terça-feira, dezembro 18, 2012

A NOSSA FALADURA - CLXXXIX - CÔCA

Garoto do meu tempo tinha medo da côca. Os mais velhos ameaçavam com a côca para garantir que as naturais traquinices da criançada não ultrapassassem os trambelhos. 
Tenho para mim que um dos primeiros conceitos que uma criança constitui é o de justiça. De facto se se lhe aplica um castigo, às vezes até excessivamente severo, por uma asneira que cometeu, ela suporta, esforçando-se por conter as ganas que tem de chorar, por exemplo; mas se o castigo que se lhe aplica, ainda que leve, não resultar de um acto que não seja da sua responsabilidade, aí, ela barafusta e não esconde a sua revolta.
Deixo-vos dois exemplos famosos que ilustram o que referi: o primeiro acontece no filme de François Truffaut - O Menino Selvagem - em que Victor, a criança encontrada na floresta e que não tinha comportamentos típicos de um ser humano, é injustamente metido no quarto escuro devido a uma falha que não cometera. A sua reacção deixa o professor Itard perplexo, dada a sua exuberância, acrescido do facto de pela primeira vez chorar. O segundo é narrado pela mulher do pastor anglicano de Sijn, na Índia, que também recolheu duas meninas a quem deu os nomes de Amala e Kamala e que em tudo imitavam os comportamentos da loba que as afilhou e que só as deixou partir porque a mataram. Na tentativa de conseguir um relacionamento mais próximo e de tentar que se fossem aos poucos humanizando, a mulher do pastor deu um bolo a cada uma delas, fora da hora do lanche. Como é sabido a tradição inglesa - a Índia era ainda a jóia da coroa - quase impõe que às cinco da tarde se beba o chá. As crianças da creche para onde as irmãs tinham sido levadas tinham, cada uma, direito a dois bolos e à respectiva chávena de chá. Quando o cesto com os bolos passou por elas, cada uma tirou apenas um bolo e por muito que insistissem para que tirassem outro, elas recusaram. Como já tinham comido um, não tinham direito a dois.
A questão de chamarem selvagens a estas crianças é muito discutível. Lévy Bruhl afirma mesmo que elas sofrem de uma mentalidade pré-lógica, tese contra a qual se opõe Lévy Strauss que defende que as crianças têm uma lógica própria e rejeita a defesa da mentalidade pré-lógica substituindo-a por mentalidade pré-científica. Eu vou por aqui.
O senso comum, esse saber que alguns menosprezam, pode não ser coerente, nem congruente, mas tem uma lógica. Pode contradizer-se ao sabor das circunstâncias do género: "não guardes para amanhã o que podes fazer hoje", mas também: "Roma e Pavia não se fizeram num dia" ou até o mais comum ainda "devagar que tenho pressa". Aparentemente parece alógico este modo de pensar, mas restam dúvidas de que é analógico e que a semelhança de situações conduz, por indução, às mesmas conclusões. Sempre assim foi e sempre assim há-de ser. Mainada.
As crenças movem sociedades. Desde sempre que se propalou o fim do mundo para datas fixas: o ano 4444 para Heraclito, depois as viragens dos milénios, a famosa leitura da Bíblia que levou Miller a calcular o fim do mundo para 1843 e depois para 1846 e agora o difundido calendário maia que o situa a 21 de Dezembro deste ano. O certo é que nem os desmentidos da NASA ou quaisquer outros impedem que se continue a acreditar nestas previsões e que haja mais gente do que possamos pensar a preparar-se para o efectivo fim do mundo. Parece absurdo, mas tem lógica. A lógica dos mitos e como bem diz Gusdorf , «o mito não é mito para o homem do mito».
Como se vê as côcas continuam a vigorar.
Mais grave ainda se repararmos que continuamos a alimentar fábulas. A fábula é uma fala. Fala-nos, dá-nos conselhos, chama-nos a atenção para factos fantasiosos: o Pai Natal é uma dessas fantasias e o facto é que todos os anos o renovamos.
Como o mundo só acaba para aqueles que morrerem e o pai natal  já saiu da Lapónia, aproveitai e festejai um Bom Natal. Que assim seja. Sem côcas.
XXXiiiiiiiiiiiiiGGGGrrrrrrrrrrrrrraaaaaaaaaaaaaaaaaaannnnnnnnnnnnnnnnnnnndddddddeeeeeeeeeeee

