Desde sempre que os assuntos atinentes à
actividade sexual foram objecto de algum mistério ou ocultismo e não é menos
verdade que, pelo menos até agora, a desbragada linguagem masculina se atenua e
adoça quando elementos femininos fazem parte do adjunto. História, a um tempo
engraçada e proibitiva, contou-ma um dia o velho Pote, pescador emérito.
Gabava-se de ter um fémur de platina, só que ficava, a bem dizer, impedido de
andar muito tempo na água a orientar a posição das redes porque o frio da água
afectava o metal e Pote ficava tolhido de movimento rápido que muitas vezes era
exigido nas lides piscatórias. Via-se na contingência de levar sempre gente
nova que não temesse o frio da água, mesmo no defeso dos arreganhos, quando
nalgum meandro da baságueda se juntavam os barbiscos e era preciso entrar para
os forçar a ir para a bolsa da rede. Aí entrava eu. O peixe, de inverno, desde
que a corrente não seja muito forte e o sol bata num baixio de águas mais
calmas, junta-se em cardume. É muito mais limpo e rijo que nas calinas de verão
em que procura o fundo e se alimenta de mais lodo. Nanja disso no inverno em
que nadava à tona para sentir algum calor e as águas estão limpas por mor de
alguma enxurrada que levava toda a porcaria na frente e deixava, passados dias,
um água límpida e reluzente.
As redes usadas tinham o mesmo tipo de
alguitanas mas tinham rofo mais fundo e chumbo mais pesado. Era preciso ter
ombros para depois carregar com rede molhada, chumbo, algum lodo e o arreganho
dos peixes.
Nesse dia não foi nada mal ao velho Pote
que trouxe uns bons 30 kgs para vender porta a porta. Chico Grande, como de
costume foi o cozinheiro e fosse pela garra da juventude, fosse pelo frio que
passei nas águas da Baságueda, facto é que já depois de eles e eu termos comido
assim comédado me fui à caçola e limpei o barro. Se calhar a confecção de Chico
Grande também ajudou... Pouca gente fazia uma miga de batata e peixe como velho
cabo da guarda -fiscal.
Fomos nós, então, para as revoltas do Vale
Feitoso e é aí que o velho Pote se sai com esta:
" A tia Adelaide sentia apetites por
umas esfregadelas mas o velho Arménio até parecia que se tinha esquecido dela e
já não a procurava como antigamente quando até no chão da casa davam umas
valentes arreboladelas. Um dia, Adelaide tirou-se de cuidados linguístico e
recomenda a Arménio que vá ao médico a ver o que se passava com a marreta.
Arménio enche-lhe o corpo de tonta e malcriada, e não quer mais conversa. Só
que Adelaide não se fica e um dia que vem ao povo é ela mesma que vai ao médico
e fala da impotência de Arménio. O médico, vendo a relativa juventude de
Adelaide e, naturalmente a sua fidelidade de sempre a Arménio, receitou uns
comprimidos que, disse, deviam dar resultado e espevitar Arménio para procurar Adelaide.
Ela, no entanto, receosa do efeito do comprimido pelo caminho de regresso,
depois de sair do médico pensou em dar um comprimido ao Farrusco, cão de guarda
e, a bem dizer, elemento da família. Passou pela Conceição do Trem, comprou
umas gramas de fiambre e quando chegou a casa embrulhou o comprimido que
entretanto comprara na farmácia do dr Ildefonso num bom bocado de fiambre e
dá-o a Farrusco. Nesta altura Pote começa a rir-se porque já sabia o fim da
história... Eu é que não e só queria que ele se despachasse. Aos soluços lá vai
contando e fiquei então a saber que o efeito do comprimido no cão foi de tal
monta que à falta de cadela por perto Farrusco se atira a Adelaide,
esfarrapou-a toda e atacou-a de tal forma que quando Arménio chegou ainda ela estava
toda cambalida. Teve que contar a Arménio a causa de tanta arranhadela ,,, E
Ele «vai-te já a lavar em condicões e não digas a ninguém que isto se
passou,,,», e ela: «não pode ser...o Farrusco deu o nó e arrastou comigo rua
fora pegado a mim». O povo fez um (t)chavascal que nem queiras saber. Pote ria a
bandeira despregada e eu mantive um sorriso de incredulidade.
