sexta-feira, setembro 30, 2005

A NOSSA FALA XXIX - INCULCAS

Quando ouvi, pela primeira vez, o BILHETE POSTAL dos Rio Grande, com letra do João Monge, avivei a minha memória e, se houvesse discos pedidos naquela estação de rádio, teria telefonado para a repetirem. Quantos eu escrevi....quantos!
Normalmente era aos Domingos, depois de missa, enquanto almoçava, passava uma e dizia:"Eh! Rosa, precura lá ao tê cachopo, se me pode escrever umas regras prá mnha filha Zabel que stá em Lesboa". Era ali mesmo no vão da escada. A Ti Purificação metia a mão no bolso falso da saia cimeira e de lá tirava a última carta, que eu já lhe lera , por via de ver a direcção da Zabel. Relíamos a carta e começava a ditar o que queria que constasse:«Mnha crida filha, muito estimo que ao seres recebora desta te encontres de boa saúde a mais o Chico e os netinhos. Nós cá vamos andando como Deus deixa. Sempre te quero dzer que o nosso porquinho já está bem cevado e que pensamos matar lá perto do Natal. As couves estão lindas e cá andamos na apanha da azeitona. O azeite há-de chegar pra todos. O teu pai já anda a beber do vinho novo e diz que é bom. O que é preciso é que quando cá tornares vás à vila por mor do nosso chão da quelha funda que dizem que não está lá registedo.Fui lá pra pagar a décima e não me souberam dar inculcas dele.Que não existia o nosso chão. Era só o que mais faltava. Bem sabes que eu não sei uma letra e o teu pai ainda menos.
(Num àparte queriam sempre que eu dissesse quem estava a escrever a carta, já que antigamente o escrivão mor da aldeia era o ti Emídio, figura de nariz rubicundo, cor de borra de vinho, sempre encarnado, os dedos amarelos do mata-ratos e da onça holandeza, sempre de cigarrinho ao canto da boca e que , como era ele que antes do João Constâncio distribuia as cartas pelo povo - o carteiro é aquisição tardia e de luxo - sabia sempre quem devia resposta a carta recebida. Tinha ele uma livreta, como ainda hoje tem o Zé Lopes quando aponta a malta para as excursões, onde registava tudo. Escrevia lindamente: uma caligrafia, sempre com caneta de aparo, que fazia inveja até à da ti Ermelinda da lameira, que sempre chamou estampilha aos selos de correio, e que era tida como a que melhor desenhava a letra. .. Engraçado.
O ti Emídio, desde que não estivesse borracho - o que era raro - mandava hóstias na escrita! Lembro-me que o Furdas, duma vez se sai com um grito meio espanhol ao ver aquela tinta sobre o papel: cafones!!!
Sabia a vida toda da aldeia este ti Emídio que morava ali no bairro da lameira, paredes meias com o Zé Maroco, sócio cortador de cabelo e raspador de barbas, aos Sábados, do inefável Do-do-ming-gos Pa-pata- ta- nisca. Tinha em casa um arcaz enorme onde metia a semente do poia pelas barbas e cabelos do ano inteiro. O Domingos gostava mais de dinheiro: os filhos eram bastantes e a tasca do zé julho e do ti zé rolo era mesmo ali a dois passos da barbearia. Às vezes esquecia-se e o sabão secava na cara do cliente. Nada que não se resolvesse, com mais uma esfregadela da fronha com o pincel.
Voltemos ainda ao ti Emídio: ia acima do cemitério e perguntava ao Refe: já tem inculcas do seu Mário? e o Refe: anda cá a matar a bicheza! três branquinhos como a carga do moleiro e se as inculcas ainda não tivessem chegado o Refe dizia ao velho Emídio: toma lá 5 mil réis compras o papel e o sobrescrito e já sabes o que dizer a esse malandro. Se sobrar dinheiro o fatela tem lá a gaveta! Era logo: tasca do fatela, mais um cagão dos grandes, uma cigarrada e o princípio do delirium tremens. Ia ao Arplano, ali no caminho da vila e era o mesmo: mais trocos na gaveta do fatela! mais branco no fígado do Emídio. Mas dava sempre conta do recado. Voltava sempre às origens e lá saía: olhe que eu já escrevi a exigir que eles dêem inculcas do que se passa! Bem hajas, diziam invariavelmente.
Ia mesmo ao campo: duma vez foi ao Chamiço, lá para os coitos da portela, bem para lá do batcharel, bem passado o zé ferrenho e encontra-o a caminho: onde vais, ó chamiço ?- Inda bem co vejo ó snhor joão: olhe lá, os meninos quando nascem já trazem as unhas grandes? - Alguns já, responde o velho Emídio. - Oia, o meu! brada o chamiço: traz as unhas como um gavião. Ia agora a registá-lo ao Tó Robalo. E o velho Emídio: volta pra trás que eu trato disso. Atão vamos a beber um copo! Emídio estava sempre disponível . - Atão e da tua cachopa tens tido novas? -Olhe que não: aquela velhaca nunca mais me deu inculcas.
Não longe do coito do chamiço, mais perto do tiago, servia de criado o grande zé luís barata. Coitado! Tinha fome mas a Aguércia não lhe dava comida bastante. Vai daí, um domingo, quando a menina ia à missa, começa à pedrada a ela para o caminho. Menina Aguércia, clama por céu e terra e volta pra trás. Barata andava por ali: atão não vai à missa? -O Zéi tu sabes lá: choviam pedras do céu! - é-lhe bem feita! - Rais ta parta. - É o que acontece a quem é avarento. Eu aposto que se me der um bocado de queijo e uma fatia de pão, o diabo já não a atenta! - Tu achas que é o diabo, zéi! - É poi! A velha Carapita até me deu inculcas dele, que ele anda por aqui a tentar quem vai à missa e não pratica uma boa obra antes. Aquelas que fizerem o bem levam o anjo da guarda e pronto, o diabo já não as atenta! Fosse como fosse a Menina lá foi buscar a chave, abriub a porta da rede mosqueira e deu o pão e o queijo ao Barata. «Vai a ver que já passa bem a quelha! Mas tem que fazer isso todos os Domingos. Quando eu tiver inculcas que ele abalou aqui das portelas logo lhe digo,! Olhe que a Carapita é má filha da puta e conversa com ele . Até diz que está casada com o diabo!» E a menina: «O Balão parece o diabo, parece!»
Assim Barata foi comendo e Aguércia passando.
Não se esqueçam de dar inculcas!