terça-feira, dezembro 04, 2012

A NOSSA FALADURA - CLXXXVIII - BABUGE(M)

Em todos os tempos houve quem vivesse à mama. Nos tempos que correm, então, é à descarada, e não é difícil encontrar quem ande sempre à babugem.
A natural tendência para a prática da 'lei do menor esforço' leva a um oportunismo desenfreado e mais ou menos a um maquiavelismo exagerado, olhando apenas para o umbigo próprio e espezinhando ou desprezando quem se oponha.
São conhecidos quantos vivem sempre à pála e, sem vergonha, aparecem depois nos MEDIA armados em consultores e pregadores de uma moral de valores, quando eles há muito que os rasgaram. São tão previdentes e tão espertos que legislam antecipadamente para si mesmos.Veja-se só quantos vivem com subsídios vitalícios chorudos, só porque andaram oito anos em algumas funções públicas...
Na sua origem a palavra ministro ,que provem do latim, significa, vejam só, servente, escravo, aquele que ajuda, e reparai  no que se transformou: aquele que manda, aquele que faz dos outros seus escravos. Afinal aquele que devia servir, serve-se. Quando deixam de exercer essas funções, já têm bem acautelado o futuro modus vivendi.: sempre à babugem.
Bem cantava a canção :CRAVO VERMELHO AO PEITO/ A TODOS FICA BEM/ SOBRETUDO DÁ JEITO/ A CERTOS FILHOS DA MÃE.
São mais que muitos os que viram  a casaca e começam a jogar noutra equipa quando pressentem que daí lhes pode vir proveito sem grande esforço. Não raro fazem gala dessa sua arte. Facto é que se safam e comem as papas na cabeça a muitos que, não tendo rasgado os valores, afinal têm muito menos valor do que os não praticam esses mesmos valores.
Coloca-se, pois, a questão do SER  e do TER. Não restam dúvidas que no mundo actual, o TER predomina claramente sobre o SER. O Substantivo, o suporte, a base, acaba por perder para o adjectivo, o acessório,o atributo. Se o significado de ministro se inverteu, o lugar dos valores também anda às avessas.
Podemos aumentar os exemplos: não restam dúvidas de que é muito mais barato um milénio de paz do que um dia de guerra. E que vemos nós? exactamente o contrário. Mais bela é a harmonia, a compreensão, o diálogo, mas temos desavenças, rixas, discussões.
Viver  à babugem é tão normal que aqueles que procuram o zeloso cumprimento do que deve ser feito de acordo com os compêndios normativos da sã convivência social acabam por ser uma avisrara, uma espécie de crocodilo na classe dos mamíferos, um nefelibato.
Um autor italiano, cujo nome não me ocorre, afirma peremptoriamente que um em cada três homens vale pouco e vive sempre à babugem. Olhai à vossa volta e vede se a terça parte dos que vos rodeiam não vive à babugem.
Embora tivesse vontade de cumprir o princípio dum amigo meu que se pauta por:«ora vamos lá a dizer mal dos outros, que eles também dizem mal de nós , quando nós não estamos», não vou trazer aqui ao basa nenhum xendro que viva à babugem. Mas que os há lá, ai isso há.
Por aqui vos deixo com um
XXXXXXXXXXXXXXIIIIIIIIIIIIIGGGGGGGGGGGGGGRANNNDDDEEEEEEEEEEEEEEE