Não sei mesmo como raio esta história do
velho Pote me veio hoje à memória.
Aproveito para vos deixar um outro texto
que em tempos escrevi para uma circunstância também ela muito diferente daquilo
que nos trouxe até aqui. O que vos posso afiançar é que não houve nenhum (t)chavascal quando o apresentei ao meu público
alvo num entretém que me deu algum gozo fazer. Já lá vão uns anotes, mas
deixo-o tal como o produzi na altura.
ACHEGAS
PARA O ESTUDO DA APRENDIZAGEM, MEMÓRIA E ESQUECIMENTO
DISSE
SARTRE: « NÓS APRENDEMOS QUANDO TORNAMOS NOSSO AQUILO QUE É DOS OUTROS»
APRENDER
IMPLICA ALTERAR UM COMPORTAMENTO
A
QUESTÃO, AGORA PRENDE-SE COM A IMPORTÂNCIA DE RETER ESSA APRENDIZAGEM E
EVOCÁ-LA SEMPRE QUE FOR PRECISA PARA RESOLVER UMA SITUAÇÃO IDÊNTICA
QUANDO
UMA SITUAÇÃO É NOVA, EVOCAMOS TODAS AS NOSSAS CAPACIDADES EXPERIENCIAIS E
INTELECTUAIS PROCURANDO SAIR DE FORMA AIROSA.
QUANDO
NÃO SABEMOS, FAZEMOS COMO OS OUTROS (IMITAÇÃO) QUANDO A SOLUÇÃO É ABSOLUTAMENTE
NOVA E ESTAMOS SÓS TEMOS QUE INVENTAR.
SÃO
A IMAGINAÇÃO CRIADORA E O PENSAMENTO DIVERGENTE QUE NOS ACODEM.
VEM
ISTO A PROPÓSITO DE QUE O NOSSO
RELACIONAMENTO COM A REALIDADE ENVOLVENTE NÃO DEVE SER LIDA EXCLUSIVAMENTE À LUZ DOS EMPIRISTAS INGLESES QUE PRETENDIAM QUE «O NOSSO MUNDO PERCEPTIVO SERIA
UM MOSAICO CONFUSO DE FRAGMENTOS SENSORIAIS ISOLADOS MAS, ANTES, É UM TODO
COERENTE E ORGANIZADO EM QUE TODOS OS INTERVENIENTES SE INTERSECCIONAM E INTER
RELACIONAM».
TANTO
ASSIM QUE A NOSSA MEMÓRIA NÃO É APENAS A EVOCAÇÃO DO PASSADO MAS ELA
AFECTA (E DE QUE MANEIRA) O NOSSO
PRESENTE : HÁ UM CONTINUUM OU COMO QUERIA W. JAMES: OS NOSSOS ESTADOS DE
CONSCIÊNCIA NÃO SÃO CONTÍGUOS – ENTRE ELES NÃO HÁ PAREDES DIVISÓRIAS E SEPARADORAS
– E SE NÃO É POSSÍVEL REVIVER O PASSADO É POSSÍVEL RE-PRESENTÁ-LO (TORNÁ-LO
OUTRA VEZ PRESENTE NA NOSSA MEMÓRIA).
SERIA
POSSÍVEL VIVER APENAS E SÓ NUM AGORA PERMANENTE?- ISSO SERIA A CONDENAÇÃO A
VIVERMOS NUM ETERNO PRESENTE
QUEM
NOS GARANTE QUE AO ACORDARMOS NOS RECONHECERÍAMOS COMO SENDO NÓS SE NÃO FOSSE A
NOSSA MEMÓRIA?
SÓ
A MEMÓRIA GARANTE SENTIDO AO «EU». É ELA QUE PERMITE A LIGAÇÃO DO PASSADO AO
PRESENTE.