29 comentários:

Anónimo disse...

- BILHETE POSTAL-

Espero que te encontres bem, na companhia de todos os teus. Nós cá vamos indo como Deus quer, quando mal sempre assim...

A nossa Aldeia está muito bonita e o povo anda todo muito alegre e satisfeito, mas também não é para menos, abriu hoje a caça cá na reserva da Aldeia e o Padre novo está para chegar. Por hoje chega de novidades, mandam-te todos cumprimentos e o chato do pratitamem que também aqui está, manda dizer para não te esqueceres de ir escrevendo.

Sem mais,

&.

Anónimo disse...

Changoto e Karraio há muito que se tornaram especialistas em nos darem de completamente borla bilhetes para fantasticas viagens no tempo e desta vez também não terá sido excepção...Fantastico. Mais um conto do passado , como já anteriormente tinha dito, acredito que trazer à luz lindas antigas histórias verdadeiras ou inventadas que moram dentro do nosso povo , revelam a verdadeira dimensão do verdeiro existir e pode oferecer a quem as lê , um outro olhar sobre a existência modesta , mas feliz , de como era e de como tudo se fazia antes e, quem sabe, fazer-nos compreender mais e melhor os sons e sabores da historia e ajudar-nos a que permaneçam eternamente “ vivos “.
Acerca da maneira como se projecta o passado no presente leva-me sempre a recordar de uma das mais belas cenas do cinema da década passada apareceu no filme A Sociedade dos Poetas Mortos, em que Robin Williams interpreta o papel de um professor de inglês num colégio tradicional americano. Na sua primeira aula, ele leva os alunos até a sala dos trofeus, onde também estão as fotografias das antigas turmas do colégio - todas pessoas já mortas ou já muito idosas. O professor então estimula os alunos a que se aproximem das fotos para "escutarem" o que os colegas mais velhos têm a dizer, e então imita uma voz cavernosa, repetindo várias vezes a frase “carpe diem”, que, em latim, quer dizer "vive o presente".
Sábio conselho, viver o presente. O passado pode ensinar, mas não pode ser vivido de novo. O futuro pode ser construído, mas só será vivido quando presente. Com o passado, fazemos as pazes e, se não o compreendemos bem, pelo menos podemos aceita-lo. Entrar em harmonia com as lembranças, romper as amarras, permitir-se seguir em frente e, principalmente, permitir que o passado se vá. Como dizia um poeta ,” Viver no passado é bom desde que lá não se fique a morar”

