quarta-feira, maio 18, 2005

A NOSSA FALA IV - Q'ASSNÃO

Q’ASSNÃO pressupõe sempre uma proposta ou resposta afirmativa.
Q’ASSNÃO não admite alternativa.
Q’ASSNÃO pede o SIM, senão…

Isabel Maria, 6 anos, é filha de Belmiro e de Maria Isabel. O progenitor é muito amigo do banco do adro mas pouco amigo do banco da igreja. A progenitora decidira, há 2 anos atrás, ir à Matriz apenas em ocasiões especiais, vingando-se assim do povo que fez circular a falsidade de que ela, de longe a melhor fadista do povoado, entrava sempre fora de tempo nas cantigas eucarísticas.
De maneiras que a pequena Isabel Maria estava condenada a morrer à fome na fé da Igreja Católica Apostólica Romana. Salvava-a a tia paterna Maria Anunciação. Seca no trato e de carnes, Maria Anunciação ainda não tinha conhecido varão em nenhum dos seus 43 anos. Fervorosa devota de Nossa Senhora da Póvoa, da velha e da nova, ela insistia em fazer-se acompanhar da pequena Isabel Maria, na Eucaristia dominical, apesar das vergonhas por que já tivera de passar.
Isabel Maria achava divertido esconder-se na cabine confessional e cuspir através dos buraquinhos da lata por onde os pecadores relatavam as maldades que tinham feito. Também não desdenhava ir molhar as mãos na água benta e sacudi-las de seguida para cima das vizinhas de banco. Houve até uma vez que, tendo insistido por 3 vezes e por 3 vezes lhe ter sido negada autorização para verter aguinhas, ali mesmo baixou a cuequinha rosa com motivos Pokemon e fez um pequeno lapatchêro no mosaico bordeaux.
- Está quedinha Q’ASSNÃO apanhas – ameaçava-a a tia, com uma certa regularidade.
Naquele domingo, chamou a atenção de Isabel Maria a fila de gente a quem o celebrante entregava, na mão ou na boca, uma espécie de moeda alva. Aproximou-se curiosa, ficou atentamente a observar a cena até que decidiu puxar vigorosamente o paramento rendilhado do celebrante e exigiu:
- Eu também quero. Dá-me uma.
A tia Anunciação petrificou, a Ti Lurdes, que já tinha a boca aberta e a língua esticada para nela ser depositado o pão ázimo, esqueceu-se de a recolher, o povo católico presente ficou suspenso. O Senhor Prior, virou-se para a pequena e falou-lhe, bonacheirão:
- Não te posso dar minha filha. Tu ainda és muito pequenina para receberes o Senhor.
- No sei cá delas, eu também quero. Dá-me uma.
- Já disse que não posso dar-te a hóstia sagrada minha filhinha. Olha, depois de fazeres a escola de Jesus, e se te portares bem, já te posso dar…
- Dá-me uma Q’ASSNÃO nunca mai cá venho.

3 comentários:

Anónimo disse...

bem esgalhado

Anónimo disse...

eu até diria mais....bem esgalhado sim s`nhora !!

Anónimo disse...

Não sabia que o bacano, agora era "Paroco" (com pontuação), mas é verdade que uma vez, ouvi dizer que por altura da cadequese, chegou a ser saque'estão!