Podemos
assim dizer que são três os estádios implicados em todo o acto de memória :
(sirvamo-nos
de um exemplo citado por Gleitmann :
qual é o animal africano cujo nome tem dez letras e se alimenta de formigas?*)
É
óbvio que se soubermos a resposta então podemos facilmente entender os três
estádios processuais da memória:
1 –
AQUISIÇÃO – PARA RECORDAR É PRECISO PRIMEIRO TER APRENDIDO (quem quer que seja
que saiba a resposta deste exótico comportamento animal aprendeu-o em tempos e
esta raridade alimentar deixou uma marca forte na mnese (sistema nervoso) desse
indivíduo – é o que se chama traço mnésico;
2 –
ARMAZENAMENTO – o que significa que o dado recolhido se mantém na nossa memória
disponível para ser usado sempre que necessário;
3 – RECUPERAÇÃO – momento em que um indivíduo tenta lembrar-se, isolando de entre o
conjunto de traços mnésicos que lhe ocorrem aquele ou aqueles que servem ao
pretendido. (Convém deixar claro que muitas das nossas falhas de memória são
mais culpa da recuperação do que do armazenamento).
*aí
vai a solução: oricterope!
Há
ainda a CODIFICAÇÃO, a RECORDAÇÃO e o
RECONHECIMENTO:
CODIFICAÇÃO
– Forma como a informação foi armazenada. São variadas essas formas: pelo
impacto ou impressão forte, por exemplo, o nome Axdamanatatulha ficou-me pelo
facto de ser tão esquisito que o efeito de estranheza registou em mim este
ícone; também o significado, o interesse, a necessidade, o género sexual, e até
mnemónicas: estratégias facilitadoras de memória actualizada; a forma
organizada – ordem alfabética,...
RECORDAÇÃO
E RECONHECIMENTO – Quem ainda se não perguntou a si mesmo: onde raio deixei o
carro?
São
muitas as experiências feitas por psicólogos e é sempre preciso ter cuidado com
as explicações, porque às vezes não se trata de falta de reconhecimento mas de
incompetência natural para o desempenho da tarefa que é requerida a uma pessoa
– reprodução de um desenho visto.
A
situação mais comum é a de escolha múltipla ou a de identificação de um
determinado nome no meio de uma série deles....
Reparemos
que basta muitas vezes que oiçamos os primeiros acordes de uma música para a
reconhecermos e recordarmos no seu todo.
Alguma
história
a) em 1930 Wilder Penfield,
neurocirurgião, operou um paciente com uma epilepsia sem controlo.
b) Durante a operação, Penfield
estimula o paciente no córtex cervical; para seu espanto, o paciente, que
estava consciente, acaba por revelar que se via a correr para casa depois da
escola.
c) Foi rápida a conclusão de
Penfield: determinadas situações ficam gravadas no nosso cérebro da mesma forma
que as imagens ficam gravadas numa película de um filme ou num rolo de
fotografia.
Chamou-se a isto a teoria do Flash-back.
d)
Como não podemos passar sem o passado
somos tentados a dizer que
cada um de nós é o seu passado.
d,1-
O facto é que, demo-nos nós conta ou não, a nossa resposta a uma qualquer
situação “utiliza” a aprendizagem armazenada. O nosso comportamento é
condicionado pelo nosso passado.
d) a partir de 1970
constatou-se que a teoria de Penfield carecia de fundamento.
e) As novas tecnologias demonstraram que só e apenas quando as estimulações
atingem a fonte das emoções é que o paciente tem algumas fases de lembranças de
situações passadas.
f) Pensou-se que o cérebro era
compartimentado segundo classificações à moda de uma biblioteca ou de uma
arquivo de uma qualquer repartição.
g) Se por acaso o cérebro
sofresse alguma lesão causada por um qualquer acidente e ficasse danificado,
alguns dos ficheiros arquivados e classificados desapareceriam.
h) Assim, pensou-se
(Broca) que a recordação ou não de
determinadas situações e competências se devia a lesões cerebrais.
i) Ora esta ideia das
localizações cerebrais é contraposta por Lashley que defende que o cérebro é um
todo e pode acontecer que a lesão de determinada parte impeça a recordação mas
não impede a sua recuperação.
Por exemplo: será que uma pessoa que num momento da
sua vida deixou de identificar as cores, tem uma leitura da realidade diferente
da nossa e que ele antes também tinha?