Anónimo disse...

Já agora, só uma pequena correcção sem grande importância: o título do filme é "O Clube dos Poetas Mortos". Eu, que vi o dito no cinema três vezes na mesma semana, recomendo a quem ainda não viu, que veja se puder.

Anónimo disse...

Já agora, só uma pequena correcção sem grande importância: o título do filme é "O Clube dos Poetas Mortos". Eu, que vi o dito no cinema três vezes na mesma semana, recomendo a quem ainda não viu, que veja se puder.

Anónimo disse...

Já agora, só uma pequena correcção sem grande importância: o título do filme é "O Clube dos Poetas Mortos". Eu, que vi o dito no cinema três vezes na mesma semana, recomendo a quem ainda não viu, que veja se puder.

Anónimo disse...

Já agora, só uma pequena correcção sem grande importância: o título do filme é "O Clube dos Poetas Mortos". Eu, que vi o dito no cinema três vezes na mesma semana, recomendo a quem ainda não viu, que veja se puder.

Anónimo disse...

Desculpem lá, mas estou com um tique no dedo e carreguei na tecla em demasia. O pior é que se fizerem contas ficarão a pensar que vi o filme 12 vezes na mesma semana.
Faz-me lembrar um ilustre conterrâneo que viu na televisão um jogo de futebol (as equipas não interessam, pois são sempre 22 atrás de uma bola só), em que a equipa vencedora venceu por 1-0. Sucede, porém, que na conversa de café à volta do jogo o dito conterrâneo teimava em que os golos tinham sido 3, todos da mesma equipa e pelo mesmo jogador. "Atão mas eu no vi, catrino? Eu bem vi que foram 3 golos", insistia. "Mau, atão mas no se viu bem que só foi um?", respondiam. Até que alguém lá percebeu que ele afinal viu o golo mas também o replay uma e outra vez. Arre!

Anónimo disse...

mais uma vez "estandes" de parabens estorias que nos trazem á memoria doces recordaçoes que fazem parte da minha estoria pessoal, pressonagens do passado que que construiram o meu futuro, uma vez que descendo destes....tenho pena que o bostik continu a crer ser o que provavelmente nao é mas talvez um dia....parabens pratitamem gosto da maneira como estas a escrever, angarela....boas recordaçoes quando ia buscar agua a fonte da lameira, em cima do burro...saudades que recordo...nao fiques preocupado, bostik nao estou moro passado...mas sim....algures no planeta terra aldeia do bisto pelo menos ás vezes quando lá vou.....

Anónimo disse...

mais uma vez "estandes" de parabens estorias que nos trazem á memoria doces recordaçoes que fazem parte da minha estoria pessoal, pressonagens do passado que que construiram o meu futuro, uma vez que descendo destes....tenho pena que o bostik continu a crer ser o que provavelmente nao é mas talvez um dia....parabens pratitamem gosto da maneira como estas a escrever, angarela....boas recordaçoes quando ia buscar agua a fonte da lameira, em cima do burro...saudades que recordo...nao fiques preocupado, bostik nao estou moro passado...mas sim....algures no planeta terra aldeia do bisto pelo menos ás vezes quando lá vou.....

Anónimo disse...

peço mil desculpas "Aldeia do Bispo"

Anónimo disse...

