se foram todos ao porco. As mãos rapidamente voltaram a ficar engadanhadas dificultando a destreza e a força que era necessária para tratar da saúde ao reco. A coisa não começou da melhor maneira porque o animal se recusava a permitir que lhe metessem o laço na boca. Albertino bem lhe coçava o coiro com um toro de giesta e lhe chamava carinhosamente "f(e)cá, f(e)cá", mas o bácoro só cedeu quando alguém se lembrou de enrolar uma couve ao cabo de aço e ele a abocanhou. Também não correu muito bem o trabalho de deitar o bicho na banca, porque alguém não fez força bastante e tombou tudo, animal e banca. Quando finalmente o mamífero omnívoro ficou (mais ou menos) imobilizado, Albertino Chinchas pregou uma valente palmada nas nalgas do suíno, como faz sempre a todos os que vai matar e aprontou-se para lhe espetar a sua navalha matadeira de tachas pretas. Aqui, a coisa não correu melhor porque, pela primeira vez na sua longa experiência, o fio da navalha não encontrava a artéria devida. Os grunhidos e as sacoladas desesperadas do animal eram dificilmente contidos pelas mãos engadanhadas do compadre e dos filhos enquanto Albertino, desacorçoado, não parava de praguejar e chamar nomes impróprios ao porco. Em desespero, forçou a mão com intenção de espetar a navalha no coração do animal, mas uma sacolada mais vigorosa fê-la largar para dentro do corpo do bicho. Nesta altura, o compadre entendeu tomar uma atitude drástica: agarrou na marreta e desferiu duas valentes carchantadas na testa do animal. Não foi por isso que a"meloreja e o arroz do osso da suã não lhes souberam bem.

O curioso desta história, diz quem assistiu, é que a navalha não foi encontrada quando se abriu o porco, vindo a aparecer dois meses depois numa saca de batatas de semente “rambana” que o Albertino comprou a um comerciante do Soito.

Esta deveria ter dado direito a choradela de Entrudo. Mas já ninguém chora o Entrudo.

9 comentários:

Anónimo disse...

Tenho essa douta conversa, na irmandade, somos seis, na verdade raramente, chegamos a acordo, mas mesmo quando discorda-mos, passamos, a mão pelo pêlo uns dos dos outros. Somos uns amigos prá sepultura. Eu vou votar sim. Mas logo valamos do resto. Agora essa mãe que assume, ter filhos, com quaze quarenta anos, depois de quatro é a mãe que sinte que esses dois, como o pai, deve ter sentido, que os sabia criar e souberam, verdade.

Anónimo disse...

Quem me manda a mim, ter amigos genero, ver depois, da noite. Eu que sei, quero ver depois esse dobro de luz, que me foi prometido!

Anónimo disse...

Obrigado, pela estória. Achei, ( acabei de tomar sentido juro. )parece que me sinto bem. Sinto a vaidade, partilhada entre amigos, não é assim muito mau, na verdade.

Anónimo disse...

Quem me dera, que a nossa vida vosse assim tão, durante 9 anos vosse assim, tão pura. Quem me dera, que esse teu Deus vosse real. Quem me dera não ter sei lá 5.000 GB de memória? Por ventura uma estúpidez. Quem me dera que a tua pintura, me curassse, ou não. O meu disco, fui eu que gravei, bem ou mal é a minha vida. Enquanto ouver, pratitamem neste blog, estou vivo ou não. Já esqueci o xp. Ou pátria ou Morte.

Anónimo disse...

Não é conversa, acho piada. Um grande amigo lá naquele centro onde eu tive, tem uma mulher casou há dois anos. Ela hoje perguntava-me ao jantar ( os pais são CB ) se eu tinha algo contra os espanhois? Mudamos de assunto. O marido nasceu lá a quatro Km deles. Eu não, ele fala melhor que eu, mas tem que me dar razão. Um dia. Eu sempre os vi de igual pra igual. Bófia, sempre oulhei igual sempre fui bom a Historia, nunca vi TVE, nunca, comi esse pão deles, sempre os olhei de igual, fui sempre respeitado? Na boa, sei mais, não compro, tratem me bem. Só o CNP aos outros nunca ensinei nada. Nunca um CNP, falou alto comigo. Mas eles falam muito alto, comigo nunca. Passei horas e horas a falar normal com muitos, ficaram amizades. Eu é que sei. Èra só o que me faltava? Na verdade essa submissão, pós Guerra civil Espanhola, tipo Salazar, ainda está presente nalguns amigos lá do sitio, espero que passe rápido. Ficaram amigos do CNP, só os bons os que nunca recorreram, a essa piada comigo, ou se deram mal. Os mais inteligentes, aqueles l´trabalham, quaze dia a dia sem esperar medalha, são de lá, esses somos amigos mesmo, verdade. Agora que todos me tratavam bem, é verdade e eu a eles, também é verdade. Agora que eu era o luis, isso era, nos amigos, estamos a falar só de trabalho. O pessoal, os tugas ás vezes ficamos entusiasmados. Na maioria uma data de tontos, que nunca soube satisfazer, uma dona Teresa.

Anónimo disse...

Qual é o problema, de ser Portugues? Durante 9 anos "explecitei", isso. Mas não é facil. nunca os olhei com olhos baixos, sempre fui respeitado. Tive bom Professor é verdade. Agora sei dizer são amigos. Verdade. Depois Chego a casa, ligo a Dois assisto á camera clara, n intrevistas, com escritores espanhois, meu deus. Grande destino. Adorei. E chega por hoje.

Anónimo disse...

Não levem a mal, vá lá. Ele pensa que tá sair do casulo? Diz que sim. Não o levem muito a sério, mas não há necessidade, de que ele repita o ritual de quando chegou há Aldeia. E ele ouviu isso, ainda antes, de saber o dia. Como se estivesse muito interessado! E o gajo não é geninho. Fez até uma conversa sozinha? pra me dar o aviso. ò meu deus. Nunca quero ser desse clube. Nunca fui amigo pessoal do Nuno nem nunca vivi em Cernache.

Anónimo disse...

Os americanos, os americanos, os americanos o Quê? Depois, iá demoras ai dois anos, beu béu, epá isso ouvi aos 18 anos ao monhé, dois dias depois de sair do paraiso. E não fiquei irritado. Certo. Como é que é possivel, porrra. Ai Aldeia, quem te fez, não era muito certo, por certo.

Anónimo disse...

Temos então um pixote de mãos engadanhadas, não é?
Julgo lembrar-que, ainda não há muitos anos, quando saía à rua na Aldeia, durante os meses de
inverno, ficava logo com as mãos engadanhadas e o nariz gelado, de tal maneira que os dedos ficavam cheios de frieiras. E bem custavam a aguentar! Mas hoje, quiçá em consequência do efeito de estufa, que faz subir as temperaturas e nos há-de assar o coiro num qualquer verão, já quase ninguém sabe o que são frieiras. Acredito que não estamos a dar a importância merecida aos problemas ambientais nem a olhar com a preocupação devida, sem alarmismos ou exageros, para a saúde do planeta.
Grão a grão enche a galinha o papo. Se cada um de nós contribuir com uma pequena acção...pode ser a simples acção de separar o lixo: vidro, papel, plástico, etc.; pode ser simplesmente a recolha do óleo de cozinha usado num frasco ou lata vazios em vez de verter no esgoto.
Lembrem-se que as consequências ambientais já se fazem sentir, como acontece por exemplo na Costa da Caparica. E afinal, se isto assim continua, que histórias contarão de nós os nossos filhos no Baságueda do futuro?