O "babado" do pratitamem, gostaria de saber, se o Códão é rapaz para um abraço ou menina para um beijinho.

Anónimo disse...

Não é que se me fez luz em pleno eclipse. Assim sendo gostaria de afirmar, que o amigo Bostik, é não só um bom amigo de muitos Xendros, como também, ele mesmo, um Xendro dos quatro costados. Essa é que é essa.

Anónimo disse...

É verdade Amiga/o Angarela, e era ele jogador da bola. Esse "estrangêro" tem lá porras!

Anónimo disse...

Changoto pede inculcas....pois bem por aqui cá se vai indo muito bem, com tão belos textos para ler não podia estar melhor.
Recordar o passado é sempre bom, às vezes bem que desejava voltar lá, nem que fosse por um só dia (como diz uma canção).
É certo que o passado só existe porque o presente o permite, o melhor é ficar por aqui !
Aproveito este "canal" para dizer olá aos meus amigos, tenho muitas saudades vossas todos os dias e gosto muitoooo de vocês... hora da lameichice....

Anónimo disse...

Sedia-me eu certo dia na esplanada do Lagar, meava o mês o Agosto, abundavam na terra nessa altura já muita donzela pronta a ser “ caçada” mas nesse dia nem vivalma nas ruas, o calor era tórrido, até doía pensar nele. E enquanto o tempo passava e a hora da caçada não chegava, bebia-se. Bebia-se e bebia-se muito até porque se fazia aquela aritmética algébrica sistema Copophe muito portuguesa de – ora agora pago eu - ora agora pagas tu .
Na altura não havia telemóvel , havia bicicleta , andava - se muito de bicicleta , uma coisa nada tem a ver com a outra , mas em Aldeia do Bispo com uma bicicleta ia-se onde ia a onda hertziana do telemóvel , até mais longe porque com um telemóvel nunca ninguém foi aos gambuzinos e em Aldeia do Bispo Juro-vos que com a tal de bicicleta foi –se aos ditos gambuzinos...EU vi. ( querem mesmo saber mais? )

Anónimo disse...

è provável que o telemovel não utilize ondas hertezianas, mas aqui para o efeito estas servem perfeitamente ou abre-se já aqui um forum acerca se sim ou não se sao contra ou a favor do Hertezianismo em Portugal.Se são favor teclem tecla 1 se são contra carregem na tecla * asterisco -- Se isto der lucro, o mesmo reverte para a compra de uma junta de bois barondos

Anónimo disse...

A bicicleta, sem duvida esteve no limiar do telemóvel, tipo, vi logo que devias estar aqui, agora vamos ali, pega na bicicleta que já estão á nossa espera. No entanto hoje em dia para o efeito pretendido, optamos pelo telemóvel, sem deixar de ter saudades da bicicleta.

Apetece-me, repetir o que dizia um poeta. "... viver no passado é bom desde que lá não se fique a morar..."

Anónimo disse...

A Lua retomou já a sua passividade relativa, todos os animais, burros achigãs, passarinhos, dormiram já duas vezes num só dia. Mas vamos com calma, não admito a nenhum ser vivo, talvez com excepção dos Ursos e Dragões que supostamente também hibernavam, não admito, dizia, que gastem mais tempo de olhos fechados do que eu, (adoro dormir) propiciando-se assim o seguinte comentário:

O meu amigo Bostik, não viu vivalma nas ruas, naquele dia quente de Agosto, quando cheguei á rua vivalma vi, encontrando mais tarde em rua contigua, uns "fantasmas" que ajudei a expulsar para as suas "Aguas" "pantanosas". Mas mais estranho é que esta terça não foi segunda nem Agosto onde é que "andandeis" Karraio?

Anónimo disse...

Amiga/o Angarela, já agora só uma pequena pergunta sem importância, o filme que viste três vezes na mesma semana terá sido no cinema "Monumental". Dead Poets "SOCIETY"? Já agora aconselho para quem não viu, Nicolas Cage em "Viver Las Vegas", Leaving Las Vegas.

Anónimo disse...

Agora que se aproximam as cinco da "matina" e o meu colega deve estar a chegar, o meu turno chega finalmente ao fim. Antes de ir para casa dormir metade do feriado, agradeço-vos a companhia nesta noite um OK pra todos e já agora, "ADONDE ANDANDEIS".

Anónimo disse...

Conquentao, Xendro, (saudosa Rouxinól), (Bostik vai aparecendo), Marouva, Álmadodiabo, Raiosmapartam, Lapaxeiro, Cadamónhe, Txêndra, Angarela, Rabana, Eumesmo, Vemdefora, Pipa de vinho, Arrotcho, Morcelão, etc. etc. etc. "ADONDE ANDANDEIS".

Anónimo disse...

Um bem haja a todos os Xendros e amigos destes.

Abraço

Anónimo disse...

O Torrão é um vigaro. O Batata é um trafulha. Vamos renovar esta merda. Fora com eles. Venha gente séria.

Anónimo disse...

Não foi no Monumental que vi o filme, embora aí tenha visto alguns. Aliás, segundo creio, na altura em que tal filme esteve em cartaz, o Monumental, enquanto Centro Comercial, ainda não existia.

Anónimo disse...

Códão -- " tenho pena que o bostik continue a crer ser o que provavelmente não é mas talvez um dia .." Explica lá isso que isso de comiserações faz mal à alma . Quando as perguntas são claras as respostas serão tb evidentemente espelho delas mesmo. Falando em espelho...a duvida será de saber quem eu sou ? ou da confusão que eu semeio daquilo que por vezes digo num tom cuja ironia nem sempre é mais apreciada ? Acontece que na vida real quem souber escrever, passar para uma folha de papel o que lhe vai na alma sabe ser outro diferente de si mesmo , não melhor , consegue ser simplesmente lapidar o diamante que havia dentro de si , consegue colocar na alma do outro sentimento q era só seu . Vejam o caso de Changoto e Karraio
Ainda falando de Karraio ,quantos dos senhores aqui não o conhecem? E não partilham momento de lazer ou momentâneo espaço de convívio? Olhos nos olhos não temos este discurso de compasso com eles No dia a dia somos tendencialmente outros. Recolhidos no silencio tornamo-nos contemplativos e meditantes , as palavras saem ..pensadas ...solteiras...solitárias mas felizes ,é a vida real , em suma na vida ás vezes estamos para cima , outras vezes estamos para baixo é como o interruptor. Mas talvez um dia ..não é Códao? talvez poi !

Anónimo disse...

Fico chateado, claro que fico chateado!

Poi, vá atão, pronto, agora temos que buer mai uma que já mandei vir. E ainda não me contaram aquela do gajo que vinha com as calças na mão. Como é que foi?

Anónimo disse...

Aproximas-te do balcão e pedes um isqueiro ao empregado. Ele, que parecia tão ocupado, pousa os copos e vai lá dentro buscar um, e isso é só porque és boa. Que esperes só um bocadinho, diz. Estás ao meu lado e espreitas-me pelo canto do olho antes de desviares a face para a insistente televisão no canto do café. Sim, já bebi seis cervejas. Sim, estou sozinho. Sim, o meu casaco já está a arrastar-se no chão. Sim, a única merda para onde estou a olhar há uma hora é um papel que diz que as bebidas são para consumo da casa. Sim, gostava de te consumir em casa, na tua, na minha, ou na de outra pessoa qualquer. O empregado demora e tu suspiras. Já lá vem ao fundo mas um colega interrompe-o. Diz-lhe que estão muitos clientes por atender, ele que se despache. Terá mesmo que se despachar, porque por seres boa interrompeu a sua lógica mecanicista da vida: a de servir bebidas a pessoas sós. Debruças-te levemente sobre o balcão, e eu apanho o meu casaco donde tiro uma carteira de fósforos. Ah, afinal eu tinha lume,

Anónimo disse...

Conheço o Hotel D. Pedro no sabugal, não é mau e a suite, tem minibar.

Anónimo disse...

Novidade era tu, não MEXERES NO CASACO, como quem vai embora, mas um bom "cráva" tem sempre lume.